Maio de 2014
Londres não era meu sonho, mas pelo menos estava a um oceano dos Estados Unidos. Aqui eu serei livre para ser eu mesma, sem amarras.
Sem família.
— Sabe que ainda faltam três meses para o início das aulas, certo? — Willow me pergunta enquanto caminhamos pelo campus de Oxford durante o sábado a tarde.
— Eu só queria dar uma olhada.
E é mesmo só uma olhada. Willow é britânica, nós nos conhecíamos virtualmente, e quando eu consegui minha carta de aprovação em Oxford eu corri para cá para encontrar um apartamento para morarmos juntas quando as aulas começarem. Depois vamos seguir viagem para a Ásia com um grupo de amigos.
— É minha mãe. — Willow diz quando o telefone toca e eu assinto enquanto ela se afasta para atender.
Me sento em um dos bancos e tiro meu celular da bolsa. Um cara do outro lado começa a tocar algo em seu notebook, uma mixagem. Eu sou uma fã de música eletrônica e a desse cara é boa, tem uma transição perfeita e parece ser original. Ele se apressa e coloca um fone grande para deixar o som apenas para ele.
Eu o observo enquanto ele morde seu lábio olhando a tela com atenção e quando ele sorri com alguma coisa. Aliás, é um sorriso de matar.
Ele começa a guardar suas coisas no momento em que Willow volta para mim.
— Vou ter que estar em casa hoje a noite, jantar de família. — Diz fazendo uma careta.
— Isso é um saco.
Não, eu tenho a melhor família do mundo. Pais maravilhosos, amorosos, uma irmã companheira, uma grande empresa da família. Eu amo estar com eles, mas então eu comecei a sentir como se não pudesse saber quem eu sou longe deles ou dos planos deles. Como se eu fosse apenas a filha, a irmã, a futura dona de metade da empresa, a futura esposa de alguém. Mas e o resto? Tem mais coisas que eu posso ser, tem que ter.
— Você está ok em ficar no hotel essa noite? — Willow me pergunta.
— Claro. Vou ficar com minha companheira, Netflix.
Me levanto para continuarmos a andar e é então que noto que o "senhor sorriso incrível" já se foi, e também que o celular dele não foi junto. Olho em volta procurando por ele enquanto caminho até onde ele estava sentado e pego o celular.
— Droga. O cara sentado aqui esqueceu. — Digo olhando para a tela e quando encosto meu dedo nela o WhatsApp aparece.
Willow ri.
— Quem usa celular sem senha?
Eu uso, eu estou prestes a dizer a ela quando o celular se apaga anunciando sua falta de bateria.
— Eu vou carregar isso e escrever para alguém no whatsapp, e então eu vou saber como encontrar o dono. — Digo colocando o celular na bolsa. — Acho mesmo que cansei de andar e vou ter tempo de conhecer Oxford depois.
— Muito tempo. Essa é como sua nova casa, garota.
O jeito como "garota" soa no sotaque britânico me diverte e eu pego o braço dela.
— Vamos lá pedir um táxi.
Chego no quarto de hotel vinte e cinco minutos mais tarde, largando o casaco na cama e indo até o telefone pedir serviço de quarto. Eu estou faminta.
Quando termino o pedido me lembro do celular em minha bolsa, eu preciso o devolver. Testo meu carregador nele e a mágica acontece, a tela acende sinalizando que está sendo carregado, mas ele ainda não está ligado.
Eu estaria louca se fosse eu a perder o meu celular. E, por falar, nele preciso responder meus pais e minha irmã. Não posso passar quase o dia todo sem dar notícias, eu nunca tinha saído sozinha ou viajado sozinha, e eu recém completei dezoito anos.Londres é como imaginava? Espero que esteja se divertindo. Você devia ter me esperado chegar para ir.
É a mensagem de Sarah, minha irmã mais velha. Saí para Londres três dias antes dela chegar da universidade em que acabou de se formar. Resumindo: agora ela será uma participante ativa do conselho da empresa.
Sinto muito, queria vir logo, os bons apartamentos perto de Oxford serão alugados logo e eu não posso perder a chance.
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Todas as batidas imperfeitas
RomanceOlivia Hill precisava dos quatro anos da faculdade em Oxford para descobrir quem é longe da sua cidade natal e da sua família, e se isso significa ir para outro país ela está de acordo. As escolhas, as pessoas que aparecem em seu novo caminho é como...