"...o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca."
O coração em seu estado normal chega a cem batimentos por minuto para alguém que faz algum exercício. Mas se este estiver em repouso e chegar ao mesmo número, está com algum problema. Eu deveria estar perto dos noventa ou quase isso.
Daniel estava encostado em um poste feito de madeira; usava uma calça preta e uma camisa social azul, além de carregar na mão sua gravata, como sempre fazia. Seus cabelos sempre bem penteados, deitavam uns por cima dos outros como uma onda castanha. Eu, como de costume, menos "social". Camisa long preta com uma jaqueta jeans por cima e uma calça bege.
A noite não tinha Lua, mas se ornamentava com cotidianos brilhos estrelados. As famosas três Marias estavam prestes a aparecer pelo céu escuro cercadas pelas grandiosas estrelas azuis e vermelhas.
Eu não queria estar ali, mas ao mesmo tempo queria. Eu não queria ter que ficar bobo e sem graça em sua frente, com vergonha de tudo aquilo; mas também queria ir mais além em nossa intimidade, falar de minhas angústias e lhe dizer de uma vez por todas o quanto eu o desejava. Eu já não aguentava mais ter todo aquele peso sobre mim, ter toda aquela culpa e aquela dor por não dizer nada. Meu medo de afastá-lo era grande, mas minha vontade de que ele entendesse e continuasse ao meu lado era maior ainda.
- Mas eu não... não acreditei, né? - disse ele.
Meu desconforto com o que ele acabara de me revelar era perceptível. Com certeza, eu estava todo vermelho, mas não dava pra ver, por isso, agradeci à Lua, minha cúmplice fiel, por não ter ido nos visitar naquela noite.
- Mas... Por que será que eles falaram isso? - finalmente algumas palavras saíram de minha boca.
- Eles disseram que era para que eu me afastasse de ti. Que tu ia acabar fazendo algo que eu não ia gostar, e... - desviou o olhar e abaixou a cabeça - que tu poderia me prejudicar.
- Mas... claro que não! Eu jamais faria isso contigo.
- Então é verdade? - ele fixou seu olhar em mim.
Olhei fixamente para os olhos dele e, por alguns segundos, pensei em como poderia me livrar daquilo. Mas nada vinha à minha mente. Passeei por todo o pensamento, mas foi em vão. Então falei a primeira coisa que veio.
- O quê? Que eu vou te prejudicar? - respondi.
- Não... - ele sorriu - que tu gosta de homens. Isso é verdade? Olha... eu não... - engoliu o resto da frase, como se tivesse pensado que não era necessário - é verdade?
Desviei o olhar novamente. Engoli a seco e tentei respirar de forma regular, tentando fazer com que minha voz não saísse trêmula como sempre acontece quando estou nervoso.
- Sim. É verdade! Mas... é uma longa história.
Acreditei que aquele seria o momento em que ele me deixaria ali sozinho e iria embora, depois de ter dado qualquer desculpa para ir para sua casa o mais rápido possível. Mas não aconteceu assim. Ele simplesmente deu um sorriso tímido, como se quisesse me deixar à vontade, mesmo não estando.
- Pode contar. Ainda é cedo, dá pra ouvir tudo. - disse ele.
Eu fiquei estático por alguns segundos, sem acreditar que ele estava interessado em minha história pecaminosa. Ele, todo religioso, queria mesmo saber sobre mim, sobre a minha vida mais íntima, da qual quase ninguém sabia.
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[EM REVISÃO] O Fruto Proibido
RomanceCapa feita por: @pequena_boneca007 Este não é um livro sobre uma história de amor entre dois homens, vai além... é envolvente e rigorosamente pensado. Um jovem cristão, fervoroso em sua missão de evangelizar, vê sua fé e determinação desmoronarem qu...