• Adversidades •

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"Por mais planos que façais, eles serão todos frustrados..."

Logo começou a nascer uma bela amizade entre Daniel e eu. Sempre que nos encontrávamos na igreja, conversávamos sobre qualquer coisa. Começamos a sentar perto um do outro nos cultos e qualquer outra programação que havia.
Depois de alguns dias, esperávamos um ao outro para ir e vir da igreja. E eu cada vez ganhando mais a intimidade que, eu sabia, poderia me matar. Mas acredito que posso controlar, que eu sou mais forte que todo esse sentimento. Se eu não conseguir mais, em algum momento eu me afastarei. Sei que mais cedo ou mais tarde terei que fazer isso, como fiz com todos os outros amigos pelos quais me apaixonei.
Em um dos cultos, Jonas me deu uma notícia muito preocupante. Eu havia criado todo um projeto evangelístico para fazer com o conjunto, mas parece que ninguém queria participar.

- Ninguém? - estava sem acreditar. Havia gostado até dinheiro para que o evangelismo pudesse acontecer.

- É, Lau. Ninguém. - ele fez uma pausa - Achei que o Líder fosse apoiar também, mas não. Tu sabe que quando ele não se envolve, ninguém quer se envolver também.

- Mas... por que ele não quer? O que tem de errado? É só um evangelismo.

- Segundo ele e o pastor, há outros planos para os membros da congregação, envolvendo nós. Acho que é um jejum.

- Mas pra quê? Nós nos consagramos sempre, todas as semanas. Eu preciso de apenas uma para fazer o projeto acontecer. Como vamos conseguir mais almas, se ficarmos aqui dentro? - eu estava irado.

Dei uma olhada para dentro da igreja, o culto ainda não havia acabado. Daniel estava inquieto, sempre olhava para a porta, acho que estava sentindo a minha falta.
Após o culto, fui falar com Abner, o líder do conjunto. Ele não parecia muito afim de falar sobre o assunto, e tentava a todo custo encerrar a conversa.

- Eu já te falei, o pastor não quer. Eu não posso passar por cima da ordem dele, Lauro.

- Mas tu deveria ter insistido. Eu... Eu pensei que fosse dar certo. Das outras vezes, deu.

- Se quiser, pode ir falar com ele. Eu não posso fazer nada. Além disso, Lauro, tu sabe que o pessoal não quer se envolver assim. Tem que adular eles para vir pros ensaios, imagina para esses evangelismos.

- Tá bom!

- É isso. Tô indo. - ele foi até uns amigos que o aguardavam.

Logo em seguida, Lucas veio até mim. Sei bem que ele estava feliz por eu não ter conseguido levar o projeto adiante. Na verdade, eu havia sido impedido, porque o que dependesse de mim ia acontecer. Eu sempre fui até o fim com as coisas que me propus a fazer, e nunca corri de algo que tivesse a ver com a missão a qual eu tinha posto em meu coração: evangelizar. Sofria qualquer tipo de coisa, gastava tempo nos planejamentos e até mesmo dinheiro, mas sempre tentava priorizar isso em minha vida. Eu queria viver desse modo, até porque era o único como eu sabia viver.
Desde que, com dez anos, comecei a frequentar a igreja, eu nunca mais quis sair, nunca fui para outros caminhos com amigos que não fossem da igreja. Eu sempre buscava me disciplinar e me policiar ao máximo, para não cometer algo contra Deus. Mas eu ficava dilacerado quando acontecia algo assim, de meus planos não darem certo, mesmo que o que eu quisesse fazer fosse para algo bom, mais uma vez para somar com a minha missão. Aquilo, certamente, me atingiria em cheio.

- Foi pro poço, né?

- Dá um tempo! Eu não estou bem. Deixa eu ir embora pra casa. - dei as costas, mas ele veio atrás de mim.

- É, garoto. Nem tudo vai dar certo, não é? Tu acha que o Abner vai querer aceitar o que tu quer fazer? - ele continuava me seguindo, enquanto eu caminhava para dentro da igreja - Ele vai aceitar o que o pastor quer, sabe por quê? - eu parei e o fitei - Tu quer ser mais que ele.

Aquelas palavras ditas em outro momento não fariam qualquer diferença para mim, principalmente vindas do Lucas. Mas eu já tinha conversado com o Abner, não só hoje, e ele sempre pareceu se sair do que eu lhe sugeria. Além disso, eu percebi uma distância tão grande entre nós, como não acontecia antes, quando ele era um simples membro do conjunto.

- Eu não quero ser maior ou melhor que ninguém, tá? Eu só quero ajudar o Abner, mas parece que nem tu nem ele entendem isso. - andei novamente.

- O Daniel entende? Porque parece que ninguém mais te entende aqui na igreja. Não percebeu que ninguém quer isso, além de tu e, talvez, o Daniel?

- Como assim? Ninguém mais? Tem pessoas que me apoiaram. Tenho o Jonas e a Carol... - não me deixou terminar.

- Ah!!! A Carol, claro! Cadê ela? Quantos cultos ela já faltou esse mês?

- Isso não importa. - apanhei minha bíblia em um banco.

- Importa pro pastor e pro Abner. Eles não vão querer que alguém que tá mais faltando do que um próprio visitante dê pitacos sobre os movimentos que nós temos que fazer. Eles não vão querer!

- Tá! Mas tem o Jonas. Ele me deu apoio desde o início, me ajudou nos planejamentos e sempre vem aos cultos. - na frente da igreja, Jonas conversava com outros amigos, e gargalhava.

- Olha, não é querendo falar mal não, mas ele também não assinou a lista dos que queriam participar. Ou ele ia assinar depois que o pastor visse?

- Como assim? Foi ele que preparou a lista. Ele que levou ao pastor, junto com o Abner.

- Ué! Pode perguntar pra ele. Eu tava lá perto quando eles estavam conversando. Lhe perguntaram se iria participar, ele disse que não iria poder.

- Eu não acredito que agora tu quer me pôr contra o Jonas. Que inferno, Lucas! Me deixa em paz, me esquece. Eu nunca fiz nada contra ti. Pra quê esse ódio todo de mim? - O empurrei e saí dali o mais rápido possível. Ele apenas gritou:

- Só quis avisar! DEU RUIM!!!

Fui até Abner, que ainda conversava com alguns amigos por ali. Geralmente, não dava ouvidos ao que Lucas dizia. Mas eu tinha que ver que Jonas não tinha me deixado na mão. Não quando mais precisei dele.

- Abner, a lista tá contigo?

- Tá, sim! - ele abriu a bíblia, tirou de dentro um papel e me entregou.

Eu o abri rapidamente, tentando fazer de tudo para não rasgar. Havia apenas três nomes, o meu, o de Carol e o de Daniel.

Eu amasssei e o arremessei em cima do Jonas.

- Traidor! - eu disse.

- Traidor! - eu disse

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[EM REVISÃO] O Fruto ProibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora