• Abominável •

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"Se um homem se deitar com outro homem como quem se deita com uma mulher, ambos praticaram um ato repugnante. Terão que ser executados, pois merecem a mor­te."

O escuro do meu quarto se jogava sobre mim e me deixava ainda mais atormentado com o que eu acabara de ouvir. Estava tão atordoado que conseguia ouvir as nervosas batidas do meu coração que irregularmente pulsava.

"Ele sabia de algo e não quis me dizer o que é. Com certeza, é isso. Alguém contou a ele. Mas quem? Ninguém sabe sobre mim", fiquei pensando por horas.

Quando decidi parar de me indagar sobre isso e ir dormir, já era bem tarde. Mais de duas da madrugada. Mas eu não conseguia parar de pensar em como ele poderia ter se despedido de mim com um beijo apaixonado. Mais uma vez havia me puxado para perto dele e me dado um abraço daqueles bem apertados que somente ele sabia dar.

Dormi.

- Tá bom assim? - perguntou Daniel, fazendo com que eu tirasse minha atenção de Carol.

- Tá, sim! Tu já decorou toda a fala, só falta ter um pouco mais de expressão. - falei.

Eu olhava em volta e não entendia como tinha ido parar ali tão rápido. Carol me ajudava a arrumar algumas cenas que precisavam ser revisadas. Lucas ensaiava com Carlos e Daniel, e todos os outros tentavam decorar suas falas. Era um acontecimento perfeito. Nunca havíamos ensaiado com todos os atores de uma só vez, e, embora ainda faltasse dois atores para completar o total de personagens, eu estava muito feliz com o que via ali.

Olhei para Lucas, que parecia bem à vontade, como se não fosse uma das pessoas que eu menos queria ver ali. Desde cedo, vem me tratando muito bem, como se fosse meu amigo. Daniel, de vez em quando me olha e por duas vezes deu uma piscadela. Eu apenas sorria rapidamente para que ninguém percebesse essa cumplicidade amorosa. Acho que até Carol tinha percebido, porque olhava para mim e sorria também, como se tentasse afugentar qualquer resquícios de que ela sabia de algo, mas, pelo contrário, era o que a entregava.

- Acho que precisamos de uma pausa, Lau! - disse Daniel se jogando sobre mim.

- Precisam mesmo, Dani! - eu disse, tentando afastá-lo o máximo que podia.

Lucas apenas sorriu ao ver aquilo, e, então, eu percebi que realmente havia algo estranho. Todas as vezes que Dani fazia algo comprometedor, Lucas me olhava com aquele olhar julgador e satírico. Parecia me apedrejar em sua imaginação, jogando na minha cara que ele tinha razão, que nós éramos aberrações dentro da igreja. Porém, ele se comportava de forma surpreendente e começava a ganhar minha confiança. Acho que ele havia percebido que o que havia entre o Dani e eu era apenas amizade, apesar de eu não sentir só isso.

- O Dani está bem à frente dos outros, né? - disse Carol.

- É! Quem diria que ele fosse decorar tão rápido suas falas.

- Claro! Já disse que quando me comprometo com algo, gosto de fazer certo. - disse ele, todo empolgado.

- Ele faz tão certinho que Tamar tá até se interessando. - disse Lucas.

Todos ficaram eufóricos, perguntando para Maria se era verdade. Começaram a rir e a brincar com os dois. Eu fiquei sério, tentando entrar na brincadeira. Mas por se tratar de Dani, acabei ficando sem graça, com cara de ciúmes. Vi que Carol e Lucas ficaram observando o meu jeito tímido de lidar com aquela situação. Maria e Daniel estavam morrendo de vergonha, ficaram vermelhos como um tomate.

[EM REVISÃO] O Fruto ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora