• Tensões •

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"Depois de algum tempo, Amnom, filho de Davi, apaixonou-se por Tamar..."

Daniel compareceu ao seu primeiro ensaio da peça. E, como sempre, todos estavam atrasados. Fomos os primeiros a chegar na igreja, então ficamos sentados conversando.

- Decorou alguma das falas? - perguntei.

- Sim! - ele respondeu.

- Sério?! Ótimo, então! Parece que tu será um ótimo ator. - sorriu.

Ele voltou seus olhos para o papel que tinha nas mãos. Tentava memorizar um pouco mais das falas. E assim ficou por longos minutos, enquanto eu continuava a observá-lo. Dessa vez eu não o desejava, apenas me culpava por sentir aquele sentimento horrível por alguém tão exemplar. Uma pessoa que só queria fazer seu papel de servir a Deus acima de todas as coisas, e não se corromper com as coisas do mundo. Que pessoa horrível eu era por ter desejado estar com ele e ter algo a mais. Acabava sempre me sentindo a pior pessoa do mundo.

- A gente não pode começar? - disse ele, arrancando-me do silêncio que se havia instalado ali.

Tentei arrumar os pensamentos e quis me concentrar na pergunta dele. Mas eu estava profundo demais na minha mente, no meu automartírio, que não entendi.

- O quê? - perguntei.

- Não dá pra começar só nós dois? Eles já estão bastante atrasados. Eu quero fazer antes que cheguem, assim tu vê logo se estou fazendo certo ou não.

- Não sei se dá, porque precisa dos outros personagens. E... - ele interrompeu.

- Vem logo! A  gente ensaia somente as minhas partes. - olhou para o papel - Parece que a primeira é com a Tamar. Tu faz ela. Vamos! - ele segurou minhas mãos e me fez levantar, depois colocou a mão em minha cintura e me levou até o centro do local onde iríamos ensaiar.

- Tá bom, então! - respondi.

- Vai, é tu que começa.

- Tá. Oh! - comecei - Como me verei livre do jugo destes pecados? Dessa infâmia que corrói minha carne e separa a minha alma da presença de Deus? - viro-me para Daniel- Acaso tu não tens vergonha de desejar tua própria irmã? Deus não se agrada.

- Como terei? - disse ele, e logo consertou - Como poderei ter se dia e noite tu me atormentas com a tua presença? A vergonha que tenho é de não te ter em meus braços ainda. Tá certo? - perguntou.

- Tá! Continua.

- Venha, meu amor. Deita-te comigo de pressa!

- Não posso, irmão! Isso é um pecado contra Deus e contra a nossa família. Papai te procurará desde as mais altas montanhas às profundezas do mar.

- Isso não é um pedido, Tamar! É uma ordem!

Ele estava sentado sobre um banco que simbolizava a cama. Eu sentei lentamente, olhando em seus olhos, enquanto suas mãos tocavam em meu rosto, acariciando-o. Eu estava em completo transe, não consegui parar aquela cena, eu queria deitar nos braços dele, com a desculpa de que a peça pedia isso. Ele em momento algum pediu que parasse, e, então, eu continuei caindo sobre ele. Fui caindo e caindo mais e mais até que um enorme barulho fez com que eu saltasse para trás.

- Oi! - disse Maria ao passar pela porta.

Meu coração quase saiu pela boca. Fiquei pálido, como se estivesse cometendo um crime seríssimo. Mas talvez fosse mesmo. Um crime contra os céus, contra Deus. Daniel ficou apenas sentado, ele não estava a fazer nada de errado, então não tinha porque ficar estérico como eu.

[EM REVISÃO] O Fruto ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora