Cena 1
Zeca retruca para Islene sem entender nada:
ZECA- A senhora tá me confundindo. Eu me chamo Zeca.
ISLENE(insiste)- Para de brincadeira Marcelo. Como você conseguiu se salvar daquele acidente?
ZECA- Desculpe, mas a senhora está me confundindo com outra pessoa.
Zeca para o carro no acostamento, pega sua carteira e lhe apresenta o seu documento.
ZECA- José Ribamar dos Santos.
ISLENE(confere espantada)- Não é possível! Você é idêntico ao Marcelo, parece até irmão gêmeo.
ZECA- Eu só pareço mesmo com esse tal aí, senhora. Eu sou mesmo o José Ribamar dos Santos, mas conhecido por Zeca.
Islene fica lhe encarando com planos obscuros em mente.
ISLENE- É impressionante isso! Você se passa brincando pelo Marcelo.
ZECA- Eu não tô gostando dessa conversa, senhora. Acho melhor a senhora me dizer pra onde vai...
ISLENE- Você me passa o seu contato?
ZECA- Pra quê a senhora quer o meu contato?
ISLENE- Pra quando eu for sair de novo eu lhe chamar. Eu gostei de você.
ZECA(incomodado)- A senhora me desculpe, mas não vai dar não...
ISLENE(retira algumas cédulas de cem do bolso)- Eu pago bem.
Zeca olha para o dinheiro e retruca após alguns segundos.
ZECA- A senhora tá me deixando assustado, viu.
ISLENE- Me passe o logo o seu contato homem! Não tenha medo. Eu sou apenas uma amiga que ainda vai lhe ajudar muito.
Mesmo intrigado com a atitude de Islene, Zeca nota o seu número num pedaço de papel e a entrega.
ZECA- Aí o meu zap!
ISLENE(estende-lhe a mão)- Islene Calatão, prazer!
ZECA(pega a sua mão)- Todo meu.
Cena 2
Na empresa, Sheila recebe a ligação de Simone.
SHEILA- Simone.
SIMONE(por telefone)- Oi amiga. Tudo bem?
SHEILA- Comigo tudo ótimo, já aqui no meu trabalho tá uma loucura menina. Parece que o meu patrão morreu.
SIMONE- Nossa!
SHEILA- Acidente de carro. Morreu o sub-presidente e o dono.
SIMONE- Que azar. Liguei pra te avisar que não vai dar pra mim ir pro Rio esse final de semana....
SHEILA- Não acredito! Eu já tinha programado um programinha pra gente.
SIMONE- O meu pai adoeceu. Vou ter que passar uns dias aqui cuidando dele, mas até o final do mês eu chego aí.
SHEILA- Vem mesmo amiga. Aí amiga, eu preciso te falar uma coisa...
SIMONE- O que já foi dessa vez? Mais um encontro com um paquera da net?...
Cena 3
(Um toque de suspense começa tocar ao fundo)
A polícia juntamente com cães farejadores estão no local do acidente a procura do corpo de Marcelo, mas infelizmente não encontram nenhuma pista.
Cena 4
Uma semana depois...
Na sala, o delegado Almeida conversa com Aída.
Estão em cena além deles Islene, Hondina, Chico e Yuri.
ALMEIDA- As buscas foram encerradas! Infelizmente não encontramos nenhuma pista do corpo do seu Marcelo.
AÍDA- Então ele pode está vivo?
ALMEIDA- Tudo é possível.
Nesse momento, Islene sorrir disfarçadamente.
AÍDA(cabisbaixa)- Mais um desaparecido na família.
ISLENE(segura a sua mão)- O Marcelo vai aparecer Aída. Ele tem todos os defeitos do mundo, mas eu não desejo mal a ele. O Marcelo vai tá vivo.
AÍDA- É tudo que eu mais quero, Islene.
Cena 5
Islene está saindo da casa de Aída, e logo pega o celular e liga para Zeca, que está em uma corrida, mas acaba lhe atendendo.
ZECA- Alô!
ISLENE- Oi Zeca, é a Islene. Eu preciso muito falar com você.
ZECA- Hoje não vai dar. Eu estou indo pra casa. Tenho umas coisas pra resolver...
ISLENE- Me passa o seu endereço. Eu vou até a sua casa...
ZECA- Qual o interesse da senhora em mim, hem?
ISLENE- Se você me passar o seu endereço, hoje você fica sabendo.
Cena 6
Cai a tarde.
Já em casa, Zeca está apresentado o seu táxi para um possível comprador.
ZECA- O carro está em perfeito estado...
COMPRADOR- Ele tá conservado, mas está velho. Ele não vale o dinheiro que você está pedindo.
ZECA- O meu possante é muito melhor que muitas máquinas por aí, rapaz. Esse bichinho aqui nunca me deixou na estrada. Eu só estou vendendo-lhe porque estou precisando de um dinheiro...
COMPRADOR- Eu sinto muito, mas eu não dou o valor que você tá pedindo nele não.
ZECA- E quanto você dá nele?
COMPRADOR- No caro, dez mil.
ZECA- Tá maluco! Eu nunca que vou vender o meu possante por esse valor.
COMPRADOR- Essa é a minha oferta.
ZECA- Então pode ir embora. Eu não vendo ele por esse valor nunca.
COMPRADOR- Se mudar de ideia, me liga.
O comprador se retira, e nesse momento um UBER para em frente a casa de Zeca, e em seguida Islene desce e se aproxima.
ISLENE- Zeca.
ZECA- Islene.
Os dois ficam se encarando.
Cena 7
Zeca adentra em sua humilde casa acompanhado de Islene, que não parece confortável.
ISLENE(correndo a vista por cada canto)- Que casinha pequena e simples, né?
ZECA(retruca)- Eu não fui criado no luxo não dona.
ISLENE- Mas eu tenho certeza que sempre sonhou em mudar de vida, num sonhou?
ZECA- Através dos meus esforços sim.
ISLENE(solta uma risada)- Você ainda não percebeu que nesse país pessoas honestas não mudam de vida nunca!
ZECA- Eu penso diferente da senhora. Eu acho que quem é honesto e trabalha duro consegue mudar de vida sim. Deus ajuda a gente...
ISLENE(solta outra risada)- Que Deus o que! Se você não fizer a sua parte, Deus também não ajuda.
ZECA- Aonde a senhora quer chegar, hem?
ISLENE- Eu vou direto ao ponto! (pausa) Eu quero que você assuma o lugar de uma pessoa. De um milionário que acabou morrendo.
ZECA(nervoso)- A senhora tá maluca? Isso é crime! Eu nunca vou fazer isso. Eu sou pobre, mas tenho caráter.
ISLENE- Você não tá entendendo! Você vai ser dona de uma verdadeira fortuna...
ZECA- Quem não está entendendo é a senhora! Eu não sou um fora da lei. A minha mãe me ensinou a ser um homem direito. Eu tenho dignidade, diferente da senhora. Eu tenho princípios...
ISLENE- Princípios de pobre? Morar num pardieiro, numa periferia nojenta onde só tem favelado e marginal...
ZECA(furioso)- A senhora por favor se retire da minha casa. A senhora tem sorte que eu não sou um covarde que bate em mulher, caso contrário, eu lhe daria uma sova bem dada.
ISLENE- Você ainda vai mudar de ideia. É só questão de tempo.
Islene se retira.
ZECA(grita da porta)- Vá embora e não volte nunca mais aqui, sua vagabunda.
Cena 8
Dias depois...
Na venda de Silene, Zeca está a conversar com ela preocupado com a sua situação financeira.
ZECA- Eu mal consegui o dinheiro do aluguel, dona Silene. Sem o benefício da mamãe a coisa ficou difícil, e até agora não consegui vender o meu táxi.
SILENE- E o agiota?
ZECA- Eu não tenho dinheiro pra pegar nem o juro.
SILENE- Zeca, essa gente é perigosa. Se você não pagar, eles podem tentar alguma coisa contra você.
ZECA- Eu não tenho dinheiro dona Silene. Ou eu pago o aluguel e as contas principais, ou pago o juro ao agiota. Eu tô sem saída.
SILENE- Eu queria muito poder te ajudar, mas você sabe que essa venda não me dar quase nada de lucro. Tudo que pego só da pra pagar a farmácia e o aluguel.
ZECA- Eu sei dona Silene. Mas não se preocupe não que eu vou dar um jeito. Eu vou indo pra casa. Bom dia pra senhora.
SILENE- Bom dia filho.
Zeca segue pra sua casa, e quando para pra abrir a porta acaba sendo abordado por dois caras, que lhe jogam no chão e começam a lhe espancar.
ZECA- Que isso? Ah... Socorro!
Ao vê tal cena, Silene corre até a casa de Zeca.
SILENE- Zeca.
BANDIDO(resmunga no ouvido de Zeca após dá-lhe uma verdadeira surra)- Da próxima, você morre. Ou então, paga a grana que tá devendo, mané!
Tonho pega a chave do táxi que na bolso de Zeca, e foge com seu comparsa.
SILENE(se agarra com Zeca aos plantos)- Zeca, eu falei Zeca. Eu falei que essa gente era perigosa. Olha o que eles fizeram com você, olha.
Completamente ferido, e com a boca sangrando, Zeca cai em planto.
ZECA- Eles levaram o meu táxi...
SILENE- Eu te falei pra não se meter com essa gente e você não me ouviu. Eles vão te matar Zeca. Eles vão te matar se você não pagar o dinheiro que tá devendo.