Capítulo 28- Meu porto seguro

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Fomos até um restaurante meio longe dali, tínhamos que ficar longe de tudo aquilo. Peter entrou no grande estacionamento que tinha ali, parando o carro ele começou a rir.
-O quê?
-Só tô rindo de tudo que aconteceu, você tinha que ter visto a cara dele depois que você chutou ele.
Comecei a rir também.
-É porque você não viu quando ele percebeu que você iria machucar ele mesmo.
Depois de rirmos por alguns minutos fomos almoçar.

Estávamos indo pro carro.
-Quer levar algum sorvete? A gente vai comendo no caminho.
Eu acho que tinha visto uma lá perto mesmo.
-Pode ser.
-Você quer vir ou quer esperar aqui?
-Acho que vou esperar aqui, comi demais.
-Ok- Peter disse dando um sorriso- então já volto, qualquer coisa entra no carro.
-Ok
E Peter Pan saiu andando para a atual sorveteria.
Depois de alguns minutos escutei um assovio e algumas vozes, eu tentava ver de onde vinham no meio daquele estacionamento grande e mesmo assim meio vazio.
-Olha ali.
-Próxima?
-É gostosa, então com certeza.
Eu paralisei, me arrepiei, só tentava repensar no meu treinamento em Neverland.
Então uns 5 ou 6 meninos apareceram vindo na minha direção.
Eu não ia parecer assustada, apenas fingia estar distraída. Porém, uma rodinha tinha sido feita à minha volta. Aff que saco. Eu só queria Peter e o sorvete.
-E aí? Qual o nome da princesinha?
Dá licença né, eu estou com Peter Pan, rei de Neverland, então tecnicamente eu sou a rainha. Além disso, no diminutivo?
-Princesinha é o c****.
-Nossa, melhor do que imaginávamos.
Um deles começou a se aproximar, até que ele ia levar sua mão.
-Eu não faria isso se fosse você.
-Como se isso fosse me atrapalhar.
-Olha esse corpo, você tá pedindo pra isso.
Uma mão ia pra cima de mim, quando vi tinha derrubado o cara no chão. Então um outro veio, quase quebrei seu braço, mas aquele estralo não era normal. O resto começava a vir, tinham olhos pra mim como se eu fosse alguma caça, não eram muito diferentes dos piratas.
Senti minha magia passando pelo meu corpo até sair pelas mãos, mas fazia tempo que eu não as usava, então estava fraca. Eu precisava treinar novamente.
Quando Pan entrou no estacionamento vi seu rosto, ele veio andando calmamente e com passos que talvez até tivessem afundado o chão. Chegando perto, os sorvetes começaram a flutuar, alguns garotos foram arremeçados nas paredes do lugar e outros levaram socos de onde saíam algumas gotas de sangue.
Peter Pan me olhou como se perguntasse se eu estava bem, apenas afirmei com a cabeça. Entramos no carro e Peter começou a dirigir não sei pra onde, também não me importava.
Aquelas palavras ditas pelo grupo martelavam a minha cabeça, quando percebi estávamos na casa de Peter e dos meninos perdidos. Entramos e cumprimentei com um pequeno sorriso os meninos que estavam lá, subi o mais rápido que conseguia até o quarto de Pan.
Entrei lá e Peter veio logo atrás fechando a porta.
-Se você quiser conv...
Não deixei ele terminar, apenas o abracei procurando segurança e proteção sabendo que ia encontrar ali. Não consegui me controlar e lágrimas escorriam no meu rosto.
Fui abusada fisicamente, verbalmente e psicologicamente mais de uma vez em um dia. Apenas queria fingir que nada tinha acontecido, minha ansiedade atacava com toda sua força, uma parte de mim pensava no que poderia ter feito para não acontecer aquelas coisas e a outra dizia que não adiantava aquilo porque já havia passado.
Eu juro que tentei ser forte, mas naquele momento não consegui me segurar, não sabia se era pra me sentir mal com isso. Aliás, eu já escutei que quando você é forte por muito tempo, você precisa soltar isso.
Peter Pan me pegou cuidadosamente no colo e levou pra cama, deitou e me abraçou como conchinha e eu estava no meu porto seguro, sentia que ali até podia respirar melhor.
Não sei quanto tempo ficamos ali, mas virei pra ver Peter, que me olhava com um olhar um pouco cansado e carinhoso.
-Obrigada.
-Por?
-Ficar comigo, me entender, respeitar...
-Não precisa me agradecer, não fiz mais do que eu devia.- ele deu um sorrisinho fofo e mostrou uma mão- faz tempo que a gente não faz isso.
Sorri, encostei minha mão na sua e tentei me concentrar um pouco. Nossas mãos ficavam douradas e quando separamo-as raios de várias cores pareciam querer juntá-las novamente.
Flashback on
Eu estou aqui faz mais ou menos um ano, na Terra deve ter passado uma hora se eu entendi direito como funciona. Não sei o porquê, mas hoje fiquei muito pensativa sobre tudo e a que era mais difícil era sobre o que eu sentia por Peter. Ele havia praticamente me sequestrado, já matou muito mais que uma pessoa, é manipulador, adora o poder... Mas ele também me faz sentir bem, me faz sorrir, eu posso seu eu mesma com ele, não me fez mal, me protege, é bonito...
Então fui até um dos meus lugares favoritos de Neverland, aquele penhasco. A paisagem e o vento parecia me ajudar com tudo isso, mas não sei se era em resolver ou em esquecer um pouco.
Senti alguma presença e alguns segundos depois Peter Pan se sentou ao meu lado.
-Hey, o que te traz aqui?- Peter perguntou
-Não era pra você saber? Aliás é como se você soubesse de tudo.
-Dessa vez tenho mais de uma opção, então tenho que perguntar.
-Só pensando.
-Posso saber em que?
-Acho que um pouco de tudo.
-Muito específico.
Eu acabei rindo um pouco. A luz daquele pôr-do-sol se mostrava no rosto de Peter, não sei o porquê me sentia hipnotizada naquilo, olhava todos os detalhes que acabavam sendo mais destacados pela luz.
Peter também virou o rosto e parecia fazer o mesmo que eu.

Parecia que um filmes de nós dois passava na minha cabeça e eu sorri com isso.
Eu o amava.
Pera, o que?
Eu to maluca, só pode.
-Já vai ficar tudo escuro e tô começando a ficar com fome, é melhor voltarmos pro acampamento.
Isso me tirou do transe.
-Sim, é claro.
Comecei a me sentir meio estranha, mas ignorei. Levantamos e quando íamos entrar na floresta, senti uma tontura forte e parecia que eu enxergava manchas.
-Peter? Eu acho que eu não tô me sentindo bem.- minha voz saía um pouco falha e com certeza sem força.
Quando percebi tudo estava escuro e eu não conseguia me movimentar.

My black hair and your black heartOnde histórias criam vida. Descubra agora