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"Não julgueis, para que não sejais julgados."

Ela apenas secou as lágrimas que desceram e me olhou, tentando forçar um sorriso. Mas eu sabia que algo lhe angustiava. Até já imaginava o que poderia ser.

- Nada, amigo! Apenas fiquei triste pelo projeto não ter dado certo.

- Eu sou teu amigo há bastante tempo. Sei quando mente pra mim. - respondi.

- Tá! Mas... - secou um pouco mais - me promete uma coisa?

- Sim, claro!

- Que vai me dizer a tua também.

- A minha o quê?

- Tua angústia. Sou tua amiga há bastante tempo. - eu não consegui sorrir. Nem sei com que cara fiquei.

Ela usara a mesma arma que eu, mas se referia ao que eu tinha falado anteriormente. Não acreditou que o castigo que eu falava era do fracasso do projeto. E algo me dizia que ela já suspeitava de mim, por eu ter me aproximado de Daniel. Eu tinha que tomar uma decisão antes que algo pior acontecesse. Antes que todos começassem a suspeitar de mim, dessa nossa amizade repentina; de eu ter me afastado de algumas pessoas só para estar com ele. Com certeza, era por isso que Carol suspeitava de nós.

- Carol... eu... - me interrompeu.

- Amigo, não precisa ser agora. Eu só quero que me prometa. - ela tocou em minha mão dessa vez.

- Tá bom, Carol! - disse, com os olhos fixos no teto do meu quarto. - Agora eu não consigo..

- Eu entendo. Mas vou te falar... - seus olhos se encheram de lágrimas - o que me aflige. - eu assenti com a cabeça - É sobre o meu relacionamento. - eu levantei e sentei na cama - Não tá dando certo há algum tempo. Eu tenho... tenho sofrido muito com isso. Tu não sabe o quanto pedi a Deus que me ajude com isso. O Mizael não muda. Já dei todas as chances possíveis, mas não vai. Ele é bruto e continua me tratando com impaciência. E... - parou para chorar mais um pouco - Eu encontrei uma coisa.

- O quê? - indaguei.

- Mexendo no celular dele, vi uma foto. - seu choro ficou mais intenso.

Eu me aproximei mais dela e a abracei. Ela soluçava em meus braços. E tudo por causa daquele idiota que já tinha aprontado tudo com ela. Eu não conseguia entender por que ela continuava com ele, sendo que a primeira vez que se deixaram foi para que ele pudesse ficar com a ex. E fez questão de passar de mãos dadas com ela em frente a Carol. Mas algumas semanas depois eles voltaram a namorar. Eu confesso que fiquei um pouco triste com ela, por aceitar aquilo. Aceitar aquela vergonha e aceitar ser tratada com aquela raiva toda que ele demonstrava ter. Às vezes, a tratava mal em nossa frente, e nem se importava. Ela, claro, ficava morrendo de vergonha com aquilo. Terminaram ainda umas três vezes, e sempre reataram.

- Calma, amiga! Que foto foi essa?

- Era ela, Lau. A mesma. A de sempre. Que vive infernizando nossa vida. - disse, enquanto tentava secar as lágrimas, - Era uma foto dela totalmente... - parece que as palavras haviam a engasgado, não queriam sair da garganta - toda... nua. Tu acredita? - mais lágrimas desceram.

Eu fiquei sem saber o que dizer após aquilo. Era o ápice. Mizael havia acabado com a vida de Carol. Ele tinha conseguido tirar o foco dela de todas as coisas da igreja. Se ela faltava tanto era por culpa dele que nem sempre estava lá. Quando ia, queria se sentir o dono da razão com tudo, e colocava uma máscara de cristão exímio. Era, na verdade, uma farsa, como muitos dali. Com isso, fiquei pensando se eu também não seria uma farsa. Colocava uma máscara de um cristão verdadeiro, que era limpo de qualquer coisa mundana, mas, na verdade, era só uma máscara, igual a do Mizael. A igreja está cheia de pessoas mascaradas, tentando aparentar algo que elas não são e vivendo uma hipócrita vida dividia em duas: uma santa na igreja e outra corrompida na rua. Essa era a vida de Mizael, e, acho que a minha também.

- Carol, por que tu continua com isso? Não acha que já está na hora sair disso?

- Eu sei, Lau. Eu quero... Tu acha que eu nunca quis? Acha que eu não reconheço todo esse mal que me faz? Eu sei disso. Eu quero deixar ele. Mas... Eu não consigo. Quando ele me deixa, eu fico bem no primeiro dia, mas depois vem a solidão. Vem a falta dele e as lembranças do que vivemos.

- Ai, minha amiga!

- Eu estou completamente dependente dele. Não consigo mais deixar ele ir. Por mais que ele cometa todos esses erros e faça essas burradas, eu não sei viver sem ele. - mais soluços.

- Carol, olha para mim! Tu precisa tomar uma decisão. - ela ficou me olhando - Eu já teria feito isso... teria mandado ele ir embora da minha vida. Isso só tá te fazendo mal. Ele recebe fotos dela, sabe lá se ele não manda também.

- Sim... Quando... vi a foto, Lau, eu fui ver se tinha alguma conversa.

- E aí?

- Eu encontrei. - fez uma pausa para chorar mais - Se tu visse o que eles falam.... Eu chorei tanto vendo aquilo. Ela mandou apenas uma, mas ele... ele mandou mais de uma foto, Lau.

Eu a abracei novamente e ficamos assim até que ela se acalmasse mais. Ela não tinha falado nada para o Mizael, fingiu que não viu nada. Ficou com aquilo por duas semanas, sofrendo sozinha. E eu só conseguia pensar sem entender no motivo para Carol não colocar um fim nisso, e deixar esse sofrimento para trás. Na igreja, tinha meninos bem melhores que ele.

À noite, fomos para o ensaio na igreja. Eu não tive nenhuma notícia sobre Daniel, mas ele sabia do ensaio. Eu estava ansioso para vê-lo, mas como tive que ir com Carol, não pude passar por sua casa. Mais cedo, quando nos despedíamos, eu disse a ela que conversaríamos mais lá no ensaio. E, para isso, chegamos um pouco mais cedo, abrimos a igreja e entramos. Antes faltavam duas pessoas para completar o total de atores necessários para a peça, e, com a saída inesperada de Jonas, precisaríamos de um milagre para levar adiante.

- Eu decidi, Lau. Hoje, quando cheguei em casa, fui orar. Queria uma resposta de Deus, e uma vontade começou a ser gerada em mim, bem maior que das outras vezes. - dizia ela.

- Nossa, Carol! Estou impressionado. Tenho certeza que Deus vai te ajudar a passar por isso.

- Sim! Irei me dedicar mais, eu esqueci da igreja e das coisa de Deus. Deixei tudo por causa do Mizael. Mas agora eu só quero fazer o que é certo.

- Fico feliz, minha amiga! E eu estarei aqui para te ajudar também.

- Eu sei, Lau. - ela desviou seu olhar de mim e voltou novamente com rapidez - Mas... e enquanto a ti? Ainda não quer falar sobre aquilo? - ela falou.

Meu coração acelerou, tive a impressão de ter ficado alvo, como se o sangue fugisse do meu rosto e das minhas mãos. Aquele assunto me deixava bastante tenso.

- Ah!... Carol, eu... - não consegui completar a frase. Duas mãos surgiram cobrindo meus olhos.

 Duas mãos surgiram cobrindo meus olhos

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[EM REVISÃO] O Fruto ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora