Cena 1
As horas se passam. Aída, Zeca, Hondina e Chico estão na sala muito nervosos a espreita de Yuri que ainda não voltara para casa. Aída, por sua vez, tenta pela décima vez ligar para ele, que não atende.
AÍDA- Ele não atende!
ZECA- A culpada disso tudo é você Aída!
AÍDA(retruca nervosa)- Eu?
ZECA- Você sim. Você descobre que o menino se automutila e ao invés de sentar e conversar, começa dar um escândalo...
AÍDA- O culpado é você. Se o Yuri perdeu o juízo é culpa sua. É culpa sua que nunca foi um bom pai.
ZECA- Isso não se chama "perder o juízo"! Isso se chama depressão, Aída. São por causa de pessoas assim como você que tantas vidas acabam sendo tiradas todos os dias.
Nesse momento, Elvirinha e Desio adentram na mansão.
ELVIRINHA(com os saltos na mão)- Que noite, em? Dancei pra me acabar... (Ao vê todos na sala) Reunião em família? Que caras são essas? Aconteceu alguma coisa?
CHICI- O Yuri fugiu de casa.
ELVIRINHA(se aproxima)- Como assim fugiu de casa?
ZECA- Eu vou dar umas voltas de carro pela cidade.
AÍDA- Eu vou com você!
Cena 2
(O instrumental "Ventos" começa tocar ao fundo)
Após andar por algum tempo, Yuri se aconchega em um banco de praça muito nervoso.
Por outro lado, Zeca e Aída percorrem as ruas a sua procura.
Cena 3
Amanhece o dia.
(Um toque de suspense começa tocar ao fundo)
Já na estação de trem, Yuri caminha apressadamente muito nervoso com planos obscuros em mente.
YURI(consigo mesmo)- Eu sou um fraco!
Yuri segue caminhando em direção a linha do trem, mas logo é surpreendido por André, que o vê e lhe acompanha.
ANDRÉ(chama-o)- Yuri!
(O toque de suspense para de tocar)
Yuri para e volta seu olhar imediatamente para ele.
ANDRÉ(continua)- O que está acontecendo? Você tá chorando?
YURI(retruca se retirando)- Me deixa André!
André segura em seu braço, e diz:
ANDRÉ- Me deixa nada! Você vai me falar o que está acontecendo.
(O instrumental "On the road again" começa tocar ao fundo)
Fragilizado pelo medo, pela insegurança, Yuri abraça André em plantos.
ANDRÉ- Ei, calma! Tá tudo bem. Eu tô aqui. (Pausa) Fala o que está acontecendo.
Cena 4
Ainda sem nenhuma notícia Aída, Zeca , Elvirinha e Desio permanecem na sala ansiando um ligação de Yuri.
AÍDA(nervosa)- O que aconteceu com o meu filho?
ELVIRINHA- O Yuri parecia está tão bem! Ele me ajudou comprar o ônibus, tiramos várias fotos ontem...
ZECA- A depressão é silenciosa. Muitas vezes, convivemos com a pessoa diariamente e não nos damos conta que ela sofre de depressão. Por isso, essa doença se torna ainda mais perigosa.
AÍDA(tentando ligar para ele)- Atende, meu filho. Atende esse celular.
Cena 5
(O instrumental "Timeless" começa tocar ao fundo)
Em um parque próximo da estação, Yuri se abre para André aos plantos:
YURI- Eu não aguento mais! Eu preciso de ajuda. Eu sou doente, eu sou doente, André. (Arregaça a manga da blusa) Olha o que eu fiz no meu corpo.
ANDRÉ(pega a sua mão)- Calma! Eu tô aqui. Eu vou te ajudar. Vai ficar tudo bem.
YURI- Eu sou um doente.
ANDRÉ- A sua família sabe que você está aqui?
YURI- Não. Eu não quero vê-los. Eu tenho vergonha.
ANDRÉ- Calma! Não precisa ter vergonha. Eles te amam, e também vão te ajudar a sair dessa. Eu te levo pra sua casa. Eu vou com você.
Em plantos, Yuri é conduzido por André para fora do parque, e logo em seguida pegam um UBER.
Cena 6
Na cela, Simone está encostada nas grandes pensando no beijo que Marcelo, ou melhor, que Zeca lhe roubou. Não demora muito, a carcereira se aproxima e chama pelo seu nome:
CARCEREIRA- Simone Siqueira.
SIMONE(retruca tensa)- Sou eu.
CARCEREIRA- Tá livre!
SIMONE(surpresa)- Livre?
Cena 7
Sentada ao sofá, Aída chora a ausência do seu filho, quando então ele adentra pela porta da frente acompanhado de André.
AÍDA(ao vê-lo, levanta-se, corre até ele e o abraça)- Yuri. Yuri, meu filho. Graças a Deus que você tá bem. Eu fiquei aqui desesperada sem notícias suas. Aonde você estava?
Nesse momento, Elvirinha vem descendo a escada e se emociona ao vê-lo.
ELVIRINHA(se aproxima)- Meu neto! Graças a Deus que você tá bem.
ANDRÉ(retruca)- A gente se encontrou na estação do trem, num foi Yuri?
ELVIRINHA(volta sua vista para André)- E você? Que rapaz bonito! Quem é?
ANDRÉ- Sou amigo do Yuri.
ELVIRINHA- Que amigo gato você tem, Yuri. Se eu fosse uns vinte anos mais nova lhe dava uns pega.
André sorrir envergonhado, e retruca:
ANDRÉ- Obrigado. Amanhã eu vou levar o Yuri até uma amiga minha, né Yuri?
AÍDA- Que amiga?
ANDRÉ- A Wall! Ela é psicóloga. Eu tenho certeza que o Yuri e ela vão se dar muito bem.
ELVIRINHA(retruca)- Gostei de você rapaz! Gosta de dançar?
ANDRÉ- Um pouco!
ELVIRINHA- Está convidado para o Balada dos Pitcholos, e não precisa pagar nada.
ANDRÉ(questiona sem jeito)- E o que é isso?
ELVIRINHA- Meu ônibus boate! Foi o Yuri que comprou pra mim.
ANDRÉ- Irei conhecer. (Pausa) O Yuri tá entregue. Agora eu vou indo.
ELVIRINHA- De jeito nenhum. Antes de ir, vai fazer um lanche comigo e com o Yuri, né Yuri?
YURI- Eu tô sem fome...
ELVIRINHA- Não faça essa desfeita com o seu amigo. Você vai lanchar com a gente sim. E melhor, eu vou pedir pra Hondina levar nosso lanche lá pra piscina.
Cena 8
Simone está saindo do presídio, e logo é surpreendida por Dantas, seu advogado que lhe espera na porta.
DANTAS(chama-a)- Simone.
SIMONE(retruca)- Quem é você?
DANTAS(estende-lhe a mão)- Dantas Sobral, seu advogado!
SIMONE(ignora)- Mas eu não contratei advogado nenhum!
DANTAS- O seu Marcelo Golveia me contratou para cuidar do caso da senhora. Eu consegui um habeas corpus que lhe concede o direito de pagar a sua sentença em liberdade. Como a senhora é réu primária, foi fácil.
Cena 9
Na sala da presidência, Zeca está conversando com Hondina por telefone, que lhe conta que Yuri voltou pra casa.
ZECA- Graças a Deus Hondina, e graças também a esse amigo dele, né?
Enquanto isso, na recepção, Sheila está separando alguns documentos, quando então Simone vem chegando nervosa.
SIMONE- O doutor Marcelo se encontra aqui Sheila?
SHEILA(surpresa)- Simone! Mas você num estava presa?
SIMONE(aponta para a porta e retruca)- Aquela é a sala dele, né?
Sem perder tempo, Simone invade a sala de Marcelo, ou melhor, de Zeca.
SHEILA(confusa)- É, mas... Simone...
SIMONE(questiona-lhe assim que entra na sala)- Qual o seu interesse em me tirar da cadeia, em?
(A música "Sinônimos" de Chitãozinho e Xororó e Zé Ramalho começa tocar ao fundo)
Zeca volta seu olhar imediatamente para ela e os dois ficam a se encarar.
