De Repente Japão

Cap 14

___ Por que demoraram tanto?

___ Desculpa, é que viemos conversando no caminho e diminuimos o passo ___ Tioraka perguntou e Kaito lhe respindeu pondo as sacolas em sua mesa.
Diferente da de Kaito, a casa da Tioraka é de fato uma casa e não um apartamento.
O piso e todas as paredes em volta são de madeira, há dois andares cujo o de cima acredito serem somente os quartos.
Seus móveis e decorações são bem rústicas, mas dão um certo charme ao local.

___ Eu estou morrendo de fome ___ comentou Tioraka já se apressado em abrir as sacolas; enquanto isso, Kaito foi em direção ao armário e retirou algumas tigelas.
"Eles devem ser de fato bem íntimos para terem tanta liberdade um com o outro".

De repente o telefone tocou e Tioraka retirou o mesmo do bolso o atendendo.
Ela começou a falar em sua língua original então não pude entender.
Kaito começou a pôr as porções em cada tigela e ao terminar, Tioraka se aproximou dele e insistiu para que pegasse o telefone. A contra gosto, ele pegou, e foi para sala, enquanto nós ficamos na cozinha.

___ Eu odeio quando ele evita as ligações dela; sempre acaba sobrando pra mim ___ comentou o olhando gesticular com certa agrecividade.

___ Quem é? ___ perguntei um tanto curiosa.

___ É a senhora Kikoara. Quando o Kaito evita encontrar com ela ou atender suas ligações, é comigo que ela fala, pra tentar convence-lo a falar com ela ___ como imaginei ele são realmente muito próximos.
Se a mãe dele liga para ela sabendo que irá convence-lo, significa que a Tioraka tem um certo controle sobre o Kaito.
"Que estranho, de repente senti uma pontada no peito" ___ A situação deles é complicada ___ disse chamando minha atenção ___ Mesmo que o Kaito não queira fazer parte daquela empresa; sua mãe insiste diariamente. Ele odeia isso; mas o dia em que sua mãe não tiver mais forças pra trabalhar lá, ele terá que assumir seu posto de um geito ou de outro ___ sua declaração me deixou intrigada.

___ Oque quer dizer com "o dia em que ela não tiver mais forças"? ___ Tioraka encarou Kaito por longos segundos e então finalmente me olhou.

___ O Kaito não sabe ainda; Acho que ela não quer contar para não pressiona-lo mais do que já tem feito ___ ela parou e respirou fundo ___ A senhora Kikoara está com câncer; infelizmente seu estágio já é bem avançado; por isso ela não tem ido visitá-lo recentemente ___ Eu não sabia oque dizer. Kaito já havia perdido seu pai e agora perderá sua mãe, o mais revoltante é que Tioraka não lhe disse a verdade; Kaito tem que saber, ele precisa vê-la e aproveitar o tempo lhes resta.

___ Temos que contar pra ele, o Kaito precisa saber disso e ficar coma a mãe dele antes que. ___ Tiora me interrompeu puxando meu braço pois já estava indo em direção à ele.

___ Não. Nós não podemos. A senhora Kikoara me fez jurar que não diria nada; ela está tentando convence-lo a ir vê-la pessoalmente já que sua condição não permite que ela venha até ele; mas todas as vezes em que se encontraram, ela lhe pedia pra voltar e assumir a empresa, por isso ele se recusa a se encontrar com ela; mas de qualquer forma, ela quer contar tudo pra ele pessoalmente, então por favor não diga nada à ele ___ Tioraka me implorou; mas oque eu poderia dizer, e como diria?
Sei que esse assunto não é da minha incumbência, mas esconder algo como isso parece tão errado quanto injusto. A cada não que ele diz à ela, é um momento a mais que eles perdem ___ Selenya, por favor ___ outra vez implorou.

___ Sinto muito ___ sem ter mais oque dizer ou sequer conter minha agonia; dei-lhe as costas e saí.

Minutos depois de sair, meu celular tocou centenas de vezes, era Kaito.
Eu quis atender, mas não sabia oque dizer. Eu poderia simplesmente esquecer e ignorar tudo oque aconteceu, mas como faria isso?
Como Tioraka consegue esconder isso com tanta naturalidade?
Como eu consegui agir com tanta naturalidade diante da loucura que me fez estar aqui?
Como eu posso estar tão tranquila em saber que meu pai está triste por minha causa, e que mesmo estando no lugar em que desejei, nunca vou encontrar minha mãe.
"Eu simplesmente não sei".
Outra vez meu celular tocou e dessa vez não era Kaito, mas sim Lian. Sem esperar mais o atendi.

___ Oi

___ Você está chorando ___ Não foi uma pergunta, mas uma afirmação. Lian sempre reconhece minhas emoções mesmo por um simples "oi"; essa é uma coisa que ele e o Kaito tem em comum ___ Oque houve? ___ mesmo que eu tentasse mentir e dizer que está tudo bem, ele saberia que não é verdade.

___ É difícil dizer. Não é assunto meu, mas me deixa triste de qualquer forma ___ respondi secando as lágrimas. Pelo seu silêncio, sei que compreende minha situação e por tanto não fará mais perguntas. Ele sabe que sou emotiva mesmo com assuntos alheios ___ Por que me ligou agora? Aí deve ser de madrugada

___ E é, mas minha prima chega aí amanhã; ela vai levar suas coisas e preciso do seu endereço ___ Eu concordei e lhe dei o endereço do Kaito.

___ Eu tô sentindo a sua falta ___ declarou em um suspiro.

___ Eu também sinto muito a sua falta

Falei com Lian por quase uma hora; perguntei sobre o meu pai e ele disse que estava tudo bem; que ele ainda ia para o trabalho todo dia de manhã e voltava no mesmo horário, como de costume.
Mas Lian também disse que seu olhar tinha mudado, parecia mais solitário e triste.
Isso me abalou; eu já sabia, conheço meu pai; nunca brigamos dessa forma ou ficamos separados por muito tempo. Estou aqui a pouco tempo e ainda tenho muito mais pela frente.
Só espero ter forças pra continuar.