Capítulo 2 - O lobo que não confia

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Yoongi gostava muito da época em que as cerejeiras estavam floridas, quando as flores róseas enfeitavam externamente as casas da classe mais favorecida do reino, que nada mais era do que um conjunto de hanoks, casas tradicionais de madeira, cercadas por muros, com um grande prédio central onde o rei tinha seus contatos diplomáticos. Havia, além disso, um salão em prédio próprio para os jantares e rituais religiosos, assim como uma área privada para o líder e uma ilha artificial onde Yoongi e seu irmão gostavam de se refugiar, deixando a rainha por vezes enlouquecida com o sumiço dos quase gêmeos, tamanha semelhança que tinham entre si.

Agora, no estado em que estava, Yoongi desejou poder ser aquela criança novamente que não tinha muitas preocupações além da de se manter em meio a paisagem bucólica e colorida, atento para não ser derrubado no lago. Ao invés disso, estava apoiado no canto da cela em que o deixaram, grogue demais pelo efeito da marca de punição em seu torso, no espaço entre sua cintura e seus quadris.

Esta marca só era feita pelos lobos carrascos que tinham uma espécie de saliva que em conjunto com a mordida causava uma infecção e dor, por vezes, insuportável, que incomodava bastante por algum tempo. Pelo menos no seu caso não havia sido uma punição tão severa, Jimin queria apenas mantê-lo de forma a não precisar estar preso, muito menos ameaçando arrancar um pedaço de carne de alguém.

Procurava sorrir sozinho ao recordar das memórias de sua infância, pensando em que momento tudo havia se perdido ao ponto de ter ido para tão longe, correndo risco de vida depois de tantos anos sendo cercado por proteção, agora tendo que lidar com a terrível dúvida que se alastrava ao ponto de fazer seu lobo revirar e grunhir dentro de si.

De qualquer forma, Yoongi estava nada feliz, planejando como sairia dali, enquanto tentava não se entregar ao delírio da febre, à medida que seu corpo tentava combater o agente estranho que circulava pelo local da mordida.

— Deixe-me passar! — escutou uma voz feminina no corredor, parecia irritada ao ponto de fazer o guarda não pensar duas vezes antes de afastar.

— Mas princesa, foram ordens do rei. — O guarda que vinha logo atrás tentava argumentar, enquanto evitava pisar no tecido vermelho aveludado que arrastava uma parte no chão.

Yoongi, ao escutar todo o alvoroço naquele lugar depois de um silêncio quase mórbido, só preenchido por vezes por súplicas em vão, procurou manter sua visão focada na silhueta que pedia para a porta gradeada de sua cela ser aberta.

Procurou se defender como pode, tentando se erguer e rosnar, mas estava fraco e com fome no momento, então só conseguiu realizar a segunda opção.

— Não se preocupe. — O sorriso meigo faz Yoongi por pouco não imitar o gesto ao perceber de que se tratava de uma jovem, bem mais nova do que qualquer outro lobo que viu desde que chegou ali. Seu cabelo estava trançado e seus traços lembravam vagamente o rei ou talvez apenas tivessem auras semelhantes. Os dois tinham vibrações energéticas, ainda que a pequena princesa fosse muito mais do agrado de Yoongi como companhia. — Vou te tirar daqui, meu irmão não é muito anfitrião com visitantes desconhecidos.

A princesa ouviu muitos protestos enquanto apoiava o prisioneiro com um braço em sua cintura, deixando que Yoongi passasse um braço por seus ombros para conseguir se apoiar de pé, sentindo o cheiro bem adocicado que a maioria dos ômegas tinham. As outras celas fizeram um protesto barulhento que a jovem ignorou, sabia reconhecer injustiças e desde que soube do novo prisioneiro e o que seu irmão fez se viu na missão de dar um jeito naquilo.

Certamente Jimin ficaria furioso consigo, por jamais acatar aos seus pedidos ou ordens, mas era do estilo do irmão mais novo causar aqueles tipos de reações nos irmãos mais velhos. Além disso, os dois podiam ser bem teimosos quando colocam algo na cabeça, chegando a ser impossível negar os parentescos.

Bastardo InglórioOnde histórias criam vida. Descubra agora