NATASHA
Quando a comida acabou, eu levantei apressada e com um pretexto para sair da vista dela, levei os pratos para lavar. A unica reação de Renato foi levantar as sobrancelhas e me olhar de cima a baixo, o que me deixou ainda mais irritada.
Não queria deixar Jack ouvindo o que minha mãe cabeça oca dizia então coloquei um dos seus filmes na TV e ele foi assistir de bom grado. Renato pareceu segui-lo com o olhar por um momento mas logo voltou a falar com minha mãe. O que eu vi foi traços de irritação por dois segundos? Não tem como ter certeza logo ele estava com a cara de paisagem novamente. Fingindo interesse por qualquer que seja a bobagem que minha mãe dizia.3
Não esqueci o quão bom ele era nisso. Fingir. Mas eu também não era? Havia fingido que não o conhecia, fingido que não entendia os sorrisos cheios de sarcasmo ou o modo que ele me olhou quando cheguei.
Nisso não eramos tão diferentes. Manter a aparência.
ㅡ Então não se fala mais nisso, está contratado!
ㅡ Desculpe, o quê?
Eu não posso ter ouvido certo. Estava tão distraída que a voz da minha mãe me tirou do estopor.
Ela se virou para mim com os olhos brilhantes e entusiasmada.
ㅡ Oh, querida, O clyde foi muito gentil em aceitar minha oferta para trabalhar como motorista particular, algo apenas momentâneo, já que ele se mudou para cá a pouco tempo.
Enquanto ela falava meus olhos aumentaram de tamanho ainda mais. Renato não olhava para mim.
ㅡ Você já tem um motorista mãe.
ㅡ Sim e mesmo que meu querido amigo ainda esteja disposto a isso, a idade não permite que ele fique disponível para mim a todo momento. Está mais do que na hora dele se aposentar, você não acha?
ㅡ Eu...hm... Não sei se daria certo.
peço com os olhos para que Renato me ajude com a desculpa para ele conseguir sair dessa bagunça sem maiores problemas mas ele não olha para mim, a atenção voltada para minha mãe.
Ele dá de ombros.
ㅡ Eu acho que dá certo.
ㅡ Então não se fala mais nisso!
Inacreditável.
Balanço a cabeça e ponho os olhos em branco. Minha presença não tinha serventia nenhuma nas decisões familiares e começava a sentir dor de cabeça. Cansada ao extremo, dou as costas para eles e vou para a sala, sentar no sofá.Jack ainda assistia ao filme e eu decidi que ao menos iria tentar me concentrar na tv, com ele.
Ele não notou minha presença , divertindo-se como estava.
Assisti todo o filme, até depois dos créditos. Meus olhos ardiam e me manter com os olhos abertos se mostrou uma tarefa difícil.
Fechei-os por um momento. Era melhor do que tentar entender o que aconteceu na cozinha. Um Renato amigável, diferente, com... emprego, e nada menos que com a minha mãe. Toda a situação era normal demais para fazer sentido.
***
Renato
ㅡ Obrigada pela noite adorável, Clyde. Tem certeza que não quer ajuda?
Ela olhou em duvida para onde Natasha e Jack dormiam no sofá.
ㅡ Não precisa, eu cuido dos dois.
ㅡ Muito obrigada. E clyde? Seja paciente com a Natasha. Ela passou por muita coisa, mas eu sei que você é... alguma coisa para ela. Chame de intuição de mãe, se quiser.
Não faz ideia de como está certa.
ㅡ Espero que ela não se zangue muito comigo amanhã ㅡ ela brincou e fez uma careta com a boca.
ㅡ Eu vou interceder a seu favor.
Fecho a porta e passo a mão pelo maxilar. Não há cicatriz porém toda a área ao redor da minha boca doía. Ao que parece sorrir de verdade é mais estressante que uma cicatriz de sorriso.
A noite foi um tremendo teste de minha paciência, com a mãe de Natasha tagarelando sem parar e eu ouvindo-a e tentando responder no mesmo nível de animação mas o esforço valeu a pena, eu consegui o que queria.
Ter a confiança da mãe de Natasha é apenas o principio, mas é uma vitoria também. Foi difícil não recordar que por causa dela eu não pude estar com Natasha no momento que ela teve Jack, e que por a interferência dela eu perdi preciosos momentos que poderiam ter sido mais aproveitados antes...
Respiro fundo.
Não irei fazer isso de novo. Não vou lá, onde meu gênio supera minhas ideias.
Irei viver o presente. Natasha está aqui agora, e eu também. Com esse pensamento sinto a raiva diminuir e se não fosse o bastante a imagem a minha frente fez o resto do trabalho. Natasha e jack adormeceram e se encontram aconchegados um no outro.
Não sei o que sentir, o que é esse aperto no meu peito quando olho para eles.
Por um lado me sinto um intruso, eles são tão bons juntos, uma familia.
Minha família.
Devagar, para não acorda-los , pego Jack nos braços, e desajeitadamente coloco a cabeça dele no meu ombro. Franzo a testa. Ele não pesa nada, e nem abre os olhos. Seguro o pacote quente e inconsciente e levo ele até o quarto que vi ontem ser o dele. Abro a porta com uma mão e com as luzes desligadas o coloco na cama.
Ele suspira no sono e meche a boca como se estivesse mastigando uma comida invisível.
é... engraçado, eu diria.
Balanço a cabeça para clarear as ideias e saio do quarto fechando a porta atrás de mim.
Na sala Natasha continuava adormecida. A mãe dela tinha razão, ela tem que comer mais.
Ela pesa ainda menos do que eu me lembrava-me, demoro no caminho apreciando te-la em meus braços. Ontem, eu não encontro palavras bonitas ou aquelas porcarias românticas para simplificar o que foi estar com ela, foi a melhor coisa que me aconteceu a muito tempo, e eu sei que foi malditamente real, eu me senti vivo, livre, no poder da minha vida novamente.
Mas ao mesmo tempo que eu retomei a minha vida, minha presença alterou completamente a dela.
Por isso quando a deixo na cama, eu não fico.
Eu, mais do que ninguém sei a importância da solidão. De colocar a mente e as decisões em funcionamento.
Então eu vou para o sofá. Com um sorriso, real dessa vez, me coloco confortável e pego o controle da TV, coloco reset e assisto o filme que eles estavam assistindo, um dos classicos!
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A Prisioneira #2 • Renato Garcia (Concluída)
FanficContinuação do livro "A Prisioneira #1". ⚠️ Sinopse contém spoiler do livro 1 (um)! Renato Nóbrega Garcia, assassino, sádico, amante... pai? Natasha descobriu recentemente estar grávida, fruto de uma relação conturbada com um homem que a palavra "fa...