Capítulo 17-o que OBSERVAR na pessoa

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ALUNA SUPERFRUSTRADA NOS ESCREVEU. Atente para isso, aluno,
pois vai cair na prova!
Sou casada há 3 anos e namorei meu marido por quase 3 anos,
entre namoro e noivado. Infelizmente, fui conhecê-lo de verdade
somente depois que casei.
Durante o namoro e noivado, conversamos sobre diversos assuntos,
nossa família, sonhos, projetos etc., porém hoje vejo que ele não
foi muito verdadeiro. O que mais me incomoda é ele não ser o líder
de nossa família.
Estamos reformando nossa casa e contratamos vários serviços, mas
o projeto está atrasado quase 20 dias. Deixei ele resolver tudo,
pois é formado em engenharia civil. Pedi diversas vezes para ele
ficar mais em cima dos prestadores de serviços para que eles
cumprissem os prazos, e me disse que eu era muito apressada,
sempre quero as coisas pra “ontem”.
Até que fiquei muito nervosa e resolvi eu mesma fazer isso. Liguei
ontem lá e cobrei meus direitos, pois havia pago e eles não haviam
cumprido. As coisas começaram a funcionar e eu o alertei que se
ele tivesse feito como tínhamos conversado, talvez já estivéssemos
morando na casa.
E agora, sempre que acontece algum problema na casa, ele me
passa o telefone pra EU ligar e brigar com as pessoas.
Creio que esse papel deveria ser dele, pois ele é o HOMEM da casa.Estou errada?
Não, ela não está errada, mas a pergunta a essa altura é irrelevante.
Ela namorou por quase três anos e mesmo assim não “conheceu” o
namorado o suficiente para evitar a frustração que está vivendo hoje. É fato
que conhecer é um processo que continua após o casamento e nunca acaba.
Até hoje eu estou me conhecendo e conhecendo a Cristiane de formas novas e
mais maduras. Mas o erro que a maioria comete no namoro é não observar o
comportamento do outro nem saber interpretá-lo corretamente. Até
conversam, mas não observam, como ela disse acima: “...conversamos sobre
diversos assuntos... hoje vejo que ele não foi muito verdadeiro”. Hoje ela vê.
Mas poderia ter visto antes.
A questão provavelmente não é que ele mentiu para ela. O que aconteceu foi
que ela presumiu coisas baseada nas conversas que tiveram. Posso imaginar:
— Quando a gente se casar, eu gostaria de morar em uma casa bem
arrumadinha — ela disse.
— Concordo. A gente pode fazer uma reforma. Como você sabe, eu sou
engenheiro civil, entendo dessas coisas— respondeu ele.
Na cabeça dela, ela já sonhava com a casa do jeito que queria, o marido
engenheiro civil cuidando de todos os aspectos do projeto e ela entrando na
casa novinha com tudo pronto ao som de música de comercial imobiliário. Só
que não foi isso que ele falou. Ela presumiu assim. E talvez você não a
culpasse de tal suposição.
A falha, porém, foi que durante quase três anos de namoro e noivado ela não
notou um pequeno grande detalhe: a personalidade passiva e descansada do
namorado. E isso, honestamente, não dá para esconder. Com certeza ele
sempre foi passivo e descansado, mesmo antes de conhecê-la. Mas ela não o
observou ou não soube interpretar o que isso significaria para ela mais tarde.
Ela, como uma mulher de atitude, decidida e de personalidade forte,
certamente iria se frustrar com um marido mais devagar, como o projeto da
reforma veio a confirmar. No sentido de atitude e iniciativa, ela, para todos os
efeitos, é o homem, o líder da casa. E agora, como pode administrar isso sem
perder o casamento e a sanidade mental? Essa, afinal, é a pergunta que
interessa.
A solução que apresentamos a ela não vem ao caso aqui1
, mas esta situação
bem típica ilustra a importância de saber observar e interpretar o que você vê
na outra pessoa.
Mantenha os olhos bem abertos antes de se casar, e meio
fechados depois.— Benjamin Franklin
Pois é, Benjamin. Infelizmente, a maioria faz o contrário: fecha os olhos
durante o fogo da paixão e só os abre depois de casados.
Namoro é tempo de olhar tudo, não de dar uma de cego!Se você chegou até aqui no livro, você já enxerga mais e melhor do que a
maioria. Mas ainda há algumas coisas que você precisa observar.
O ENCONTRO DAS PERSONALIDADES
Já explicamos em detalhes no capítulo 3 sobre a importância de um caráter
íntegro e como identificá-lo. Faça a tarefa, se ainda não a fez. Mas não cometa
este grave erro: confundir caráter com personalidade.
Caráter está relacionado às qualidades morais de uma pessoa; personalidade
está relacionada às qualidades comportamentais e temperamentais dela. Por
exemplo, você pode ter três amigos de ótimo caráter — todos igualmente
honestos, responsáveis e justos. Mas em termos de relacionamento, você pode
se dar muito bem com um, mais ou menos com outro e só querer evitar o
terceiro. A razão? Cada um tem uma personalidade diferente. São de bom
caráter, mas o temperamento e o comportamento de cada um facilitam ou
dificultam o relacionamento com você.
E mais: alguém pode ter um péssimo caráter, mas uma personalidade
superagradável. Cafajestes que o digam.
Personalidade é a parte externa de nós mesmos. Tem a ver com a maneira
que nos projetamos para os outros, como fazemos os outros reagirem a nós.
Como uma pessoa se projeta para você e como você se sente em relação à
maneira de ela ser é muito importante para o relacionamento, ainda que o
caráter seja naturalmente mais importante. Afinal, não adianta a maçã estar
vermelhinha e brilhando por fora se por dentro estiver cheia de bichos.
Dá para perceber como a coisa é delicada?
Muitos relevam falhas no caráter do outro porque ele tem uma personalidade
muito agradável. “A gente se dá tão bem!” Outros relevam uma personalidade
difícil porque veem na outra pessoa um excelente caráter.
O que você quer, idealmente, é alguém com as duas qualidades: ótimo
caráter e personalidade superagradável.
O que você não quer, em qualquer circunstância: alguém com mau caráter,
seja de personalidade agradável ou não.
O que você às vezes acaba tendo que administrar: alguém com bom
caráter, mas com personalidade difícil.
E, é claro, o seu caráter e a sua personalidade, não só os da outra pessoa,
também são partes fundamentais nessa equação.
O estudo das diferentes personalidades típicas das pessoas é algo fascinante,
mas além da finalidade deste livro. Para nossos fins, porém, vamos a uma
panorâmica essencial.
Segundo estudiosos, existem quatro tipos básicos de personalidade, que eu
rotulo assim para fácil compreensão:TIPOS BÁSICOS DE PERSONALIDADE
1. Realizadores: são pessoas que gostam de estar no controle de tudo. Estão
sempre ocupadas e atarefadas. Se você vir um Realizador parado, sem fazer
nada, cheque o pulso dele. Se quer algo feito, dê a responsabilidade para
eles. Como um rolo compressor, eles irão passar por cima de tudo e todos e
fazer o que tem de ser feito. São líderes natos.
Como interagem com os outros três: Costumam se irritar com todos eles.
Acham que os Perfeccionistas são muito devagar e detalhistas; que os
Sociais só querem saber de brincadeira; e que os pacíficos são moscas
mortas. Não ligam muito para os sentimentos dos outros.
2. Sociais: são pessoas que gostam de interagir com outras, querem se
divertir, brincar, fazer graça, rir, sair, ir para festas, estar com pessoas,
aproveitar a vida. Quando estão em um grupo de pessoas (o que é quase
sempre), são os mais falantes e os que animam os demais.
Como interagem com os outros três: Os Sociais estão sempre tentando
animar ou trazer um pouco de alegria para os outros. Costumam dizer para
os Realizadores: “Você trabalha demais, tire uma folguinha!”. Para os
Perfeccionistas: “Já está bom o suficiente! A vida é curta demais para se
preocupar se o quadro na parede está a 90 graus em relação ao chão!”.
Para os Pacíficos: “Você está triste? Aconteceu alguma coisa? Vou te levar a
um lugar que você vai adorar, é muito divertido!”. Os Sociais precisam
muito da atenção de todos.
3. Perfeccionistas: são pessoas que acham algo errado em tudo. Sempre têm uma crítica para melhorar alguém ou alguma coisa. Se você quer algo
feito direito, dê para elas. São excelentes no que fazem. Mas não espere
rapidez. Elas despendem muito tempo e energia na realização de tarefas
porque buscam fazer tudo certinho — e se orgulham disso.
Como interagem com os outros três: Ressentem os Realizadores e são
rápidos para apontar o defeito deles: “Você faz, mas não faz direito”.
Acham que os Sociais só querem curtir a vida: “Você não leva nada a sério,
por isso não vai para frente”. E se irritam com os Pacíficos, sem
necessariamente mostrar sua irritação: “Você pode melhorar, tenha mais
ambição”. São pessoas sensíveis e introspectivas, que muitas vezes
preferem fazer as coisas sozinhas.
4. Pacíficos: são pessoas que costumam se dar bem com todos, pois
priorizam agradar e conviver em paz. Não gostam de confronto e são
facilmente influenciadas a mudar seu ponto de vista ou aceitar o dos outros.
Preferem “ruminar” — analisar, ponderar as coisas internamente.
Como interagem com os outros três: Basicamente, procuram não
incomodar. O lema delas: “Não fui eu, não fiz nada, não quero problema
com ninguém, está tudo bem”.
Agora olhe novamente para o diagrama dos quatro Tipos Básicos de
Personalidade. Qual dos quadrantes mais se aproxima do seu temperamento?
Você provavelmente se identificará com dois ou até três, porém, se sentirá
mais próximo de um quadrante. A maioria das pessoas é predominantemente
um deles, secundariamente outro, seguidos de traços dos outros dois.
Por exemplo, eu me identifico mais com o perfil Realizador/Perfeccionista.
Isso quer dizer que eu valorizo muito fazer as coisas, mas fazê-las bem-feitas.
Por isso, faço o que tiver de fazer para ter bons resultados. Meu menor
quadrante é o Social.
Já a Cristiane se identifica mais com o perfil Realizadora/Social, o que
significa que ela é excelente em fazer as coisas acontecerem, se dá bem com
as pessoas, delega com facilidade e valoriza atividades de entretenimento
como recompensa por trabalhar tão duro. O menor quadrante dela é o
Pacífico.
Dá para perceber os pontos de choque de nossas personalidades?
RENATO PONTOS DE CHOQUE CRISTIANE
Realizador Nenhum Realizadora
Perfeccionista X Social
Pacífico X Perfeccionista
Social X Pacífica
Se você leu Casamento Blindado, vai entender ainda melhor este quadro
acima. Como pode ver, nossas personalidades são bem diferentes. E isso
esteve no centro de muitos dos nossos problemas de casamento por doze
anos.
O único ponto em comum que temos, em termos de intensidade, é o de
Realizador. Mesmo assim, porque a Cristiane só passou a exercer o potencial
dela depois de doze anos de casada, até esse ponto em comum se tornou um
problema para nós. Ela se sentia inútil por não estar fazendo mais do que
cuidar da casa e de mim.
Além disso, note que o perfil Social dela é o segundo mais importante,
enquanto que para mim é o último. Isso explica nossas brigas e
desentendimentos quando ela queria sair, passear, ver gente e eu queria ficar
em casa, isto é, quando não estava trabalhando.
O meu trabalho foi um grande empecilho em nosso casamento, porque eu
me dava tanto para ele e quase nada para a Cristiane. Não é difícil de
entender quando você percebe que meus dois principais perfis têm a ver com
realizar muitas coisas e fazê-las bem-feitas, ou seja: trabalho, trabalho,
trabalho.
Note que o último perfil dela é o Pacífico, o que quer dizer que ela não me
deixava em paz em meio a todos esses desencontros… Ela não é o tipo de
pessoa que fica calada quando algo não está do gosto dela.
“Ah, Renato e Cris, mas vocês conseguiram superar tudo e hoje estão muito
bem!” — você diz. Sim, de fato. Porém, não sem muita dor por muitos anos de
casamento, até que desistimos de mudar um ao outro e decidimos nos
adequar. Para que nosso casamento funcione, esse sacrifício é permanente. Na
verdade, hoje nem parece mais sacrifício, pois estamos muito bem ajustados e
aprendemos a praticar o amor inteligente. Mas ah, se soubéssemos disso
desde o namoro…
Cristiane
O que tudo isso quer dizer é que vocês têm de estar atentos às suas
personalidades e aos potenciais pontos de choque que elas oferecem. Sim,
há casais que possuem tipos de personalidade muito diferentes e, mesmo
assim, fazem o relacionamento funcionar. É inegável, porém, que
dependendo das personalidades, vocês terão de fazer algum esforço —
talvez muito ou mesmo extremo — para conviver bem. Lembra da aluna
frustrada do início deste capítulo? O que ela está vivendo são as
consequências do choque da personalidade dela com a do marido.
Você já ouviu falar no termo “incompatibilidade de gênios”? É o que se
costuma colocar nas sentenças de divórcio como causa da separação —
uma espécie de expressão curinga para justificar por que o casal não deu
certo. O que esse termo quer dizer, em muitos casos, é exatamente que o casamento não resistiu ao choque das personalidades do casal. Portanto,
não subestime a importância de aprender a lidar com isso desde o namoro.
Uma das coisas a ter em mente é que nossa personalidade é algo
praticamente imutável. Você pode até, com esforço, atenuar certos
comportamentos, mas, no geral, continuará tendo aquela personalidade
como base. Se você é uma pessoa que adora estar à frente das coisas, por
exemplo, pode, por necessidade, se esforçar para cumprir o papel de
coadjuvante, seja no trabalho, no casamento ou em outra situação social.
Mas aquilo não lhe será natural. Então, em um relacionamento para a vida
toda, você precisa aprender a não se chocar com a personalidade do outro.
Isso requer um entendimento daquela personalidade e o que é mais
importante para ela.
Por exemplo, Renato e eu somos Realizadores. Logo, nossa necessidade
principal é estar à frente de realizações que consideramos importantes. Eu
tive de aprender a não podar o desejo do Renato de trabalhar e fazer bem
o seu trabalho. É uma necessidade da personalidade dele. Mas é minha
também, e eu não sabia. Por isso, tive de me desenvolver como pessoa e
passar a realizar meu potencial. Enquanto não fiz isso, fui frustrada e o
frustrava também. Do mesmo modo, o Renato teve de entender minhas
necessidades sociais e não bater de frente com elas. E assim por diante. Foi
assim que nos acertamos.
De modo geral, estas são as necessidades básicas dos quatro tipos de
personalidade que precisam ser preenchidas para uma boa convivência:
• Realizadores: precisam de reconhecimento, elogio e permissão para
realizar seus projetos. Gostam de ouvir: “Você é muito trabalhador.
Tudo que é posto em suas mãos você resolve”.
• Sociais: precisam de atenção, companhia, aceitação e aprovação à sua
maneira de ser. Gostam de ouvir: “Você é um barato! Você alegra minha
vida”.
• Perfeccionistas: querem que as pessoas sejam sensíveis aos seus
sentimentos e opiniões; precisam de tempo para fazer as coisas
“direito”, como acham que merecem ser feitas; querem alguém que lhes
ouça, entenda e mostre empatia; e, especialmente, que sua “arte” seja
notada, afinal, se esforçaram tanto e levaram tanto tempo para realizá-
la… Gostam de ouvir: “Perfeito!”.
• Pacíficos: como não pedem muito, o mínimo que querem é respeito
por quem são. Não force demais a barra com eles. Se você passar dos
limites, não fique surpreso se eles manifestarem um lado psicopata que
a maior parte do tempo está adormecido dentro deles… “Nossa, o que
deu nele?” — é o que as pessoas geralmente comentam depois de
testemunharem um surto desses. Dê a eles espaço. Gostam de ouvir: “É
um amor de pessoa, tão bonzinho”.Todos os tipos de personalidade têm suas vantagens e seus defeitos.
Quando não sabe lidar com a pessoa, você erra tentando mudá-la e fazê-la
do seu jeito. Queremos que os outros sejam parecidos conosco, por isso
tentamos mudar o parceiro. O problema é que não funciona. Temos de
conhecer nós mesmos e também o outro; e cada um deve procurar atender
às necessidades do outro, sem tentar mudá-lo.
A chave aqui é: dadas as diferenças de personalidade, vocês estarão
dispostos a ceder e sacrificar um pelo outro durante toda a vida?
Tire alguns minutos agora e preencha o quadro a seguir com os seus tipos de
personalidade e, se você estiver em um relacionamento, os de seu
namorado(a). Baseando-se nos quadrantes explicados anteriormente, comece
com a característica mais predominante e termine com a menos presente. Daí
identifique os pontos de choque e o que eles representam para o seu
relacionamento:
VOCÊ PONTOS DE CHOQUE NAMORADO(A)
Pense em situações e experiências que vocês já viveram que exemplifiquem
as personalidades de vocês. Cite uma ocasião em que elas se chocaram:
Quais as necessidades básicas do seu tipo de personalidade? E as de seu
parceiro? (Atente para as duas primeiras que escreveu no quadro.)
Qual o tipo de personalidade menos predominante em você e seu parceiro?
Como elas podem estar afetando o seu relacionamento?
CAPACIDADE E SINERGIA INTELECTUAL
Um homem que se casa com uma mulher intelectualmente mais desenvolvida
do que ele, certamente sentirá dificuldade de lhe oferecer liderança e
segurança. Se ele se sente inferior a ela, suas tentativas de ser um bom
marido, pai e líder serão frustradas — ou por sua própria falta de habilidade,
ou por resistência dela, ou por tentar anulá-la para se fazer forçosamente
superior. O resultado, normalmente, é que ele ou se torna abusivo para tentar
dominá-la ou se abstém de responsabilidade, deixa que ela tome a frente de
tudo e se anula na relação. Seja como for, o relacionamento se tornará insustentável.
Enfatizamos, porém, que desenvolvimento intelectual não tem nada a ver
com nível escolar nem cultural. Trata-se da capacidade de agir com sabedoria
e inteligência diante das várias questões da vida. O fato de um homem ter
estudado e se formado para uma profissão não quer dizer que seja inteligente
de um modo geral. Se ele é um doutor, mas não sabe tratar sua mulher com
respeito, mostra falta de inteligência para a vida.
Por outro lado, uma mulher pode não ser diplomada, mas ter grande
inteligência e sabedoria para lidar com todo tipo de pessoa e em diferentes
situações.
Uma pessoa que erra e não reconhece seu erro, mostra que não é
inteligente. Tampouco alguém que gasta seu dinheiro sem nenhum
planejamento. E isso independe de escolaridade. Tal pessoa será uma trava
em sua vida.
O casal precisa ter uma sinergia intelectual para que ninguém sinta que o
parceiro não o acompanha nos assuntos e no modo de ver a vida. Como são as
conversas de vocês? Seu namorado(a) tem dificuldades com assuntos
intelectualmente mais profundos? Há um desejo e um esforço mútuo de
continuar desenvolvendo intelectualmente a vida toda? Ela prefere assistir a
horas e horas de entretenimento na TV e foge de qualquer leitura de
qualidade? Detesta estudar? Ele tenta podar seus sonhos e liberdade porque
teme ficar para trás?
Se você se casar com alguém que demonstra falta de inteligência, ele não se
desenvolverá nem deixará que você se desenvolva. Incrivelmente, inteligência
é ainda mais importante do que dinheiro, pois se vocês forem um casal
inteligente, vocês prosperarão juntos. Cuidado com a pessoa que pode anular
você.
Não deixe que a paixão cegue o seu entendimento. Se perceber que não há
sinergia nem capacidade intelectual entre vocês, é melhor não prosseguir.
O HUMOR
Humor aqui não se trata exclusivamente da habilidade de rir ou fazer rir, ainda
que esta seja muito importante na vida a dois. Afinal, qual outra forma de
viver juntos a vida toda? Vários estudos já mostraram que o senso de humor é
a segunda qualidade mais atraente em alguém. A primeira, obviamente, é a
qualidade do saldo bancário desse alguém… Mas agora sério: mulheres que
descrevem o que procuram em um homem para um relacionamento,
invariavelmente citam bom senso de humor como uma das qualidades
principais.
Isso tem base científica. É provado que homens que fazem a mulher rir são
vistos por ela como mais sociais e mais inteligentes, portanto, mais
interessantes para um relacionamento. E também: mulheres que riem para um
homem, seja das piadas dele ou por simpatia, são consideradas mais atraentes por ele.
Quer dizer: se você é homem, melhore suas habilidades de fazer sua
namorada rir2. Se você é mulher e quase sempre reage ao senso de humor do
seu namorado com uma cara séria e de desprezo, a previsão desse
relacionamento não é muito boa.
Mas humor é muito mais que isso. Trata-se do estado de espírito padrão de
uma pessoa. Todos podemos variar nosso humor dependendo das
circunstâncias, mas sempre retornamos para o nosso estado de espírito
padrão. Se você é uma pessoa cujo padrão de humor é reclamar, então você
pode ter momentos de alegria e satisfação, mas logo voltará ao seu estado
original de zangão. “O filme foi legal, mas foi longo demais.” “Que calor!” “A
comida estava boa, mas não gostei do garçom.” “Que frio!” Haja paciência
para aguentar você. Seu namorado(a) precisará de um curso de serviço de
atendimento ao cliente para lidar com todas as suas reclamações!
Qual é o seu estado de espírito padrão? Você é normalmente bem ou mal
humorado? Para você a vida é cheia de oportunidades, aventuras e lições ou
cheia de injustiças, dificuldades e tristezas? O copo está meio cheio ou meio
vazio?
O seu humor está relacionado à sua maneira de ver a vida e às
suas reações a ela.
Esta é uma das características mais importantes que você tem de observar
não só em você, mas no outro. Afinal, se vocês se casarem, você passará o
resto da vida ao lado daquela pessoa. Imagine aguentar alguém cujo padrão
de humor é negativo, difícil ou sempre para baixo… Ou pior: imprevisivelmente
bipolar! E se aquele ditado é verdadeiro — “se ele é assim agora, imagine
quando ficar velho” — você está perdido.
Uma pessoa cujo humor padrão é positivo, espirituoso e agradável será
excelente companhia para a vida toda. As brigas serão poucas e terminarão
com conclusões positivas.
Fique atento a isto: se depois de um tempo de namoro a companhia daquela
pessoa passa a ser desagradável para você, é hora de reavaliar a relação.
A HONRA À PALAVRA
Cristiane
Uma vez Jesus deu um ensinamento muito forte, mas que poucos
entendem e menos ainda praticam. Ele falou da importância de sermos fiéis
à nossa palavra. Vou parafrasear aqui, mas o sentido é igual. Ele disse:
Os antigos disseram aos seus pais que deviam cuidar de cumprir
rigorosamente todo juramento que fizessem ao Senhor. Mas eu
digo: vocês não precisam jurar. Qual o sentido de jurar pelo céu,
pela terra, por Deus, por sua mãe ou por sua vida, se vocês não
têm nenhum controle sobre eles? Basta que o sim de vocês
realmente seja “sim” e que o não realmente seja “não”. E digo
mais: qualquer desvio disso é porque sua palavra foi inspirada pelo
diabo.3
Uau! Tire uns segundos para digerir isso.
Você já disse alguma vez “Eu juro por *** que é verdade!”, “Juro por ***
que vou fazer…”? Ou alguém já jurou para você? Pois é, jurar é um costume
de quem quer dar uma forcinha à sua palavra. Mas se a palavra de alguém
precisa de uma força, logo, é porque ela é fraca. Se é fraca, é porque
voltou muitas vezes atrás, não cumpriu o que prometeu, mentiu, mudou de
ideia. E isso vem da pessoa, não tem nada a ver com Deus nem com a mãe
dela. Na verdade, segundo Jesus, se há alguém por trás dessas palavras
dúbias, é o próprio diabo.
Cuidado com quem muda suas palavras toda hora ou não cumpre o que
prometeu. Essa pessoa provavelmente não irá manter a palavra de
compromisso de casamento. Observe o cuidado que seu namorado tem
com as palavras e promessas, mesmo (e especialmente) as menores. Ele
marcou com você às 19 horas e chegou 20h30? Ela disse que teve de sair
com a mãe, mas depois você descobriu que a mãe estava trabalhando? Os
menores detalhes mostram o caráter da pessoa.
Quando o assunto é casamento, o que mais garante seu futuro é o
compromisso que a pessoa mostra com a própria palavra. A palavra é a
pessoa e vice-versa. São inseparáveis. Beleza e dinheiro passam. A honra à
palavra é a verdadeira beleza e o que dá segurança.
Casamento é uma forma de contrato, um pacto ou aliança. De que vale se
entre os envolvidos há alguém que não tem palavra? Esta é a razão
principal por trás dos divórcios. Foram pessoas que falharam com sua
palavra, seus votos trocados no altar no dia do casamento.
Uma vez, em meio a uma das brigas mais feias que Renato e eu tivemos,
eu disse para ele: “Se for para continuar assim, é melhor a gente se
separar!”. Na verdade, eu não queria separar, apenas queria uma reação
dele. E ele, sem hesitar, com muita raiva e firmeza, me disse: “Nunca mais
fale essa palavra! Nós nunca vamos nos separar!”.
Aquela reação dele não resolveu o nosso problema na hora, mas me deu
muita segurança. Me fez entender que, por pior que fossem os nossos
problemas, ele estava comprometido com nosso casamento. E isso nos
faria encontrar a solução de alguma forma. E foi o que aconteceu.
Quando você se casa com alguém de palavra, tem essa
segurança. Quando uma pessoa de palavra diz “até que a morte nos separe”, ela
quer dizer isso mesmo. Foi isso que Jesus ensinou. Aceitar continuar com
alguém que não honra sua palavra, que mente para você ou para outras
pessoas, não cumpre seus compromissos, volta atrás no que disse, não
está nem aí com a palavra do próprio Deus — é suicídio matrimonial. É se
casar com um mensageiro do próprio diabo. Aviso dado!
OLHO NO DINHEIRO
Você já deve ter visto uma pegadinha popular na Internet que mostra um lado
desprezível de muitas mulheres. Em uma versão, um rapaz de boa aparência
está nas proximidades de uma faculdade e tenta abordar alguma estudante
com a intenção de convidá-la para sair. Ele está de pé na calçada, encostado
em um lindo carro esportivo novinho, estrategicamente estacionado ali. Uma
moça passa e ele puxa conversa, dizendo que acaba de chegar na cidade, não
conhece nada, está com fome e quer saber se ela pode indicar um bom
restaurante para ele. “Mas tem que ser algo de primeira”, ele enfatiza. A
moça, claramente lisonjeada e impressionada com o carrão, passa a mão nos
cabelos e mantém o sorriso enquanto tenta dar direções. Ele se faz de
incapaz, diz que vai se perder e pergunta se ela não quer ir com ele para
mostrar o caminho. Esboçando uma leve hesitação, a moça diz sim. Então o
rapaz agradece e faz como se fosse entrar no carro esportivo. Só que ele dá a
volta, passa direto e vai para o carro estacionado logo atrás, que é uma lata
velha. Imediatamente, a moça desiste da ideia e segue caminho apressada.
Essa pegadinha já foi feita em vários países, sempre com os mesmos
resultados. Sim, apela um pouco para estereótipos masculinos e femininos,
mas a conclusão inevitável é: se o homem tem dinheiro, ele vai levar a garota
inocente para o restaurante, a casa, e, eventualmente, a cama. É como
alguém disse da obra “50 tons de cinza”: será que se o Christian Grey fosse
pobre, a Ana teria se apaixonado por ele?
Nunca, jamais se apaixone por dinheiro.
Problemas relacionados a dinheiro estão entre as principais razões de brigas
de casal e divórcio. O assunto é sério. A questão não é se o casal tem pouco
ou muito dinheiro — senão, não haveria pobre casado nem rico divorciado. A
questão é que poucas coisas falam mais sobre você do que a maneira como
lida com dinheiro. O que esse lado da vida está dizendo sobre você? E sobre
seu namorado?
Seu relacionamento com dinheiro revela muito sobre sua personalidade.
Como seu namorado lida com as responsabilidades financeiras? Ele paga as
contas em dia ou tem dívidas? Se sustenta, depende dos pais ou sonha em
ganhar na loteria? (Por falar nisso: homem que não se sustenta, nem tem
perspectiva de vir a se sustentar, não deve se meter a namorar, muito menos casar. Ele não é homem ainda, não importa a idade.)
Note que não me refiro necessariamente aos que não se sustentam por
dificuldades econômicas passageiras, mas aos que se mostram incapazes ou
acomodados demais para se tornarem independentes financeiramente. Por
exemplo, seu namorado pode ter um ótimo nível de vida — mas ser bancado
pelos pais. Ele mesmo não sabe trabalhar, não tem uma profissão, é
acomodado e irresponsável. Que futuro ele pode lhe oferecer?
Quando o homem e a mulher são responsáveis com o dinheiro, ainda que
comecem do pouco, eventualmente terão muito.
Educação financeira é algo que se pode aprender, ninguém nasceu sabendo.
Mas é preciso no mínimo que a pessoa seja um estudante disposto. Esta
disposição é uma qualidade importante de se observar. Se a pessoa tem a
atitude de “eu sei o que estou fazendo” quando claramente é ignorante, como
irá aprender?
Um outro fator normalmente negligenciado: observar a generosidade (ou
ausência dela) na outra pessoa.
Uma das qualidades mais belas em alguém é a generosidade com alegria.
Pessoas que têm uma atitude pobre, insatisfeita, nunca se sentem realizadas,
pois sempre querem algo que não têm. Elas não creem na abundância de
Deus. Acham que não há o bastante nesse mundo para todos e, assim, vivem
tentando tirar proveito dos outros para si. Querem guardar o que têm, pois
senão vai faltar. Desconfiam das pessoas. Têm a mentalidade da escassez.
Quando alguém está feliz, elas estão tristes, pois na mente delas não há
felicidade para todos.
Cuidado com esse tipo de pessoa. Casamento é se doar o tempo todo. Case
com alguém assim e essa pessoa estará sempre querendo tirar de você, não
dar.
Generosidade é atraente porque exala segurança. O generoso diz com suas
atitudes: “Eu creio que terei mais amanhã. De alguma forma, não irá faltar
para mim”. Isso é fé, confiança. Por isso, pessoas generosas atraem outras
para si, enquanto pessoas mesquinhas as afastam.
Ser rico é saber viver contente com o que tem sem perder a visão de
melhorar. O rico que nunca está feliz com o que tem, é pobre. Ele não tem
contentamento interior; e sem contentamento não pode haver alegria. E sem
alegria, não há riqueza. Ninguém tem a vida, os filhos, o casamento ou o
trabalho perfeito. É preciso aprender a valorizar o que se tem.
Note atitudes marcadas por egoísmo, desonestidade, mesquinhez,
desperdício, falta de controle, imediatismo, ganância, materialismo, preguiça,
falta de objetivos e planejamento, malandragem, segredos, ingratidão e
outras características que vão gritar para você: “Canoa furada!”.
CRIANDO COM A LÍNGUA
Os padrões Namoro Blindado podem dar a impressão de que você e a outra pessoa devem ser perfeitos, sem erro algum; que qualquer desvio do esperado
já é causa para terminar o relacionamento. Não é assim. Sabemos que todos
nós somos um trabalho inacabado e ao longo da vida temos muito que
melhorar.
Você precisa usar de discernimento. Uma coisa é uma laranja podre. Você
não conseguirá recuperá-la, por mais que tente. É melhor jogar fora. Outra
coisa é uma banana verde. É dura, não dá para engolir, mas com o tempo e as
condições certas, pode amadurecer e ficar muito boa. Seu namorado é uma
laranja podre ou uma banana verde?
Às vezes a pessoa erra porque é imatura, sem noção. Precisa de uns toques
para ir amadurecendo e melhorando.
Em um namoro blindado, vocês devem se sentir livres para dar dicas um ao
outro sobre coisas constrangedoras ou inaceitáveis. Se ele fala com você de
maneira áspera, por exemplo, pode ser que ele não perceba. Se veio de uma
criação em que a grosseria era a forma de expressar insatisfação, essa forma
de falar pode parecer natural para ele em um momento de raiva. Cabe a você
apontar isso. Se ele for humilde, procurará mudar.
Porém, é preciso saber criticar. Não esmague o espírito da outra pessoa nem
a humilhe. Você pode, com a sua língua, matar ou transformar aquela pessoa
em alguém melhor.
Da mesma forma que Deus criou o mundo com palavras, podemos criar um
ao outro com palavras. Elogiar alguém faz o dia daquela pessoa. Da mesma
forma que Deus criou a beleza do mundo sem esforço, podemos criar pessoas
lindas com muito pouco esforço. Tudo o que precisamos são palavras que
levantam e reconhecem as qualidades de alguém. Namorar deve ser algo
agradável e edificante. Jamais humilhe a outra pessoa.
Palavras duras são difíceis de esquecer.
Por outro lado, quer fazer a outra pessoa se sentir bem e abrir uma conversa
com tom positivo? Elogie-a.
Quando precisar criticar, saiba fazê-lo com tato. Use as palavras certas.
Reafirme seus sentimentos e compromisso e foque no comportamento, não na
pessoa: “Eu gosto muito de você e estou comprometida a fazer nosso
relacionamento funcionar. É por isso que eu não entendo por que você me
agride com palavras…”.
Também esteja preparado para ouvir. Nem sempre o que você observa é a
história completa. Julgar alguém como se você tivesse alguma habilidade
divina para entender por que a pessoa age de certa maneira é condená-la sem
nunca saber os desafios e as dificuldades que ela enfrenta.
E agora, o capítulo que todos estavam esperando. Que rufem os tambores!

namoro blindadoOnde histórias criam vida. Descubra agora