O mundo sempre foi uma versão vazia e triste para Carol Grimes, com o abandono e a falta de amor da sua mãe e os reflexos que isso causaram na sua vida. Mas ela nunca imaginou que quando a humanidade ruísse, mostrando o pior do ser humano e a devast...
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DIA 620, manhã
— É uma pena, não é mesmo?
Meus ombros se erguem rapidamente, em um solavanco repentino com a chegada de Hershel, que ri ao notar que me assustei, depois se abaixa e senta no gramado ao meu lado. Ambos ficamos em silêncio, encarando os tons azuis escuros no céu darem lugar para o laranja e amarelo de mais uma manhã.
Solto um suspiro e encaro seu novo pé, deixando um risinho se escapar. Quem diria que meu irmãozinho seria a pessoa capaz de fazer uma novo pé para Hershel.
— Como você está indo? — pergunto, indicando seu pé com o queixo.
— Ah, está ótimo. Carl fez um grande trabalho e é como não ter perdido um pé.
Balanço a cabeça e sorrio, voltando a encarar o céu. Agora me pergunto que é uma pena, e faço uma careta para Hershel.
— O que é uma pena?
— Você demorou — pontua, rindo levemente, mas depois suspira. — É uma pena que o que lutamos tanto para manter do lado de fora, conseguiu entrar.
Ah, isso... Suspiro outra vez e direciono meu olhar para o grupo de pessoas em frente aos túmulos que foram postos para os que morreram. Inclusive Karen e David. Agora que temos um lugar fixo, as pessoas podem prestar cultos e chorar por aqueles que se foram, mesmo que eu ache isso uma perda de tempo. Encolho meus ombros e apoio a cabeça nos joelhos, começando a puxar meus cadarços.
— Sabe, aqui perto há uma clínica veterinária...
— Está pensando em sacrificar alguém? — ergo a cabeça rapidamente — alguém quebrou a perna?
Hershel gargalha, balançando a cabeça para um lado e outro, tentando abafar a todo custo minha piadinha. Já a fiz milhares de vezes, mas ainda assim Hershel continua a rir.
— O que tem naquela clínica?
— Pode ter de tudo. Remédios, não sabemos. O que sabemos é que vamos precisar de tudo isso, pois há mais pessoas ficando doentes.
— Glenn acha que a morte de Karen e David vão ajudar a impedir que mais pessoas fiquem doentes, mas papai discorda disso. Ele quer encontrar o culpado.
— Eu tive uma conversa séria com o Dr. S sobre isso — começa a falar, parecendo seriamente focado — ele concorda. Os dois apresentaram piores sinais da doença e o que estão se isolando, estão em níveis bem mais baixos. Karen e David eram do bloco D, onde tudo começou. Eles passaram a noite expostos.
— Mas não deveriam ter morrido por causa disso — lamento, encolhendo meus ombros — perdemos pessoas demais.
— E não há nada que possamos fazer além do que sempre fazemos.
— Seguir em frente?
Hershel balança a cabeça e se levanta, oferecendo-me um olhar compreensivo antes de ir embora, deixando-me aqui com todo esse tormento. Tudo o que eu menos queria era que as pessoas continuassem morrendo, mas não importa o que façamos, todos os dias estaremos perdendo alguém, seja pela morte ou pelas nossas escolhas e decisões.
