Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.

Capítulo Vinte e Dois

Ethan

Depois que Savi sai, chamo os funcionários para uma reunião importante, onde começo explicar algumas alterações na programação do bar. A princípio estranho o fato de que Enrico está direcionando olhares quentes à Teresa, que o corresponde com entusiasmo. Eles estão juntos? Bem, talvez Teresa tenha percebido que meu irmão mais velho não está mais interessado nela. Decido não falar nada a respeito, porque, enquanto relacionamentos pessoais não interferem no trabalho, não há motivo algum para que eu acabe com a festa dos dois. E isso inclui Millicent e Savi.

Ah, sim. Millicent está estranha desde que Savi saiu. Deixou de sorrir e agora mantém uma expressão preocupada. Eu a entendo, estou me sentindo assim também. Mesmo que meu irmão não compreenda, não quero seu mal, de forma alguma. Gostaria muito que ele entendesse que tudo o que faço é para seu bem. Sei que deveria ser ao contrário, ele deveria se preocupar comigo ou pelo menos esse cuidado deveria ser recíproco, mas é complicado.

Prometi a mim mesmo que cuidaria de Savi desde que ele foi acusado de ser um estuprador. É claro que nunca acreditei verdadeiramente nisso. Sim, houve dúvidas passageiras, mas logo foram postas de lado. Claro, foi diferente de meu pai, que nunca teve dúvidas quanto ao caráter do filho mais velho.

Outra parte de minha preocupação com meu irmão é sobre a relação dos dois. Morgan é o homem mais preconceituoso e grosseiro que já conheci e, apesar de ser meu pai e de que o amo, sei o quanto está errado. Errado em julgar Savi, errado em condenar o abrigo que meu irmão tanto lutou para construir buscando redimir-se do que supostamente havia feito e, de certa forma, salvar a própria alma. Penso que, se um dia Savi souber o que realmente tive que fazer para ajudá-lo com o abrigo, provavelmente não me perdoará com facilidade. Eu menti, mas não me sinto mal por isso. Eu simplesmente não suportaria ver aquele lugar fechar. É a vida de nossa mãe, que se dedica àquelas garotas, cuidando-as como se fossem suas filhas, mas, devo admitir, também o fiz por minha própria consciência.

— E a nova encomenda de bebidas, Ethan? — Enrico pergunta, olhando por cima de um caderno, anotando cada nova ordem.

Bebo um pouco de água e confiro, na planilha que fiz mais cedo, a quantidade de bebidas que devemos solicitar. Planejar, calcular e anotar me acalma. Claro, não com a mesma potência de uma boa noite de sexo duro, como tanto gosto, mas é uma opção para quando preciso relaxar.

— Ligue para o fornecedor e peça o suficiente para três semanas. Ainda temos um pouco no estoque — informo, virando a página para acompanhar o que ainda tenho para tratar com os funcionários.

Enquanto estou lendo o que está escrito, os cálculos sobre quantidades de alguns tipos de comidas que servimos, Enrico e Teresa cochicham um no ouvido do outro, dando risadinhas infantis. Olho para Millie e vejo o quanto ela está vermelha, possivelmente constrangida pela demonstração de afeto em público. Não consigo imaginar que essa garota doce tenha se envolvido com Savi, tendo em conta que são tão diferentes.

***

Um pouco mais de uma hora se passou até que eu consegui explicar todos os detalhes que decidi. São decisões simples as quais tenho certeza de que Savi aprovará, apesar de ele não ter participado da reunião.

Quando enfim Lorenzo, Teresa e Enrico saem do bar, Millicent e eu ficamos sozinhos, ainda sentados próximos. Termino de anotar mais algumas coisas e vou para o escritório pegar minhas coisas. Assim que volto, encontro-a segurando sua pequena bolsa perto da saída.

— Vamos? — convido, apontando para fora.

Ela espera que eu tranque o ferrolho do bar e ligue o alarme, observando pacientemente, enquanto confiro tudo três vezes para ter certeza de que está seguro. Millicent segue calada, enquanto vamos até meu carro. Abro a porta para ela, que entra rapidamente.