Após longos minutos sentada em uma cadeira no corredor do hospital; finalmente vi o Kaito sair junto do médico; eles conversavam baixo e Kaito parecia ficar ainda mais desesperado a cada segundo.
Por fim, o médico pôs a mão em seus ombros e então compreendi a situação.
Assim que o médico se afastou e Kaito se encostou na parede deslizando lentamente até o chão, eu me aproximei e sentei ao seu lado. Ele tinha a cabeça entre as pernas e levou um certo tempo para que a erguesse e me olhasse.
Aquela era a primeira vez que o via chorar; algo que me partiu o coração; seus olhos estavam cheios de dor, e eu podia sentir.___ Ela quer falar com você ___ disse com um olhar temeroso.
Eu não entendia a razão de ela querer falar comigo, mas eu iria.
Me levantei com o coração apertado por ter que deixá-lo naquele estado.
Antes que pudesse abrir a porta, Kaito me parou pondo sua mão em meu ombro. Me virei imediatamente em sua direção e pude ver algo bem mais profundo que apenas medo em seis olhos ___ Assim que você sair; por favor, escuta oque eu tenho pra te dizer ___ ele não estava simplesmente pendido, ele estava implorando.
Fiquei aflita e temerosa; um arrepio enorme me paralisou, porém, ao soltar meu ombro, senti meu corpo novamente, e antes que perdesse a coragem, entrei no quarto.Então a vi, deitada naquela cama com vários aparelhos ao redor e agulhas em seus braços.
Quanto mais me aproximava, mais eu sentia que o chão em baixo de meus pés caia, em um enorme buraco que parecia não ter fim.
Eu não entendia porquê tudo tinha que ser dessa forma, porquê eu tinha que passar por tudo isso, ter que esperar tanto tempo, e no fim, pela primeira vez, em todos esses anos, ver a minha ...___ Mãe ___ um palavra dita, uma lágrima que escorria.
Ela estava lá, sorridente e com um olhar esperançoso.
A mulher que sempre quis conhecer; a mulher que nunca esteve presente na minha vida; a mulher que abandonou aqueles que a amavam; a minha mãe.___ Você cresceu bastante ___ disse em um fio de voz.
Eu não podia me mexer, meus pés estavam presos no chão ainda próximo a porta ___ Seu pai me manda fotos suas todos os anos no seu aniversario, mas não é a mesma coisa; ver você aqui, é muito melhor. Você está muito linda Selenya ___ a cada palavra, eu sentia minha alma gritar, um desejo imensurável de correr e uma dor insuportável rasgando meu peito.
Eu não conseguia falar, e era difícil até mesmo respirar, mas eu tinha algo muito importante pra dizer e precisava encontra minha voz.___ Por que? ___ quase sussurrei. Ela fechou fortemente os olhos e então mais lágrimas caíram. Após longos minutos, ela voltou a me olhar e então pediu que eu me aproximasse.
Tentei juntar força nas pernas, e me aproximei, sentei me ao seu lado na cama e olhei atentamente cada detalhe em seu rosto, cada ruga, cada sinal, cada pequeno fio de cabelo branco.___ Meu pai nunca amou a mim ou a minha mãe. O casamento deles foi exatamente igual ao meu, um negócio. Mas eu tentei, e lutei pela minha vida. Fugi de casa e me mudei pra Nova York; lá eu conheci um homem maravilhoso que me deu carinho, amor, e uma família que.
___ Que você abandonou ___ a cortei já não podendo mais ver o seu sorriso enquanto listava todas as coisas que abandonou.
___ Eu não tive escolha
___ É claro que teve; todo mundo tem escolha. Mas eu desejei estar aqui e desejei ouvir isso de você, então pode continuar; eu vou ouvir tudo, e depois irei embora ___ após um longo silêncio gritante; ela finalmente conteve seu choro, e voltou a me olhar.
___ Você tinha seis meses quando a deixei. Foi a coisa mas horrível que eu já fiz, isso arrancou meu coração que mesmo hoje ainda sangra. Eu não vi você crescer, não ouvi suas primeiras palavras ou os seus primeiros passos; não pude cantar pra você ou te ensinar a andar de bicicleta ___ eu tentava segurar as lagrimas, mas era impossível; eu tentava me mecher, mas não conseguia; eu queria ir embora, mas não podia. Eu precisava ouvir isso, e eu sabia ___ Quando meu pai me ligou e disse que minha mãe havia morrido, eu acreditei. Eu vim pro Japão, e a primeira coisa que vi ao abrir a porta, foi minha mãe. Ele me prendeu e disse que o único jeito de eu poder ver você, seria dizendo "sim" ao casamento com Kikoara ... Ele nunca me deixaria voltar, mesmo que para me despedir, eu sabia disso; mas também sabia, que poderia convence-lo a me deixar ver você de outra forma ... Após dizer "sim" ao casamento, meu pai permitiu que eu ligasse para o Carlos; ele entendeu que eu não tive escolha, e propôs me enviar fotos suas em todos os seus aniversário. Eu sinto muito por tudo isso Selenya, mas eu não tive escolha, eu.
___ Já chega. Eu ouvi a sua história e isso é o bastante; mas não diga que você não teve escolha. Você podia ter ido me ver depois que seu marido morreu; você podia ter ido lá e dizer a mesma coisa que está me dizendo agora; mas você ficou aqui, se escondendo atrás do medo e da incerteza ___ me levantei arrastando toda força que me restava, eu precisava ir embora; mas parei no instante em que toquei a maçaneta; respirei fundo e me voltei à ela, caminhei em sua direção, e me debruçei sobre ela em um abraço caloroso; um abraço de mãe; o abraço que tanto esperei, o calor com qual tanto sonhei.
Senti lágrimas descerem pelo meu rosto em um misto de alegria e tristeza, algo incontrolável.
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De Repente Japão
RomanceSelenya sempre foi uma garota carinhosa e extrovertida. Mas ainda pequena, ela foi abandonada pela mãe sendo criada apenas pelo pai. Seu maior desejo sempre foi encontrar sua mãe e descobrir o real motivo de ela tê-los deixado. Após anos, ela desco...