Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.

Capítulo Dois

Tento, em vão, concentrar-me em meu próprio rosto refletido no espelho embaçado. Como sempre, esperava que um banho fosse melhorar meu aspecto, aliviar o mal-estar. Dessa vez, eu estava totalmente enganado. Minha cabeça está a ponto de explodir e somente a claridade da luz do sol que entra pela janela é capaz de fritar meu cérebro. Arrasto-me até a cozinha, apertando a toalha em volta da cintura. Abro a geladeira, procurando desesperadamente por alguma coisa para comer. Apesar de saber quais seriam as consequências de beber em jejum, parece que fui idiota o suficiente para não comer ontem à noite, enquanto estava me divertindo com a morena atraente.

Como é o nome dela mesmo? Sheyla? Lauren?

Minha cabeça lateja com o esforço por recordar o nome da mulher, mas isso não é relevante. Algo que não posso esquecer é o belo corpo do qual me aproveitei muito. Ela era boa. Ficava deliciosa de joelhos em minha frente enquanto me chupava.

Solto um gemido de frustração.

Se eu não tivesse ficado tão bêbado, poderia lembrar algo mais do que a cor de seus cabelos. Mas qual o problema nisso? Mulheres como ela sabem exatamente o que querem, compreendem que é apenas sexo casual e que, na manhã seguinte, não encontrarão ao seu lado o homem com quem foderam. Esta é a regra. Pego um prato de macarrão, coloco no micro-ondas e me apoio ao balcão, esperando a comida ficar pronta.

Tive muita sorte em entrar naquele clube de strippers na noite passada. Isso depois de atravessar a cidade procurando por algo que não fazia ideia do que era. Talvez eu precisasse apenas transar, extravasar a raiva acumulada em meu corpo.

Ethan foi um idiota fodido. Meu irmão mais novo, com seu jeito extremamente correto, sempre consegue me irritar. Tomamos conta do The Underwood's há três anos. Dirigir uma casa noturna não é o que eu gostaria, mas isso se tornou uma obrigação quando Morgan decretou que Ethan e eu deveríamos assumir os negócios. Ele sempre soube que minha vida era outra, mas, com toda sua autoridade e ignorância, conseguiu me fazer deixar tudo para trás com o intuito de honrar o negócio da família. Para meu irmão, foi a realização de um sonho; para mim, uma queda ao inferno.

Tenho vivido no inferno há anos, mais precisamente, nove anos. Morgan, desde a noite em que tudo aconteceu, jamais foi o mesmo. Ninguém, nunca mais, foi o mesmo.

O micro-ondas apita e eu retiro a tigela com o macarrão. Vou para o sofá e ligo a TV. Começo a comer, enquanto assisto a um jogo do Seahawks.

Quando aquilo ainda não havia acontecido, minha família se reunia para assistir aos jogos do Seattle. Minha mãe cozinhava para todos nós e depois se sentava ao meu lado, comentando cada detalhe imperceptível para a maioria das outras pessoas, mas que, para uma pessoa detalhista como ela, era fundamental. Normalmente eu acabava brigando com Ethan, porque sempre o considerei um inútil. Mesmo com os desentendimentos, porém, era um tempo bom.

Um tempo que jamais voltará.

Assim que termino de comer, desligo a TV e volto para o quarto. Confiro a hora no celular e vejo que, dentro de uma hora, o bar irá abrir. Visto-me rapidamente, pego a chave da moto e o capacete. Hoje quero estar lá antes do chato do meu irmão caçula.

***

Chego à frente do bar e estaciono minha amada Melody — uma Harley Davidson que comprei há alguns anos atrás — ao lado de uma bicicleta rosa, com um cesto branco, que parece ter saído diretamente dos anos 80.

Balanço a cabeça e bufo. Minha vida anda uma droga, irrito-me com facilidade e, às vezes, nem eu mesmo me suporto.

Com passos largos, entro no bar e, para minha sorte, está tudo calmo. Apenas uma música do Guns N' Roses, Patience, toca ao fundo e, por algum motivo, certa paz me atinge. Caminho até o balcão e cumprimento Lorenzo, um de nossos funcionários.