• Segredos •

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"Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser revelado."

Acordei em casa, na minha cama. Fiquei durante alguns minutos olhando para o teto, tentado lembrar como vim para casa.

Lembro-me de estar na igreja; do relógio aumentando meu medo de que Daniel não fosse e, pela primeira vez, me deixasse sozinho. Lembrei-me de chorar, das lágrimas molhando minhas mãos, e de, logo depois, Carol sentar ao meu lado. Seu colo, meu rosto em seus ombros e mais nada. Não havia lembranças de eu ter vindo por conta própria. Como eu cheguei em casa?

- Já acordou? - disse minha mãe.

Virei-me lentamente, desgrudando o fixo olhar das telhas acima de mim. Então a vi entrando em meu quarto. Estava com um copo de leite em sua mão. Pela sua cara, eu tinha aprontado alguma coisa na noite passada.

Minha mãe quase nunca se preocupava comigo, talvez por causa da minha autonomia prematura. Desde cedo eu tomava decisões para a minha vida que, às vezes, deveriam caber a meus pais. Porém, eles sempre confiaram em mim, por eu nunca ter dado trabalho algum. Sempre fui um filho de dar orgulho e não dor de cabeça. Quando decidi ser cristão, eles meio que não gostaram muito da ideia, mas logo se acostumaram  e viram que aquilo me fazia muito bem. Depois, me transformei em um adolescente com a cabeça de um adulto. Mas, às vezes, isso era um pouco problemático, por acharem que eu nunca precisava deles e me deixarem de lado.

No entanto, ao ver minha mãe entrar no quarto com a expressão de preocupação, um frio correu por minha barriga. Ela só ficava preocupada quando realmente era algo muito sério.

- O que aconteceu? - perguntei.

- Tu foi para a igreja ontem, e voltou desmaiado. Fomos ao hospital e o médico falou que era só um desmaio. Tu só precisava descansar um pouco. Não lembra? - perguntou ela.

- Eu acordei em algum momento?

- No hospital! Depois disso viemos pra casa, e tu dormiu.

- Desmaiei na igreja?

- Foi! No meio do culto! - ela sorriu.

De repente, fiquei imaginando o alvoroço que causei lá. Eu saindo carregado da igreja no meio de um culto. Que vergonha eu sentia. Sentei para tomar o leite que ela trouxe e deitei novamente, logo após ela ter se levantado para sair.

- Carol tá aqui, acabou de chegar. Quer que ela entre? - perguntou ela, antes de fechar a porta.

Eu assenti com a cabeça.

Carol entrou. Estava com os braços cruzados e com a mesma expressão que a minha mãe. Fiquei me perguntando se realmente elas carregavam aquela expressão ou era apenas a minha mente criando coisas onde não havia. Ao pensar nisso, lembrei de Daniel. Por vários momentos, eu achava que ele que dizer algo; que sentia o mesmo por, mas estava na mesma agonia que eu. Talvez, por isso não foi ao culto. O que havia acontecido com ele?

- Tá melhor? - disse Carol, ao sentar à beira da cama.

Olhei-a. Ela passou a mão em meu braço, acariciando-o. Como aquilo me tranquilizava. Era uma sensação que eu só conseguia sentir com ela, e, agora, com o Dani. Eles conseguiam me trazer paz nos momentos mais conturbados pelos quais eu passava. Jonas me fazia sorrir, me ajudava, me ouvia, mas eu só conseguia ficar tranquilo mesmo quando Carol conversava comigo e me abraçava. Sempre disse que ela era a minha irmã, a qual eu levaria para a vida toda. Nos conhecemos há muito tempo, e desde que começamos a nos falar, uma linda amizade surgiu entre nós. Eu a adoro e ela a mim.

[EM REVISÃO] O Fruto ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora