Capítulo 12

1.9K 165 52
                                    

Rafa estava apoiada na pia, marcando sua respiração numa tentativa infrutífera de recuperar o controle. Tinha perdido a conta de quantos copos já tinha derrubado nos últimos dias. Não sabia o que estava acontecendo. Só sabia que não conseguia mais ficar naquela sala com Gizelly. Não conseguia estar lá. Ela não conseguia.

Abriu a porta para ir buscar sua bolsa, pensando na desculpa que daria para ir embora, quando viu a capixaba apoiada na parede do corredor ao lado do banheiro. Ela estava olhando para baixo, com o pensamento distante, e saltou quando viu a influenciadora. Gizelly tentou se recuperar e abriu a boca para tentar dizer algo, mas a fechou logo em seguida. Rafa observava a cena completamente paralisada.

— Rafa, eu... Eu queria só... Só saber se você tava bem. — disse Gizelly hesitante, após algum tempo de silêncio. — Cê tava aí faz um tempo.

— Tô sim. — Rafa forçou um sorriso, mas logo desistiu dele porque teve certeza de que parecia psicótica. — Não precisava vir atrás de mim.

— Ahn... A gente pode conversar? — pediu. A advogada havia parado de enrolar a língua e aparentava estar sóbria. Rafa também sentia que todo o álcool em seu corpo havia evaporado no momento em que seus lábios se tocaram com os de Gizelly.

— Não sei se é a melhor hora...

— Por favor.

A frase havia sido dita num tom de voz tão baixo que Rafa ficou surpresa de tê-la ao menos ouvido, ainda mais com o som da música e das risadas altas vindas da sala.

Aquela cena lhe cortou o coração. Gizelly estava tão cabisbaixa. Já havia percebido que a advogada, tão explosiva, às vezes ficava tímida em sua presença. Mas nada como aquilo. Não era apenas timidez, era medo. Rafa odiou ser o motivo por ele estar estampado naquele olhar.

— Entra aqui. — falou finalmente, retornando ao banheiro.

Gizelly a acompanhou e fechou a porta atrás de si. Por sorte, o cômodo era espaçoso, porque senão Rafa se sentiria ainda mais claustrofóbica do que já estava.

— Sobre mais cedo... Eu... Eu não sei o que aconteceu comigo. — disse a advogada.

— Cê tava bêbada, Gizelly. Foi isso que aconteceu. — Rafa não sabia por que estava sentindo tanta raiva naquele momento.

— Não, Rafa. Eu não quero culpar a bebida. Não seria justo.

— Também acho que não é justo.

— Não foi isso que eu quis dizer.

— O que quer dizer então?

— Eu sei que você é hétero e...

— Ah, é? E você tá falando isso pra mim por quê? — cortou-a Rafa, sem qualquer paciência para aquela conversa.

Gizelly a princípio se emudeceu com a resposta da influenciadora. No entanto, seu olhar, inicialmente confuso, foi rapidamente tomado por um brilho que aparecia em seu rosto junto com um sorriso tímido, quase imperceptível.

— Eu não tô falando pra você, minha cabeça que tá caída pra cá. — finalizou sem conseguir mais esconder o sorriso.

Rafa achou que a raiva que sentia enfim derrubaria qualquer forma de autocontrole e tomaria todo seu corpo. Ela reconheceu a piada, lógico. Era uma figurinha recorrente entre as meninas do quarto céu.

Mas não foi a raiva que venceu. Rafa se surpreendeu quando sentiu uma risada querendo explodir de dentro de si, abrindo espaço por entre sua garganta engasgada e boca encerrada para ganhar vida fora de seu corpo e preencher o ambiente com aquele som alto, livre.

O começo pode ser assim (Girafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora