O coração tem sido um péssimo administrador da vida amorosa. Ele tem feito
um horrível trabalho nos relacionamentos. Se fosse um funcionário da sua
empresa, você o mandaria embora por justa causa e jamais o contrataria de
novo. O que ele tem feito na vida amorosa das pessoas é desastroso. E por
isso a vida a dois não tem funcionado para muita gente, porque elas têm
deixado o coração mandar.
Se por um lado a humanidade está avançando na ciência e tecnologia, no
lado do amor ela está regredindo.
A prova dessa regressão está nas estatísticas. O número de divórcios no
Brasil em 2014 foi mais que o dobro do ano 2000. Com mais divórcios, outra
tendência crescente é o “recasamento”. A cada dez casamentos realizados
hoje, dois são na verdade recasamentos, nos quais pelo menos um dos
cônjuges já veio de um ou mais divórcios. O número de solteiros tem
aumentado e já ultrapassa o número de casados, que vem caindo. Nosso país
tem 77 milhões de solteiros e 60 milhões de casados. Claramente, as pessoas
estão ficando cada vez mais desacreditadas do matrimônio, muitas optando
por uniões sem nenhum compromisso formal.
A maioria dos divórcios hoje ocorre entre casais casados por menos de oito
anos. Quer dizer, as pessoas estão desistindo fácil e rápido. O casamento tem
se tornado descartável — joga esse fora, pega outro. Isso tem dado origem a
famílias mistas, aquelas formadas de pessoas já casadas anteriormente que
trazem filhos de suas relações prévias para a nova união. Tais uniões têm taxa
de divórcio ainda maior, devido aos conflitos inerentes.
Quando o casamento enfraquece na sociedade, os problemas sociais
aumentam. Mães solteiras já são 1 em 5, o que significa filhos crescendo sem
pai. Sem modelo de um homem responsável, serão que tipo de pai e marido lá
na frente? Filhas que viram suas mães serem pai e mãe, como conseguirão
dividir a vida com um homem?
Decadência total. Regresso ao invés de progresso. Todos os dados e
evidências mostram que essa bagunça familiar é péssima para o ser humano.
Está mais que provado que um casamento sólido saudável é o que provê uma
melhor estabilidade econômica, emocional, social e de saúde para crianças,
adultos e toda a sociedade.
Mas o coração não tem deixado isso acontecer. Ele é o maior culpado dessa
baderna. E infelizmente continuará assim, enquanto as pessoas insistirem em
amar com o coração e não com o cérebro. Nossa esperança é que você demita
o incompetente. Mas se ainda não se convenceu, continue lendo.Cristiane
Uma agravante: as pessoas estão desistindo do casamento por causa do
coração, mas culpando o casamento. Por isso muitos jovens hoje já não
têm objetivo de casar. Acham que o casamento é uma instituição falida,
ultrapassada, que precisa ser repensada. Porém, a culpa não é dele. No
fundo, todo mundo quer o que um bom casamento oferece. A culpa, na
verdade, está em associar o amor com sentimentos.
Você já passou por isso várias vezes: não sentia vontade de fazer algo,
mas foi e fez, porque sua cabeça o convenceu a fazer. Como acordar de
manhã em sua cama quentinha e não sentir vontade de levantar e ir
trabalhar, por exemplo. Seu alarme soou, você acordou, mas o seu corpo
quis ficar na cama. Você ajeitou o travesseiro, sentiu o conforto da cama e
disse para si mesmo: “Só mais cinco minutos”. Mas em seguida, sua mente
começou a perturbá-lo e dizer: “Levante logo, senão vai se atrasar…
Imagine o trânsito que vai pegar se não sair cedo… E se chegar tarde de
novo no trabalho, vai ter problema…”. Daí, contra sua vontade, você
finalmente se levantou e fez o que tinha de fazer. Naquele processo, você
usou sua cabeça e não seu coração.
No trabalho, o seu supervisor chatinho e irritante, ou aquele colega pestinha
que quase sempre o trata com arrogância, vem e o faz sentir como uma
formiga com a atitude dele. A sua vontade é de lhe dar uma joelhada voadora
estilo UFC e imobilizá-lo no chão com uma chave de braço até ele bater em
desistência. É claro, ainda que você fantasie a cena na tela das suas emoções,
o seu lado racional o mantém calmo e você simplesmente responde “Sim,
senhor”. Sua inteligência sabe que, se deixar extravasar seus sentimentos,
perderá o emprego. Novamente, sua cabeça dominou seu coração.
Sabemos isso muito bem em várias áreas da vida, mas por alguma razão,
quando o assunto é relacionamento, a máxima é: “Eu não mando no meu
coração”. As pessoas têm a ideia de que o coração não pode ser mandado.
Acham que têm de fazer o que o coração está sentindo. Se o coração está
triste, magoado, lamentando “não sinto mais amor”, “não sinto mais vontade”
— elas vão e agem de acordo.
Imagine se você fosse agir assim em outras partes da vida. Nunca iria
realizar nada, manter nenhum emprego ou sair da cama antes do meio-dia. Se
podemos dominar nossos sentimentos em outras áreas, por que não na vida
amorosa? O problema está na maneira como você vê o amor.
Encarar o amor como um sentimento faz as pessoas aceitarem coisas
absurdas no relacionamento. Muitas nos procuram dizendo: “Meu namorado
me traiu, mentiu, fez isso e aquilo, mas eu o amo… O que eu faço para tê-lo
de volta?”. Elas não conseguem enxergar o ridículo que estão fazendo, como estão se diminuindo. São reféns dos sentimentos e por isso fazem qualquer
coisa por uma migalha de atenção, mesmo vindo de alguém que não presta.
O coração prefere uma boa sensação agora, mesmo que vá sofrer depois.
Faz as pessoas sofrerem “por amor” e então vai criando crenças para gerenciar
suas frustrações e justificá-las. E, é claro, a culpa nunca é dele, sempre de
outro.
Por exemplo, a mulher se decepcionou em vários relacionamentos e aí
começa a dizer: “Homem é tudo igual, só muda de endereço”. Preste atenção
nessa frase. Você não vai precisar de muito tempo para entender que é uma
afirmação falsa, uma mentira do coração. Ninguém é igual, nem homem nem
mulher. Mas com essa crença a mulher pode colocar toda a culpa no sexo
masculino e não assumir responsabilidade por suas escolhas e erros no
relacionamento. É uma mentira, mas muitas mulheres têm baseado suas vidas
nela.
Pelo coração, a pessoa se envolve com outra que já está casada, mesmo
sabendo que é errado. E ainda justifica: “Mas eles não são felizes, já não se
amam mais. O nosso amor, este sim, é verdadeiro. O casamento deles não
deu certo, não era para estarem juntos”. E para fortalecer essa ideia, o
coração também criou o mito da alma gêmea.
A ideia da alma gêmea é a ridícula crença de que existe apenas uma pessoa
nessa vida que pode nos completar, como a tampa da panela, a metade da
laranja ou a cara-metade. É claro, nem precisa ter um cérebro de Einstein,
pode ter um de chimpanzé mesmo, para perceber que esse negócio de alma
gêmea é matematicamente impossível. Para começar, o número de homens
solteiros nunca é igual ao de mulheres solteiras em nenhum país do mundo.
Quer dizer, se fosse dança das cadeiras, muita gente ia ficar de pé chupando o
dedo, porque não há cadeira para todo mundo. Segundo, logicamente bastaria
uma pessoa casar com outra que não fosse sua alma gêmea (e sim a de outra
pessoa) para desestabilizar todo o ecossistema de almas gêmeas…
Mas é claro, o coração não quer ouvir isso. Ele prefere crer que se há muitas
brigas no casamento, se a química não rola mais, se o sentimento não é mais
o mesmo do início, então é porque aquela pessoa não é sua alma gêmea. É
claro que não. Se fosse, eles nunca brigariam. Seriam um casal tão perfeito
que nem pum soltariam.
Não ria não, porque há quem baseie decisões importantíssimas em sua vida
amorosa em cima dessa crença. É uma tragédia.
Considere mais um exemplo. A moça começa a ver suas amigas e familiares
se casando, uma a uma. Daqui a pouco, ela se vendo ainda solteira, o coração
começa a cobrar: “Você ainda não tem namorado?”.
Um belo dia, ela por acaso vê no Facebook o perfil daquela antiga colega de
classe, na época gordinha e desdentada, que ninguém queria namorar.
Curiosa, pois não a vê há anos, ela vai e entra no perfil dela enquanto pensa:
“Coitada, que fim teve ela?” — quase feliz por antecipação, esperando se consolar com o destino da ex-colega. Com certeza ela está mais gorda, mais
feia e, claro, encalhada. Porém, para seu espanto, a fulana não somente está
uns 20 quilos mais magra, mas também casada e com três filhos lindos de um
marido que parece ter saído de uma capa de revista. Até os dentes dela estão
perfeitos num sorriso de orelha a orelha.
O coração sobe para 120 batidas por minuto. “Você vai ficar parada aí?” —
ele grita. Sem demora, ela busca o contato daquele cara que vive atrás dela,
com quem ela nunca quis nada, e marca um encontro. Determinada a não ficar
para trás, eles namoram, noivam e casam em seis meses. E os dois vivem
infelizes para sempre, graças ao coração bandido.
VOCÊ ESTÁ LENDO
namoro blindado
De Todomomento mais doloroso em nosso consultório CRISTIANE E EU JÁ PERDEMOS A CONTA de quantas vezes pensamos ao aconselhar casais em nosso consultório matrimonial: "Esses dois nunca deveriam ter se casado". É duro ver duas pessoas que nunca deveriam ter...