Sem chão

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Cena 1
Já na loja que encomendara o seu vestido, Islene está provando-o acompanhada de sua prima Aída e da costureira.
AÍDA(vislumbrada)- Está linda Islene! Simplesmente linda!
Islene vai até o espelho.
ISLENE- Eu fico até emocionada...
AÍDA(se aproxima)- Você vai ser muito feliz, Islene. O Jorge será um excelente marido. Eu não o conheço tão bem, mas pelo pouco que o conheço, sei que é um verdadeiro cavalheiro.
COSTUREIRA(aproxima-se)- Eu só vou marcar os últimos ajustes.
Cena 2
     Construtora Golveia.
Em sua sala, Marcelo está acabando de analisar alguns documentos, quando então, Jorge bate na porta e entra.
JORGE(em êxtase)- Com licença, Marcelo. Eu acabei de fechar negócio com a Vertes. Nossa construtora vai ficar a frente das construções das moradias da população afetada pela tragédia em Mariana.
MARCELO(contente)- Que notícia boa. E quanto isso vai nos render?
JORGE- Um excelente capital que não resolverá os nossos problemas, mas já gerará um saldo positivo. Estamos caminhando na direção certa. A gente vai tirar o pé do buraco.
Cena 3
Anoitece.
Após um dia inteiro de trabalho, Zeca está chegando em casa.
ZECA- Cheguei mãe.
Zeca corre a vista pela cozinha e a sala, mas não vê sua mãe. Então, ele sobe para o seu quarto onde a encontra caída no chão desacordada.
ZECA(corre até ela desesperado)- Mãe. Mãe, fala comigo! Mãe. (grita) Socorro! Mãe. Alguém me ajuda.
Cena 4
Em seu apartamento, Islene está terminando de se arrumar, quando então ouve o soar da campainha. De imediato, ela segue abrir a porta.
JORGE(segurando uma rosa)- Boa noite!
ISLENE- Jorge.
Jorge a cumprimenta com um selinho.
JORGE- Te trouxe uma rosa!
ISLENE(pega-a fingindo gostar)- Que linda!
Jorge entra e Islene fecha a porta.
JORGE- Acho que cheguei muito cedo, né? Marcamos pras 21h.
ISLENE- Imagina. Eu já estou pronta. Só vou passar um batom e a gente vai.
JORGE- Escolhi o melhor restaurante pra gente jantar. Tenho certeza que você vai amar.
Cena 5
Já no hospital, Zeca está na sala de espera muito nervoso a espreita de notícias da sua mãe.
Não demora muito, Silene, amiga da sua mãe e dona de uma venda próxima a casa deles vem chegando preocupada.
SILENE- Zeca.
ZECA(levanta-se nervoso)- Dona silene.
SILENE- O que aconteceu meu filho?
ZECA- Eu não sei dona Silene. Eu cheguei em casa e já encontrei ela caída no chão.
Cena 6
Em seu quarto, Aída está em frente a penteadeira penteando seus longos fios de cabelos negros. Logo, Marcelo entra e sem falar nada se deita a cama cansado.
AÍDA(questiona-lhe)- Trabalhou muito hoje?
MARCELO(questiona-lhe sério)- O que você está insinuando Aída?
AÍDA(levanta-se e o encara)- Eu não tô insinuando nada. Só estou perguntando se você trabalhou muito hoje.
MARCELO- Eu sei muito bem onde você quer chegar.
AÍDA- Não pira. Tá com medo? Tá me escondendo alguma coisa?
MARCELO(levanta-se furioso)- Vá a merda Aída.
AÍDA(furiosa)- Eu suporto tudo Marcelo, menos traição.
Marcelo se retira.
Cena 7
Em seu quarto, Yuri está sentado a cama chorando após se automutilar. Como forma de alento para o seu sofrimento, ele aprecia o sangue que escorre pelos seus pulsos.
"- De acordo com especialistas, quem pratica a automutilação não tem por necessidade provocar um suicídio. Isso porque, para cometer o suicídio, tem-se conhecimento de técnicas mais efetivas que envolvem desde outros atos físicos a ingestão de medicamentos. A ideia da automutilação tem a ver com alívio emocional a partir de uma dor física."
Cena 8
Na cozinha, Hondina conversa com seu Chico, jardineiro da mansão.
HONDINA- O Yuri ficou assim por culpa do seu Marcelo. Ele nunca foi um bom pai.
CHICO- E piorou ainda mais com o sumiço da dona Elvirinha. Ele era tão próximo a vó. Mas próximo até do que da dona Aída.
HONDINA- A dona Aída é outra pobre infeliz seu Chico. Sustenta um casamento de aparências e alimenta uma cobra dentro da sua casa...
CHICO- Você tá falando da dona Islene, Hondina?
HONDINA- De quem mais poderia ser homem! Aquela mulher é um verdadeiro demônio. Se faz de boa prima, mas por trás mete a faca nas costas da dona Aída. Essa família tá de cabeça pra baixo desde quando o seu Gonçalo morreu e a dona Elvirinha sumiu. E tem mais, eu ainda suspeito que o seu Marcelo esteja envolvido com esse sumiço da dona Elvirinha.
Cena 9
(A música "Estoy enamorado" de Donato e Estéfano começa tocar ao fundo)
No restaurante, Jorge e Islene estão sentados em uma mesa a luz de velas.
JORGE(pega a sua mão)- Eu te amo Islene. Você é a mulher da minha vida.
ISLENE(friamente)- Também te amo.
JORGE(ignora)- Tá tudo bem? Você parece que não gostou...
ISLENE- Eu não sou romântica, Jorge. Eu não curto nada disso: jantar a luz de velas, música melosa tocando e tudo mais. Mas eu estou aqui com você, num estou?
JORGE(tristonho)- Se você preferir podemos ir para outro lugar...
ISLENE- Não. A gente janta e você me leva de volta pra casa.
Cena 10
De volta ao hospital, Zeca e Silene permanecem na sala de espera, quando então o doutor Albieri adentra tenso.
ZECA(levanta-se e aproxima-se nervoso)- E então doutor, como está a minha mãe?
SILENE(aproxima-se almejando uma resposta)- Fala doutor! Como está a minha amiga?
ALBIERI(retruca sério)- O caso da paciente é delicado. Ela está com um tumor no cérebro e precisa passar por uma cirurgia imediatamente.
ZECA(leva aos mãos a cabeça desesperado)- Não.
SILENE- Meu Deus!
ALBIERI- Como o tumor já se encontra em estágio bem avançado, eu aconselho que vocês procurem fazer a cirurgia particular. Não dar para esperar pelo SUS, haja vista a gravidade do problema.
SILENE- E quanto custa essa cirurgia doutor?
ALBIERI- Em média uns setenta a oitenta mil reais.
SILENE(preocupada)- Meu Deus!
ZECA(aos plantos)- Eu não tenho esse dinheiro, doutor.
Cena 11
Amanhece o dia.
No cemitério local, amigos e familiares se despedem de Herculano.
SIMONE(atira uma rosa sobre o caixão e resmunga)- Quem fez isso com você vai pagar muito caro, meu amor.
Cena 12
Ainda na sala de espera, Zeca conversa com Silene.
ZECA- Eu vou salvar a vida da minha mãe, Silene. Eu vendo o meu táxi, peço dinheiro na rua, deixo até de comer mas eu salvo a vida da minha mãe.
SILENE- Eu vou te ajudar, Zeca. Não é muito o que tenho, mas há de ajudar.
ZECA- Eu agradeço dona Silene. A senhora, por favor, fique aqui e qualquer coisa me avise imediatamente que tô indo arrumar esse dinheiro.
Zeca se retira as pressas.
SILENE(retruca sem entender)- Como assim? Zeca, aonde você vai?

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