Capítulo 20

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Gizelly estava em silêncio observando a paisagem passar pelo vidro do carro, o que Rafa imaginou que não poderia ser um bom sinal.

— Tá tudo bem? — disse pegando em sua mão para lhe chamar a atenção.

— Tá sim...

— Gi...?

— E se eles não gostarem de mim? — perguntou baixinho.

— Titchela...  — falou com uma voz doce. — Como que eles não vão gostar de você se já te amam? Cê conversa com todos eles sempre e minha mãe sempre me pergunta de você, sabia? Eu acho até que ela gosta mais de você do que de mim.

A capixaba permaneceu em silêncio, olhando para o verde que compunha os arredores de Goiânia, ainda mais colorido pelo sol de fim de tarde. Rafa entrelaçou seus dedos nos de Gizelly e levou a mão da advogada a sua boca, beijando-a rápido, atenta ao motorista. Elas permaneceram com as mãos dadas até chegarem na chácara da família de Rafa.

— Gizeeeeeelly! — gritou Genilda Furacão ao ver as duas saindo do carro.

— Tá vendo? — virou-se Rafa à advogada. — Eu disse que ela gosta mais de você do que mim.

— Deixa de ser ciumenta, Rafaella. Eu te vejo sempre, mas tô esperando pra conhecer minha xará faz meses!

Genildinha Furacão as acompanhou até a casa e avisou que Renato chegaria com Dani e Soso apenas na manhã do dia seguinte, o que significava que teriam a chácara somente para elas naquela noite.

Após se instalarem no "quarto céu", recriado pela influenciadora, as duas se dirigiram à cozinha para tomar um café com Genilda e jogar conversa fora.

— Mãe, tem uma coisa que eu queria te falar. — disse Rafa mordendo o lábio, após algum tempo. Viu Gizelly acenar com a cabeça, encorajando-a a continuar.

— Que foi, minha filha? Tá tudo bem?

— Tá sim, mãe. Tudo certinho. Quer dizer, tá uma correria, né? Mas graças a Deus que tô tendo bastante trabalho.

— Amém. Mas então o que houve? Cê acha que eu não percebi que você tá com uma carinha de preocupação desde que chegou?

— É que... Minha vida mudou muito desde o BBB. Cê sabe, né? Assim, foi muita mudança mesmo. Mas muita coisa boa aconteceu. E eu comecei... Acho que eu comecei a me conhecer melhor também. Aliás, já desde lá de dentro da casa. E se descobrir às vezes dá medo. Eu rezei muito pra Deus pra me ajudar nesse caminho, pra eu ter certeza do que eu tava fazendo.

— Ele sempre vai te apoiar, Rafa. Tenho certeza disso. Você é uma menina correta.

— Obrigada, mãe.

— Mas o que foi, minha filha?

— É que... Eu tenho pensado muito e... E eu acho que... — olhou para Gizelly e com ela veio a força. — Não, eu não acho. Eu sei. Eu percebi que eu também gosto de mulher.

Ao terminar, notou que era a primeira vez que falava isso em voz alta, pelo menos dessa maneira tão direta. Agora não tinha volta. Uma vez dito, estava materializado, tinha ganhado forma fora de seu corpo. Não lhe pertencia mais. Que liberdade era não precisar mais carregar aquilo preso dentro de si.

Um sorriso despontou no rosto de Genilda, mas ela permaneceu calada.

— Mãe? A senhora não vai dizer nada? Desculpa, eu...

— Ah, desculpa. É que eu tava esperando você continuar a falar. É só isso? — perguntou, com o olhar viajando entre Rafa e Gizelly.

— Como assim só isso?! A senhora num ouviu o que eu falei, não?

O começo pode ser assim (Girafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora