— Cê dormiu aí, bebê?
A mineira ouviu o sussurro como se fosse em um sonho. Conseguia sentir um carinho leve em seu cabelo e não quis acordar com medo de interrompê-lo. Recuperando aos poucos a consciência, criou coragem para abrir os olhos e, assim que o fez, sentiu os raios de luz do alvorecer lhe atacarem. Quando sua visão se acostumou com a claridade, o borrão em sua frente tomou forma.
Era Gizelly, sentada ao seu lado no sofá, encarando-a com um olhar que quem visse de fora da cena poderia achar que era sinal de raiva. Mas Rafa não a via por fora. Por isso, sabia que ele refletia um misto de preocupação e afeto.
— Que horas são?
— Seis e vinte. Dá tempo de dormir mais um pouco. Vamo que eu te levo pra cama.
— Nããão, num quero. — reclamou manhosa, em sua melhor imitação de Soso.
— Rafa, você vai ficar toda dolorida. Vamo, eu te ajudo.
— Eu quero ficar aqui.
— Tá. — disse Gizelly. Sua voz ou olhar continuavam sem algum pingo de raiva; eram apenas ternura. — Eu vou lá pra cozinha preparar um cafezinho então, tudo bem? Mas eu também posso ir embora se você quiser.
— Não. Fica. Por favor. — repetiu o pedido de algumas horas atrás.
A advogada deu um beijo suave em sua testa e saiu da sala.
Rafa tentou voltar a dormir, mas não tardou a desistir. Estava já alerta, e com uma ressaca do tamanho do mundo. Para tentar melhorar um pouco seu estado – e humor –, foi tomar um banho.
Mergulhou a cabeça embaixo do chuveiro e permaneceu parada, sentindo a água fria caindo sobre seu rosto. Sabia que teria que conversar em breve com Marcella para decidirem o que fazer. Naquele momento, no entanto, não queria pensar sobre nada, exceto sobre a água em sua cabeça. Era tudo em que conseguia se concentrar.
Depois do longo banho, foi se trocar e, ao abrir o guarda-roupas, foi atraída pelo camisão da coleção de Gizelly: "Isso também passa". Ela tinha quatro peças que a advogada havia lhe enviado ainda durante a quarentena, mas aquele, que havia roubado da advogada um dia que havia dormido em sua casa, era seu favorito. Sabia que isso era impossível, mas era como se ele ainda contivesse o cheiro da mulher, e sentia-se sempre abraçada por ela quando o vestia.
Caminhou até a cozinha e viu a advogada sentada junto à mesa, onde estava o arranjo de flores que havia lhe dado no dia anterior. Ela bebia café e estava concentrada em algo no seu celular.
— Oi. — anunciou Rafa ao entrar no cômodo.
— Oi! Desculpa, eu tava passando umas orientações pras meninas sobre aquele caso que eu te falei sobre a jovem que foi presa por matar, em legítima defesa, o padrasto abusivo, lembra?
— Lembro sim. Espero que ela consiga ser solta.
— Vai sim. Eu num vou descansar até que ela saía da prisão!
Rafa sorriu, pela primeira vez naquele dia. Nunca deixaria de se encantar com a força daquela mulher, com a paixão que ela tinha de defender outras mulheres e em fazer acontecer a Justiça.
— E você? Como você tá? — perguntou Gizelly, olhando-a agora com toda sua atenção.
— De ressaca.
— Ai. Toma aqui um remediozinho. — Gizelly se levantou e foi buscar um medicamento, sabendo o lugar onde ficavam. — Eu fiz um bolinho de cenoura pra você. Tá no forno já. Daqui a pouquinho deve de tá pronto!
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O começo pode ser assim (Girafa)
RomancePós-BBB. Rafa nunca pensou que poderia se interessar por uma mulher. Ainda mais por uma mulher também hétero. Mas uma série de momentos mudaria sua vida. Sempre achou Gizelly uma mulher atraente, mas as atividades do pós-BBB, aliadas ao shipp Girafa...