Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.

Capítulo Dezessete

Aperto a bolsa de gelo contra o queixo e deixo um gemido de dor escapar. Olho para Ethan, que está sentado no sofá a minha frente com uma expressão mortal, e volto a me recostar contra a almofada em que estou escorado.

— Eu deveria cortar suas bolas fora, Savi — ele diz num sussurro.

— Ethan, se você não calar a boca, eu juro que o jogarei pela janela — ameaço.

Ele se irrita e levanta do sofá, as mãos na cintura.

— Você não tem noção do que fez, não é?! Não percebe que Millicent é inocente? Como teve coragem de... — Ele passa a mão pelos cabelos e suspira profundamente. — Não consigo olhar para você, irmão.

Jogo a bolsa no chão e levanto também, mesmo que um pouco zonzo. Não imaginava que Ethan tivesse tanta força.

— É tão difícil entender que tudo que Millicent e eu fizemos foi consensual? Eu não a forcei a nada, Ethan, você me conhece, sabe que eu jamais faria mal a uma mulher. — Pela primeira vez, em muito tempo, estou sendo sincero com meu irmão mais novo. Parece que estou evoluindo.

Ethan balança a cabeça contrariado, seus punhos fechados contra as coxas.

— Eu a vi saindo daqui quase voando, Savi. Ela parecia assustada e estava chorando. Eu mal tive tempo de pensar em ir atrás dela para perguntar o que houve, pois ela correu e sumiu! E você sabe me dizer o motivo de tudo isso? — Ele pergunta quase gritando.

— Não, eu não faço ideia, Ethan. Quando acordei, ela simplesmente não estava mais aqui. — Deixo meus braços caírem junto ao meu corpo. — Olha, cara, eu não fui duro com a Millicent, posso garantir que ela aproveitou muito.

— Meu Deus! Você não consegue manter seu pau dentro das calças, não é Savi?! Estou com tanto ódio de você, que eu poderia quebrar seu pescoço! — diz, apoiando a cabeça na parede.

Algo em meu cérebro entra em descompasso. Será que...? Talvez Ethan goste de Millicent. É possível, pode ser que ele esteja com ciúmes. Sim, é provável, já que foi ele quem deu o trabalho no bar para ela. Apenas pensar nisso me deixa furioso. Saber que meu irmão pode estar interessado nela ou até mesmo que pode ter algo com ela...

Avanço para cima de Ethan e o encaro.

— Você e Millicent... — rosno, deixando que ele entenda o que estou querendo dizer.

Ele ergue a cabeça e me olha com uma expressão perturbada. Nunca o vi tão nervoso, tão diferente do verdadeiro Ethan.

— Você, Savi, é o cara mais idiota que já conheci. — Ele abaixa a cabeça e vejo que toma uma respiração profunda. — Por que é tão difícil para você entender que está fazendo mal a Millie? Por que não me ouviu dizer para ficar longe dela?

Eu olho para o teto, tentando compreender o que há com Ethan, o que ele quer me dizer. Quero entender também o que aconteceu com Millicent, o que eu fiz de errado para que ela fugisse de mim daquela forma, porque somente o pensamento de que a magoei me faz querer espancar a mim mesmo.

— Preciso ir atrás dela — digo pegando as chaves da moto em cima do balcão da cozinha.

Caminho para a porta, mas, antes que eu a alcance, Ethan está em minha frente.

— Você não vai. — Ele coloca a mão em meu peito e me empurra para trás.

— Saia da minha frente, Ethan. Não quero bater em você — aviso, esperando que ele dê um passo para o lado, mas ele se mantém imóvel, duro como uma pedra.

— Não posso permitir que você faça isso, Savi. Perdoe-me, irmão, mas eu não posso — sua voz treme, e acho que ele está em seu limite.

— Inferno que não pode. — Empurro-o para o lado e passo a caminho da porta. Quando seguro a maçaneta sinto um empurrão em meu ombro e logo sou arremessado ao chão.