Capítulo Oito

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Segunda-feira. Fico deitado na cama durante alguns minutos, até criar coragem para levantar. Nada contra esse dia; na verdade, acho uma besteira as pessoas reclamarem das segundas-feiras. Para mim, todos os dias são exatamente iguais; a única diferença é que não abrimos o bar nesse dia. Mas hoje teremos uma exceção, pois um grupo de motoqueiros alugou o bar para fazer uma festa fechada. Sim, isso mesmo... Em plena segunda-feira. Não tivemos como recusar, pois eles pagaram um bom preço, e o dono da festa, que é o aniversariante, é um de nossos melhores clientes. Ele frequenta o bar desde que meu pai criou tudo isso aqui. O nome dele é George Collin, um milionário divorciado por sete vezes e com alguns filhos espalhados pelo mundo. No auge de seus sessenta anos, apesar de sua idade, ele é um homem cheio de energia e disposição. Às vezes até demais.

Após ir ao banheiro, sigo o mesmo ritual de todos os dias. Preparo meu café, forte e puro, ascendo um cigarro e fico olhando o movimento da cidade através da grande janela que há em minha sala. Algumas pessoas correm, outras passeiam com cachorros, crianças ou até mesmo sozinhas. Eu queria ter essa disposição. Mas essa animação e vontade de levantar, saindo correndo por aí não faz parte de mim. Prefiro observar, tomando um café forte ou um bom uísque.

Estou tão absorvido pelos pensamentos, que quase não escuto meu celular tocar. É Ethan.

— O que você estava fazendo que demorou tanto para atender? — pergunta. Acho estranho sua abordagem. Nem me deu bom dia, coisa que ele sempre faz e cobra de minha parte também.

— Estava pensando... — respondo e ele suspira.

— Como se saiu sem mim ontem? — Sinto o sorriso em sua voz, meu irmão está de volta.

— Muito bem se quer saber — digo e, pela primeira vez, sinto orgulho de mim em relação ao bar.

— Gostaria de estar hoje aí e ajudar na festa do George — diz.

— Seria mais fácil com você, mas por sorte temos funcionários bons no que fazem. Eles estão animados, pois sabem que ganharão um extra por trabalharem hoje.

Ethan ri.

— E como está Millie? — sua pergunta me pega de surpresa. Ele realmente gosta dessa garota.

— Hum... Eu acho que está bem. — Dou de ombros. — Ela não é de falar muito, não é?

— Mesmo que ele não possa me ver, disfarço um sorriso.

— Idiota! — Ethan diz e, em seguida, o silêncio se instala entre nós.

— Ela me ajudou a resolver umas contas ontem... — decido contar e quebrar o gelo.

— Ah, é? — pergunta.

— Sim, ela é muito inteligente — admito.

— Sim, ela é. Às vezes me ajuda também, quando estou com muitos afazeres no bar. Sabe, Savi, eu estava pensando que, talvez, você devesse tentar estudar a linguagem de sinais ou, quem sabe, leitura de lábios. Millicent consegue se comunicar dessa forma.

— E por que eu faria isso? — pergunto irritado. Estudar sinais... Leitura de lábios? Que loucura é essa?

— Temos que oferecer boas condições de trabalho a ela, Savi. Estou me esforçando para ajudá-la. Já consigo compreender as palavras quando ela move os lábios. Não é difícil. Tente pesquisar na Internet, irmão.

Não respondo. Ele provavelmente está certo, mas realmente não quero perder meu tempo com algo que não me é importante. Decido ignorar.

Penso por um segundo se devo ou não perguntar o real motivo de sua viagem. Sua desculpa esfarrapada não colou. Por mais que, nos últimos anos, tenhamos ficado distantes um do outro, eu o conheço muito bem. Quando decido perguntar, a campainha toca insistentemente.

Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.Onde histórias criam vida. Descubra agora