Capítulo II - Sonho sombrio

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A escuridão começou a desaparecer à medida em que Ismael recuperou sua consciência. Por algum motivo, ele já estava em pé. Nem sequer parecia que um relâmpago quase havia o atingido.

Ainda mais anormal que isto, era o local onde o jovem havia acordado. Os prédios de sua cidade natal tinham sumido. Os céus eram mais escuros, e eram de cor laranja ao invés do habitual azul.A terra onde seus pés pisavam era uma espécie de areia bege, e ela se estendia até o fim do horizonte, formando um gigantesco deserto.

O ambiente não se assemelhava com nada existente na Terra. O adolescente podia sentir que onde quer que estivesse, era bem longe de sua casa.

— Que lugar é esse? — Ele perguntou a si mesmo em seus pensamentos. Foi quando notou que não estava dominando seu próprio corpo. Suas ações eram ditadas por alguma outra coisa, mas sua mente podia processar e ver tudo que estava acontecendo, como se ele fosse um espectador.

— Isso só pode ser um sonho. — Se fosse realmente, era o mais lúcido e real que ele teve até então. Seu corpo caminhava em direção a um penhasco, que ficava logo após uma duna. Ao longo do trajeto, ele sentiu sua mente ser inundada com sentidos completamente novos.

— O que é isso? Que sensações são essas!? Merda, minha cabeça! — Mesmo sem seu controle físico, a torrente de informações que passava por sua mente lhe causou uma sensação dolorosa horrenda, como se fosse uma forte enxaqueca. A dor persistiu até que ele chegou na beira do precipício, onde se podia ver uma gigantesca cidade em chamas.

Era um panorama perturbador. Mesmo com sua percepção afetada, Ismael estava com sentidos muito mais aguçados do que um humano normal, e ele pode ver multidões de seres mortos. Não eram humanos, mas sem dúvidas seres vivos. Seu sangue corria pelas ruas, pelas ruínas das construções, até o ponto de formar pequenos rios nas avenidas maiores. As vítimas haviam sido assassinadas brutalmente, e os pedaços de seus corpos estavam espalhados por toda a região.

— Meu Deus... isso não pode ser verdade. — Ismael ficou aterrorizado com a vista, mas não podia parar de olhar, pois suas ações não estavam sob seu controle. Depois de alguns segundos fitando a civilização extinta em sua frente, o foco de sua visão se desviou, até que ele pode focar em três pessoas que estavam à sua direita.

Três mulheres estavam ao seu lado direito, contemplando a mesma coisa que o adolescente estava vendo a poucos segundos atrás. Eram belas adultas maduras cujas vestes consistiam numa esquisita peça única de roupa negra, com várias linhas que emitiam uma luz vermelha brilhante ao longo da superfície do tecido. O que mais o surpreendeu, no entanto, foram seus rostos.

Eram rostos extremamente semelhantes aos de Vivian, Gabrielle e Ana, mas adultos, com a única diferença significante sendo seus cabelos. Todas elas tinham cabelos vermelho escarlate, como o sangue humano, e a expressão em suas faces era de uma frieza desumana.

— Quem... quem são vocês? — Quanto mais olhava para aqueles rostos, mais sensação de sobrecarga na mente do espectador aumentava.

— Não. Pare! Chega disso!! — Ele gritou em sua mente, enquanto a cidade destruída retornou para seu campo de visão e sua mão foi apontada para baixo. Neste momento, Ismael pode escutar a voz do ser que sua consciência assistia.

— Nossa missão foi concluída com sucesso. Agora podemos apagar esta dimensão. — Uma bizarra energia correu através de seu braço e se condensou na palma da mão estendida. Ainda que estivesse confuso, o jovem foi capaz de perceber que aquele poder quase imensurável podia de fato varrer da existência tudo que existia em sua frente.

— Não! Você vai destruir tudo!! Pare!! — Os gritos foram em vão. A energia foi disparada em direção à metrópole arruinada. Após um forte clarão, Ismael finalmente acordou, quase saltando de sua cama no processo.

Os Celestiais do Apocalipse - Prólogo da DevastaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora