Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.

Capítulo Um

Um menino de angústia, agora, ele é um homem de alma

Negociado em sua miséria para a vida solitária da estrada

(Moving On-Asking Alexandria).

***

Os gritos e as comemorações em volta das mesas de jogos enchem meus ouvidos de maneira instantânea assim que coloco os pés no The Underwood's. Senti falta disso, da agitação deste lugar. Há uma energia aqui, que me move e me incita; isso é bom.

Percorro a fila de jovens que esperam por sua vez para apostar nas roletas e sigo para uma porta à direita, onde posso ter um pouco de tranquilidade. Sinto os olhares e sussurros às minhas costas, provavelmente estão curiosos a respeito de mim. É sempre dessa forma. Já estou acostumado com isso, então não me importo, apenas ignoro.

Assim que entro no minúsculo escritório sem janelas, encontro Ethan com sua aparência impecável, exibindo uma camisa engomada e um penteado à base de gel. Ele está sentado atrás da mesa abarrotada de papéis, muitos dos quais não faço a mínima ideia do que sejam.

Não posso deixar de rir com a visão diante de mim. Porra! Nós realmente somos irmãos? Às vezes, em momentos como este, pergunto-me como podemos ser tão diferentes um do outro, mas na verdade a resposta está diante de meus olhos: Ethan é a cópia perfeita de nossa mãe, conservador, reservado e tímido. Eu, o filho mais velho, sou bem diferente; já fui corrompido pelo mundo e todas essas coisas que dizem de um cara como eu.

— Sua excursão finalmente acabou? — Ethan pergunta, mal tirando os olhos do documento que tem em mãos.

— Espero que esteja perguntando por ter sentido saudades — respondo, jogando-me no velho sofá amarelo que está ao lado de um armário. Puxo um cigarro do bolso da jaqueta e levo aos lábios, sempre seguido pelo olhar inquisidor de meu irmão mais novo. Acendo-o com o isqueiro de prata que recebi de Morgan e inspiro uma grande tragada. O efeito é imediato. Sinto todos os pensamentos se aquietarem, automaticamente, em meu cérebro, liberando uma sensação de tranquilidade.

— Como eles estão?

Com o cigarro preso entre os dedos, fito Ethan através da fumaça.

— Mamãe tem passado horas no abrigo e fez amizade com uma nova vizinha ortodoxa. — Deleito-me com mais algumas tragadas, enquanto penso se continuo a falar sobre o que vi. — Morgan quer vender a casa.

Ele deixa o papel sobre a mesa e arregala os olhos em minha direção.

— Ele o quê?

Dou de ombros.

— Nós brigamos. Parece que o velho não se deu conta de que não está sozinho. Mamãe me contou que ele a está pressionando para que deixe as meninas. Ele pretende morar no campo — explico, jogando o que restou do cigarro na lixeira ao lado.

Ethan solta um suspiro e passa a mão pelo rosto. Está nervoso e irritado, exatamente como eu.

— Não entendo por que você insiste em chamar nosso pai pelo nome — expressa com um olhar perdido.

Sinto um nó na garganta.

— Você sabe o motivo — recordo-o entre dentes.

Meu irmão levanta de sua cadeira e caminha até onde estou, parando em minha frente de braços cruzados.

— As coisas... o passado não é importante, Savi — ele começa, e eu me coloco de pé rapidamente, encobrindo-o com meu tamanho.

Eu o encaro, meu corpo tremendo.