"O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia."
Minha barriga gelou.
As pernas começaram a tremer, aquela sala se tornou pequena demais para nós. Nenhum de nós dois disfarçava o nervosismo que sentíamos. Sua respiração ofegante entregava seu desespero ao falar sobre aquele assunto comigo.
- Algumas... - ele me olhou e voltou seu olhar à mesa, rapidamente - pessoas estão... falando coisas de vocês.
- Que tipo de coisas? - eu pude notar o meu nervosismo em cada som tremido que saía da minha boca.
Um som vindo de dentro da igreja nos fazia lembrar que o culto acabava de começar. Porém, nós ainda estávamos travando aquela difícil conversa. Abner, sem experiência, não sabia como lidar com aquelas situações. No máximo, iria pedir que eu me afastasse de Daniel ou que segurasse mais a barra em relação à nossa amizade. Mas não teria qualquer conselho sobre vencer esse sentimento, sobre fazer algo que viesse funcionar, porque eu já tinha tentado todos os métodos cristãos, e nenhum havia dado certo.
- Eh!!! Olha, Lauro, eu nem deveria estar te chamando atenção. Tu é grandinho e sabe o que faz. Mas... - ouvi um suspiro trêmulo - a amizade de vocês tá estranha. Entende?
- Não! Eu... não entendo. O que tem de errado com a minha amizade com o Dani? - enchi-me de coragem e fixei meu olhar nele.
- Tem muita coisa, Lauro. Me contaram que vocês andam muito juntos. E que vivem de papinhos para onde vão.
- Desde quando isso virou um problema entre amigos? - eu estava com vontade de chorar, mas controlei.
- Desde que eu soube do teu problema, Lauro. E... - ele me olhou e parecia que pela primeira vez não estava nervoso - e não é só eu que venho notando como vocês se tratam.
- Meu problema? - meu coração acelerava cada vez mais, eu já suava frio - Que problema, Abner?
- Eu soube logo quando assumi a liderança do conjunto. É meio que um protocolo o antigo líder ou pastor dar algumas orientações para os novos sobre algumas pessoas específicas.
- Eu sou uma pessoa específica? - abaixei a cabeça, olhando para a rudeza da mesa a minha frente. Sentia meu rosto arder de vergonha.
- É, sim! Tu sabe que Deus não se agrada, Lauro. Deixa eu te mostrar uns... - ele já folheava a bíblia, procurando o que eu já sabia que iria me mostrar, quando o interrompi pondo minha mão sobre ela fazendo com que a fechasse.
- Eu sei... já li todos! - disse de cabeça baixa.
- Tá! Vou ser mais claro contigo! - guardou a bíblia - Eu percebo as coisas, principalmente quando sou conscientizado sobre o caso. E quando não percebo, alguém me diz.
- Fuxiqueiros! - falei.
- Alguns, sim. Outros só estão preocupados contigo, Lauro. - Ficamos por algum momento sem dizer absolutamente nada - Quer me dizer alguma coisa?
Eu o olhei rapidamente antes de voltar a fitar a mesa novamente. Lembrei-me de quantas vezes pensei em ter esse tipo de conversa com alguém, que fosse ele, o pastor ou algum amigo meu. Lá, parecia tão fácil abrir a boca e contar tudo; dizer do meu drama, do sofrimento que eu tinha que enfrentar diariamente para me manter bem. Não era tão fácil assim, ainda mais com Abner, alguém que eu não tinha tanta intimidade. No entanto, aquela era a oportunidade perfeita para eu conseguir um confidente. Eu sabia que uma hora ou outra eu teria que contar para alguém sobre eu ser assim. Diferente do que muitos imaginam, não foi uma fase, e muito menos um sentimento pecaminoso que passaria com a constante oração. Era eu, minha forma, meu modo de ser. Eu começava a ganhar conhecimento sobre isso.
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[EM REVISÃO] O Fruto Proibido
RomanceCapa feita por: @pequena_boneca007 Este não é um livro sobre uma história de amor entre dois homens, vai além... é envolvente e rigorosamente pensado. Um jovem cristão, fervoroso em sua missão de evangelizar, vê sua fé e determinação desmoronarem qu...