Rafa estava apoiada na pia, marcando sua respiração numa tentativa infrutífera de recuperar o controle. Tinha perdido a conta de quantos copos já tinha derrubado nos últimos dias. Não sabia o que estava acontecendo. Só sabia que não conseguia mais ficar naquela sala com Gizelly. Não conseguia estar lá. Ela não conseguia.
Abriu a porta para ir buscar sua bolsa, pensando na desculpa que daria para ir embora, quando viu a capixaba apoiada na parede do corredor ao lado do banheiro. Ela estava olhando para baixo, com o pensamento distante, e saltou quando viu a influenciadora. Gizelly tentou se recuperar e abriu a boca para tentar dizer algo, mas a fechou logo em seguida. Rafa observava a cena completamente paralisada.
— Rafa, eu... Eu queria só... Só saber se você tava bem. — disse Gizelly hesitante, após algum tempo de silêncio. — Cê tava aí faz um tempo.
— Tô sim. — Rafa forçou um sorriso, mas logo desistiu dele porque teve certeza de que parecia psicótica. — Não precisava vir atrás de mim.
— Ahn... A gente pode conversar? — pediu. A advogada havia parado de enrolar a língua e aparentava estar sóbria. Rafa também sentia que todo o álcool em seu corpo havia evaporado no momento em que seus lábios se tocaram com os de Gizelly.
— Não sei se é a melhor hora...
— Por favor.
A frase havia sido dita num tom de voz tão baixo que Rafa ficou surpresa de tê-la ao menos ouvido, ainda mais com o som da música e das risadas altas vindas da sala.
Aquela cena lhe cortou o coração. Gizelly estava tão cabisbaixa. Já havia percebido que a advogada, tão explosiva, às vezes ficava tímida em sua presença. Mas nada como aquilo. Não era apenas timidez, era medo. Rafa odiou ser o motivo por ele estar estampado naquele olhar.
— Entra aqui. — falou finalmente, retornando ao banheiro.
Gizelly a acompanhou e fechou a porta atrás de si. Por sorte, o cômodo era espaçoso, porque senão Rafa se sentiria ainda mais claustrofóbica do que já estava.
— Sobre mais cedo... Eu... Eu não sei o que aconteceu comigo. — disse a advogada.
— Cê tava bêbada, Gizelly. Foi isso que aconteceu. — Rafa não sabia por que estava sentindo tanta raiva naquele momento.
— Não, Rafa. Eu não quero culpar a bebida. Não seria justo.
— Também acho que não é justo.
— Não foi isso que eu quis dizer.
— O que quer dizer então?
— Eu sei que você é hétero e...
— Ah, é? E você tá falando isso pra mim por quê? — cortou-a Rafa, sem qualquer paciência para aquela conversa.
Gizelly a princípio se emudeceu com a resposta da influenciadora. No entanto, seu olhar, inicialmente confuso, foi rapidamente tomado por um brilho que aparecia em seu rosto junto com um sorriso tímido, quase imperceptível.
— Eu não tô falando pra você, minha cabeça que tá caída pra cá. — finalizou sem conseguir mais esconder o sorriso.
Rafa achou que a raiva que sentia enfim derrubaria qualquer forma de autocontrole e tomaria todo seu corpo. Ela reconheceu a piada, lógico. Era uma figurinha recorrente entre as meninas do quarto céu.
Mas não foi a raiva que venceu. Rafa se surpreendeu quando sentiu uma risada querendo explodir de dentro de si, abrindo espaço por entre sua garganta engasgada e boca encerrada para ganhar vida fora de seu corpo e preencher o ambiente com aquele som alto, livre.
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O começo pode ser assim (Girafa)
RomancePós-BBB. Rafa nunca pensou que poderia se interessar por uma mulher. Ainda mais por uma mulher também hétero. Mas uma série de momentos mudaria sua vida. Sempre achou Gizelly uma mulher atraente, mas as atividades do pós-BBB, aliadas ao shipp Girafa...