• Amizades •

11 3 0
                                    

"...a alma de Jônatas se ligou com a de Davi; e Jônatas o amou como à sua própria alma."

Tudo ficou escuro, enquanto eu acariciava aquelas mãos, tentando decifrá-las. As mãos eram difíceis de serem identificadas, mas o perfume era inconfundível. Um cheiro que me perseguia dia e noite desde que o conheci.

Uma das primeiras coisa que me deixava completamente preso a alguém era o cheiro. Podia ser o perfume que a pessoa usava ou mesmo o cheiro natural que ela possuía. Era logo entranhado às minhas narinas e ali ficava durante muito tempo. Às vezes, eu o sentia no meio da rua e começava a procurar seu dono, mas era em vão. Era uma ilusão do amor, ele nos prega essas peças. Eu, apaixonado, não fico no meu estado normal, acabo vendo a pessoa em todo canto que vou, mesmo sem ela estar ali.

- Daniel?

As mãos saíram do meu rosto e lentamente meus olhos foram voltando a enxergar corretamente. Carol observava sem muito entusiasmo, e, então, eu virei bruscamente.

- O que tu quer aqui? - perguntei ao ver quem era.

- Ah!!! Confundiu, né? Ele tá lá na frente, acabei de segurar a mão dele.

- Para de encher o saco dele, Lucas. Vai procurar o que fazer.

Lucas continuou rindo por eu achar que ele era o Daniel. O fato de ele ter segurado a mão do Dani acabou trazendo o perfume junto, e me fez pensar que era ele. Mas odiei saber que não era.

- Eu vim ajudar! Vocês não estão precisando? - disse ele.

- Não! - respondi.

- Espera, Lau. Do que tu tá falando, Lucas? - disse Carol.

- Eu soube que vocês estão precisando de pessoas para a peça. Estou me candidatando a uma vaga.

- Não é qualquer idiota que pode entrar, não. - eu o encarei.

- Lauro, ele tá certo! Nós estamos precisando. Se não conseguirmos mais pessoas, a peça vai por água abaixo. - disse Maria, que tinha acabado de chegar.

- Mas ele vai fazer o quê?

- Como o quê? Temos três papéis vazios. Ele pode entrar no lugar do Jonas. Os outros podem ser descartados, mas o do Jonas não.

Eu olhei para Lucas e em seguida para a porta. Daniel, Carlos e Sávio entravam. Eu nunca pensei que Lucas fosse querer fazer parte da equipe teatral. Talvez aquilo fosse para zombar mais de mim, ele estaria por perto durante a semana toda.

- Vocês que sabem! - eu respondi.

Todos aceitaram que Lucas fizesse parte da peça teatral. Afinal de contas, nós não tínhamos condições de ficar escolhendo. Lucas estava, estranhamente, se dispondo a ajudar, para que a peça não fosse para o fundo do poço.

Às vezes, no meio do ensaio, eu me pegava olhando para Daniel. Observando cada detalhe de seu corpo e de como se comportava, como falava, como sorria. Eu adorava cada gesto que ele fazia. Para mim, tudo nele me fazia o amar mais ainda. Tentava ao máximo não pensar nisso, principalmente porque ensaiávamos dentro da igreja, e, para mim, era um pecado ficar pensando nele ali naquele local sagrado. Eu não podia brincar com Deus daquele jeito. Tudo bem que fora dali eu pensasse algumas vezes nele, mas ali não. Era isso o que eu ficava pensando por um longo tempo. Mas eu sempre acabava olhando para ele, e todos os pensamentos voltavam à minha mente de novo. Como não pensar? Ele era capaz de mexer com cada célula do meu corpo. Eu parecia um satélite girando em torno de seu planeta, sendo completamente dependente dele. Mas tinha medo que alguém percebesse meus olhares incontroláveis; que vissem como eu o via com ternura e paixão. Claro que Lucas sempre via isso, mas ele era o único até agora. E ninguém levava muito a sério o que ele dizia. Então ele poderia falar pra quem ele quisesse, não faria muita diferença.

[EM REVISÃO] O Fruto ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora