Capítulo 45- nunca fiz- Pan

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*Peter's vision
Flashback on
Estávamos lendo alguns livros quando um dos meninos bateu na porta. Sem tirar os olhos das palavras o mandei entrar. Até que olhei da direção da porta e vi que ele fazia um sinal para conversar comigo. Pra ser em particular, deve ser alguma notícia sobre o que me preocupava.
Saí e fechei a porta.
-Eles vão vir em dois dias.
-Dois dias?!
Não era o que eu esperava dos informantes da outra terra.
-Eles deveriam ter me avisado com mais antecedência. Ameaçe-os um pouco.
Eles queriam me ver morto ou que eu desistisse. Não sei o motivo de tanto drama, eu poderia simplesmente pegar o coração do garoto. Sim. Mas tenho outro plano, porém eu ainda precisaria do garoto pra que acontecesse. Porém eu tendo que pegar emprestado o menino daquela família, eles pegariam algo que me importasse também, ou alguém. Eu poderia simplesmente contar à eles o plano? Não, na verdade não. Precisava que o menino realmente acreditasse que a ilha e eu eram como as histórias infantis, apenas crianças inocentes se divertindo, mas a família só iria pressioná-lo a fazer isso, nem acreditaria em mim ou o levariam embora antes do tempo; então depois disso eu passava essa responsabilidade pra Izzy. Ela sabia que eu não precisava do coração do menino e que ela ajudaria de alguma forma, mas não sabia como.
-Pan, e há outros.
-O que?
-Outros estão vindo, alguns para te impedir de salvar a ilha e outros pra tentar ter o poder dela.
Comecei a rir.
-Ninguém tem o poder da ilha além de mim.- mas a maioria não é lá inteligente- mas...eles não sabem disso.
-E fariam e destruiriam qualquer coisa no caminho
-Pra passar por nós ou tentar nos destruir no caminho
E nós temos um ponto fraco agora, se a acertassem... Todos caíam. E só de pensar em que aqueles homens pensariam quando olhassem pra ela, o que fariam... Não posso arriscar. Não posso machucá-la. Até que ela lidou bem com as coisas aqui, com a matança. Mas seria muito pior. Sei que ela sempre consegue e sempre me impressiona, mas nunca me perdoaria se fizessem algo com ela, não posso arriscar. Sabia o que tinha que fazer e isso já me quebrava, voltei pra dentro tentando não demonstrar que estava com raiva. Peguei algumas armas e desci pra fazer um treinamento rápido e surpresa pros meninos, tinha que saber como estavam pra o que vier.
-Ok- ela disse calmamente e tentei guardar na memória o som da sua voz, que sempre me acalmava.

Estava meio tarde quando voltei pra cabana, subi e lá estava ela. Com os cabelos escuros ocupando mais que um travesseiro inteiro. Novamente tentava guardar aquela cena na cabeça, não saberia quando a veria novamente. Me arrumei pra dormir e deitei no lado dela, a abracei. Não queria fazer isso, mas não tenho outra opção, ela não vai me escutar, vai fazer o que quer.
-Vai ficar tudo bem...-sussurrei em seu ouvido, aquela frase era tanto pra mim quanto pra ela.

Na manhã seguinte, a levei pra praia. Ia tentar dar o máximo de lembranças boas pra ela, talvez um dia ela me perdoe. Queria faze-la o mais feliz que podia, porque no mundo dela não é muito fácil, sempre problemas de adultos interferindo os pensamentos e pressões dos adolescentes. Almoçamos e fiz mais algumas surpresas à ela. Depois do jantar a vi fazendo os meninos dormirem, espero que eles guardem isso.
Aquilo estava me matando.
Fiz um sinal para Izzy me acompanhar, a peguei e a levei ao céu estrelado que ela tanto amava.
-Voar? Faz tempo que você prefere isso a se transportar- ela me disse com um sorriso
Queria sorrir de volta, mas não conseguia. Então apenas dei de ombros.
Aquilo estava me matando.
A levei ao nosso precipício, a sombra me encontraria aqui.
Percebi que ela ia falar algo e disse o que deveria dizer, tentando parecer o mais natural possível.
-Você vai embora.
-O que?
Por favor, eu não consigo repetir.
-Você me escutou.
Uma saída.
-Posso pelo menos saber o porquê?
Como eu queria te falar o verdadeiro motivo, mas conheço você, você vai ficar aqui.
-Você já bateu o recorde de meninas que ficam mais tempo aqui, acho que já está bom.
-Ok, qual a aposta?
-Não tem aposta. Os meninos cansaram, eu cansei.
Por que aquilo doía tanto? Não conseguia falar direito, mas tinha que fazer.
-Olha, não é difícil entender. O motivo? Talvez você seja fraca e frágil demais,-não é verdade, pra favor não acredite em mim- não consegue nos acompanhar- só estou de protegendo.
-Eu não sou fraca!- ela odiava ser chamada isso, e eu sabia, como também sabia os motivos que ela confiou em mim pra contar. E eu apenas os jogava.
-Você não consegue fazer nada sozinha! Como uma filhinha mimada do papai! Que história triste, talvez eu chore por dentro.
-SIM EU POSSO SER INDEPENDENTE E NÃO PRECISO DE NENHUM MENINO OU HOMEM MUITO OBRIGADA
Não mesmo, já vi o que você pode fazer.
-Não foi muito o que pareceu. Cometeu tantos erros, alguns já machucaram pessoas inocentes.
Não me escute, você já salvou tantas pessoas, salvou os meninos, me salvou.
Tentava não demonstrar nenhuma expressão, sendo que eu realmente não tinha, eu estava me destruindo e levando ela junto.
-Foi tudo uma mentira? Nada foi real?
Nunca senti algo tão real e incrível na minha vida.
-Já me disseram várias vezes "Peter Pan é um monstro, ele não tem sentimentos", nunca acreditei
-Talvez devesse- por favor não acredite
-Sim, talvez eu devesse. Desculpe por confiar em você
-Não se desculpe, acontece com os mais fracos
Fiz aquilo novamente.
Cheguei perto de seu ouvido fazendo o máximo pra simplesmente não cair.
Sussurrei pois não conseguiria dizer aquilo mais alto, nem um tom sequer.
-Não te amo- queria apenas me matar ali mesmo- nunca fiz.
Me perdoe Izzy, não posso deixar que façam nada com você. Preciso te empurrar pra longe de mim, porque a minha volta só há espinhos.
Vi uma lágrima escorrendo de seu lindo rosto. Eu tinha feito aquilo.
Talvez eu realmente seja o monstro que todos falam. Ela matou por mim, se machucou por mim. Eu sabia que não a merecia e a cada segundo tinha mais certeza disso. Ela se sujou de vermelho como se fosse uma simples tinta.
A sombra a levava embora e com ela ia uma parte da minha alma, os sentimentos.
Após não vê-la mais através das nuvens, caí de joelhos. Se eu simplesmente me jogasse daquele lindo precipício que tornamos nosso. Me restava muito? Talvez se eu simplesmente desistisse.
Senti o vento em minha direção, a ilha se comunicava. A brisa soprava palavras para mim.
Tem razão, se eu morresse, que eu visse então aquele sorriso ou as bochechas coradas causadas por mim mais uma vez.
Flashback off

My black hair and your black heartOnde histórias criam vida. Descubra agora