• Tentações •

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"Vigiem e orem para que não caiam em tentação..."

Cada segundo que passava naqueles poucos metros quadrados fazia meu coração bater mais forte, um tambor surdo no peito. Eu sabia que ele me observava, esperando alguma palavra. O ar parecia mais pesado, como se a própria sala estivesse se comprimindo ao nosso redor, como se ela mesma quisesse extrair de mim alguma confissão, algum remorso.

— Lauro,... – começou ele suavemente, rompendo o silêncio – você sempre foi um rapaz tão exemplar, uma pessoa adorável. – fez uma pausa misturada a um profundo suspiro – Mas tenho visto uma sombra nos seus olhos, uma angústia que você tenta esconder. Sei que não é fácil viver conforme os mandamentos, especialmente quando se sente... dividido. O que está acontecendo, filho?

Meus olhos estavam fixos no chão, meu coração apertado. Eu não queria falar. Não sabia como. As palavras estavam presas na garganta. Minha vontade era dizer "Perdoe-me, pastor, eu... perdi a cabeça. Não vai mais acontecer.", mas nada me fazia abrir a boca.

O pastor suspirou.

— A igreja é um lugar de refúgio, Lauro. Mas também é um lugar de confrontação. Confrontação com nossos próprios pecados, nossas próprias fraquezas. – Sua voz se suavizou, mas manteve um tom firme – Eu não sei o que você está enfrentando, mas sei que é algo profundo. Talvez você precise buscar a resposta onde sempre encontrou conforto: em Deus.

Eu assenti lentamente, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam escapar. Eu queria acreditar que a resposta estava ali, naquelas paredes sagradas, mas uma parte de mim se sentia perdida, desconectada.

De fato, não conseguiria dizer uma só palavra naquele momento. O medo de contar era maior que a amargura de guardar aquilo só para mim. E que amargura senti durante todos esses anos. Aquilo me corroía por dentro.

Lembro-me da primeira vez que senti...

Apaixonei-me por um dos meus amigos da época. Eu não sabia o que fazer, estava à beira da adolescência deparado com um sentimento totalmente novo, o qual ninguém havia me avisado que sentiria. Claro! Ninguém prepara seus filhos pra isso, principalmente naquele tempo.

Em casa, meus pais nunca falaram sobre, na igreja muito menos. Parece-me que tinham medo, como se falar sobre aquilo fosse produzir um efeito contrário ao que se queria. Eu tive que enfrentar sozinho aquilo tudo. Vi-me em frente a uma batalha, sem preparo algum para enfrentá-la. Em uma das minhas mãos havia o medo de enfrentar aquilo e na outra a vontade de mergulhar, de ir fundo sem ligar pra nada. Mas como? Eu pensava em Deus e em meus pais. Como faria isso com eles?

Porém o sentimento gritava, era desesperador. Até em minhas orações eu evitava tratar daquele assunto com Deus. Demorou um bom tempo até que eu conseguisse desabafar com Ele sobre aquilo tudo.
Eu dizia "Senhor, eu não consigo. Tira isso de mim, tira do meu coração.". Cinquenta por cento da minha oração era isso, e os outros cinquenta era pedido de perdão.

— E então? – perguntou novamente.

— Eu... – olhei o relógio pendurado atrás dele, onze e cinco, podia ouvir o som do ensaio do conjunto ao fundo. – Eu não consigo! – levei as mãos ao rosto, querendo esconder o choro de qualquer forma.

Foi em vão. Eu chorei como criança. O pastor apenas colocou uma das mãos sobre a minha cabeça e fez um carinho.

— Está tudo bem. Não precisa ficar com vergonha de falar, eu sei que é difícil, filho. – fez uma pausa – Às vezes, carregamos coisas que só nós e Deus sabemos. E eu entendo que não queira compartilhar isso. Mas não acha que falar te deixará melhor? – ouvindo aquelas palavras, eu enxuguei as lágrimas.

[EM REVISÃO] O Fruto ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora