Capítulo 9

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Fazia alguns minutos que Rafa esperava parada em frente ao apartamento de Gizelly. Já havia batido na porta duas vezes sem sucesso, então tentou abri-la. De fato, estava destrancada. Pensou que teria de alertar a amiga sobre o perigo. Não podia deixar sua porta aberta para que qualquer um entrasse.

A sala estava vazia, e Rafa foi direto para a cozinha levar as flores que carregava. Olhou para o buquê que havia escolhido. Era uma combinação de cravos. Nunca havia gostado de cravos, mas algo havia lhe atraído para aquele arranjo. Era uma mistura de flores brancas e vermelhas, que formavam um conjunto harmonioso em seu contraste.

Olhou para o relógio. Marcava 10h34 da manhã. Torceu para que o ponteiro estivesse adiantado, senão já estariam atrasadas. Caminhou em direção ao quarto da advogada para ver se estava acordada.

Quando chegou na porta, teve de se apoiar no batente para não cair naquele momento mesmo. Gizelly estava deitada na cama, completamente nua, com as pernas abertas. Seu cabelo sedoso se espalhava pelo travesseiro branco, seus olhos estavam fechados e a boca, entreaberta. Emitia gemidos baixos. A responsável por tirar esses sons de Gizelly era uma mulher cujo rosto não conseguia ver porque estava mergulhado entre as pernas da outra e encoberto por seus cabelos castanho-claros.

Rafa ficou paralisada com a cena, e não sabia ao certo o que fazer. Sua vontade era de gritar. Mas todas as vezes que abria a boca para falar algo, nada saía. Cada vez, sua voz era abafada, à medida que os gemidos de Gizelly ficavam mais altos.

Ela tentou se virar para sair, mas era como se houvesse criado raízes no chão. Não conseguia fugir, mas também não conseguia entrar no quarto. Não estava nem cá, nem lá.

Apenas sentia muita raiva e dor.

Gizelly então abriu os olhos e encontrou os de Rafa, que se sentiu corar imediatamente. A advogada sorriu e passou a gemer cada vez mais alto, encarando-a. Expressava seu prazer sem nenhum pudor. Rafa tentava virar a cara e sentia que iria se abrir um buraco no chão, onde ela se afundaria em vergonha, imóvel.

Ainda assim, parecia que a cena lhe hipnotizava, pois não conseguia escapar. A raiva inicial foi aos poucos dando espaço a sua própria excitação. Por isso, não ficou surpresa quando, ao ouvir o grito de Gizelly que indicava que havia chegado ao gozo, saiu igualmente um ruído de prazer por entre seus lábios.

— E aí, Rafa? — perguntou Gizelly calmamente. Como se fosse uma conversa normal e ela não estivesse nua em sua cama e acabado de ter um orgasmo.

— Quê? — Rafa parecia haver recuperado sua voz.

— Cê acha que eu não vejo o jeito que você me olha? — Gizelly se levantou da cama e foi caminhando lentamente em direção a ela. — Todo mundo viu, Rafa.

— Cê tá louca, Gi? Eu já disse que...

— Que me acha gata, gostosa. Uma deusa. Mas, ah. É "só isso". — disse irônica, fazendo as aspas com os dedos.

Gizelly parou ao seu lado na porta e se virou de frente para Rafa, que estava se sentindo cada vez mais enclausurada. Ela podia sentir a respiração da outra mulher tanto quanto a sua. A advogada estendeu os braços e apoiou uma de suas mãos na parede ao lado do batente, na altura da cabeça de Rafa, enquanto a outra pôs em sua barriga. Começou a percorrer a região de seu umbigo com a ponta das unhas.

Rafa prendeu a respiração e olhou para baixo, a fim de acompanhar os movimentos da mão de Gizelly, quando viu que também estava nua. Ia falar algo, mas se calou ao ver a advogada se ajoelhar e distribuir beijos na região baixa de seu abdome. Ela caminhava em direção a seu sexo com cada um deles.

Nem que tentasse conseguiria segurar o gemido que soltou quando sentiu a língua de Gizelly dar uma leve lambida em seu clitóris.

— Rafa, por que você não avisou que tinha chegado? — perguntou Gizelly.

— Ué. Eu bati na porta. Você que não atendeu.

— Se você tivesse tocado a campainha, eu teria ouvido.

— Eu não queria te acordar.

— Mas eu já tava acordada. Eu já tô acordada tem um tempo. — Gizelly se levantou. — E você, Rafa? Tá acordada?

Rafa fez que sim com a cabeça.

— Então fala, Rafa.

— Eu... — tentou, mas sentiu que lhe faltava ar. — Eu...

Gizelly começou a movimentar os dedos em seus lábios íntimos, fazendo uma massagem leve que tinha gosto de tortura. Quando inseriu tentativamente seu indicador na vagina de Rafa, a mineira soltou um gemido que misturava susto e prazer, e tentou se agarrar em algo.

Uma de suas mãos foi em direção ao corpo de Gizelly, mas a outra tateou o ar à procura de alguma coisa em que se apoiar no lado de dentro do quarto. Encostou em algo, mas não conseguiu se firmar no objeto.

Rafa pulou com o barulho de vidro se quebrando, e viu um vaso espatifado no chão.

Olhou novamente e viu que estavam no chão as flores que havia levado para Gizelly. Mas elas estavam diferentes. Os cravos vermelhos e brancos haviam se mesclado e transformado em cravos brancos com as pontas vermelhas. Cravos riscados.

Virou-se para Gizelly e abriu a boca para pedir desculpas. Mas o barulho de sua voz foi abafado por um alarme que ressoava forte, vindo de dentro do quarto.

Rafa acordou num susto com o despertador tocando. O relógio marcava 10h34. Fazia quatro minutos que tocava.

Tentou acalmar sua respiração por mais algum tempo. Estava acostumada com sonhos intensos, mas não conseguia nem processar o que havia acabado de acontecer. Queria apenas se manter calma.

Levantou-se num impulso e foi ao banheiro. Precisava de um banho para acordar daquele estado.

Mergulhou a cabeça embaixo do chuveiro e sentiu a água caindo. Ficou parada até finalmente ter forças para começar a lavar o cabelo e se ensaboar. Ela parou quando, ao passar o sabão por seus seios, sentiu seu bico ereto e sensível. Não tinha como negar. Todos os sinais de seu corpo indicavam que estava excitada.

Rafa apoiou a testa no azulejo e ficou um tempo tentando se recompor. Levou uma das mãos novamente ao seio, mas a situação não havia mudado. Pôs a mão esquerda no outro, igual. Começou então a, cautelosamente, massageá-lo, como se explorasse seu corpo pela primeira vez.

Após alguns poucos minutos, sua outra mão passou a imitar os movimentos, mas agora em seu clitóris. Não aguentou por muito mais e afundou dois dedos em si. Ainda com a cabeça apoiada na parede, rebolava em seus próprios dedos, crescendo um prazer como há tempos não sentia.

Assim que percebeu seu orgasmo prestes a irromper, sua visão foi invadida pela imagem de Gizelly em sua frente.

"Então fala, Rafa."

Gozou com um gemido contido, que pareceu um choro.

— Manu, tudo bom? Desculpa te ligar assim do nada, mas eu precisava falar com alguém. Você pode conversar?

— Claro, Rafa. Aconteceu alguma coisa?




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N.A.: Quem nunca teve um sonho erótico com outra mulher antes de se assumir e ficou confusa, não é mesmo?

Eu tava com receio de publicar esse capítulo porque é uma mudança muito brusca no tom da fic até aqui. Mas eu sou fã de simbolismos baratos e sonhos que levam a autoconhecimento, então eu acho esse cap bem importante pra história.

Tudo isso só pra dizer que quaisquer comentários ou críticas são bem-vindos! :)

O começo pode ser assim (Girafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora