• Conversões •

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"O caráter do perverso é maligno. Caminha de um lado para o outro murmurando atrocidades..."

Era a quinta noite seguida que eu sonhava com alguém me beijando, e por incrível que pareça meu subconsciente só me fazia sonhar com homens. Sonhei com Carlos, Dani, Jonas e até com Lucas por quem eu nunca tive qualquer resquício de desejo. Porém, uma questão foi levantada com esse sonho: o motivo da implicância de Lucas comigo. Se com o Anderson era porque ele sentia algo, o que poderia ser com Lucas? Poderia ser a mesma coisa?

Daniel foi para todos os cultos e programações seguintes, bem como aos ensaios da festa. Eram os últimos ensaios e nós começávamos a ficar estranhos neles, pois nos sentíamos indignos de estar ali. Na maioria das vezes, saíamos da igreja e íamos para a mesma casa de sempre fazer o mesmo de sempre. Às vezes, ficávamos só observando as estrelas, procurando constelações e tentando ver meteoritos cruzarem o céu, mas isso era só quando eu dormia em casa, pois passei a dormir na casa dele também.

- Promete que não vai me abandonar? - perguntei depois de uma exaustiva noite de amor.

- Não sei se seria possível. Ainda não tenho certeza se é isso que quero!

- Mas a gente já tá fazendo isso há tanto tempo. Como pode dizer isso?

- Não sei! Dorme! - ele respondeu grosseiramente.

Sentia-me a pessoa mais confusa da face da Terra. Eu não sabia o que fazer com essa situação. Eu o amava, e por causa disso deixava ele ser assim. Um amigo ficante que parecia não gostar de mim, e que estava comigo, mas talvez fosse só pelo mero prazer passageiro. Apesar de agir dessa forma, ele gostava de estar comigo, e de me beijar. Gostava das noites que passávamos juntos. Tinha dias que até me fazia muito bem, muito feliz. No entanto, era passageiro. Quando ele não estava bem, eu não podia sequer falar.

Mas eu tinha a total convicção de que o tempo mudaria isso. Que de uma hora pra outra ele chegaria perto de mim fazendo declarações e dizendo que sempre me amou. Até porque nós já estávamos ficando há meses, eu já tinha me acostumado com a ideia de termos algo mais sério. Mas pra ele, não. Fui tão fundo nele, tentando achá-lo no meio daquela confusão, mas só consegui me perder por lá também. Como pode alguém amar tanto uma pessoa a ponto de se deixar ser apenas um capricho dela? Eu amava estar com ele, e ser dele. Só importava o fato de eu pertencê-lo. Mas isso não é tudo.

Certa noite, enchi-me de coragem e comecei a tão inquietante conversa.

- Por que tu é assim comigo?

- Assim como? Eu não te falei desde o início que eu era assim?

- Mas eu não aguento mais te ver me tratando mal. No início não era assim, nossa amizade era tão bonita.

- Então para de ficar comigo e vai embora! - fez uma expressão debochenta que me machucou todo por dentro.

Ele sempre me tratava dessa forma, e eu sempre terminava a conversa contra a parede. Porque eu dizia várias vezes que me importava com a gente, tentando fazê-lo mudar essa forma de ser, mas ele sempre vinha com esse discurso. E eu estava preso a isto, sem força nenhuma para sair.

Não sei como isso foi acontecer, um relacionamento que começou de maneira tão bonita, agora era apenas um relacionamento tóxico. Por vezes eu pensei em deixá-lo e voltar para a minha antiga vida de cristão exímio ou quase isso, mas logo um sentimento enorme se apoderava de mim e me fazia voltar atrás. Eu o amava como nunca amei ninguém.

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⏰ Última atualização: Jul 30, 2020 ⏰

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