Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.

Capítulo Trinta e Três

Pela primeira vez em muitos dias, eu me sinto como se fosse a pena que tenho tatuada em meu peito. Sinto que agora finalmente Millicent e eu poderemos ficar juntos, e eu poderei dizer a ela tudo que estou sentindo.

Porra! Eu estou apaixonado! E agora, sabendo que enfim minha garota acordou e está voltando para mim, vejo-me em um estado de euforia maior ainda. Assim eu saio e dirijo a toda velocidade para o hospital, ansioso para vê-la. Eu não quero silêncio, não agora. Desejo tirar toda esta dor acumulada em meu peito, porque meu tormento acabou. Quero agradecer aos céus por ter me livrado de meu desespero, por ter me devolvido a vida.

Sim, neste momento eu já admito completamente que ela é minha vida.

Millicent fodeu minha mente. Ela me transformou no tipo de homem que sempre abominei, mas é a verdade; estou completamente apaixonado por essa garota.

Chego ao hospital em poucos minutos e, assim que deixo minha moto no estacionamento, corro para a recepção, assustando provavelmente a mulher atrás do balcão, que já me viu muitas vezes aqui neste lugar.

Ela me olha de canto de olho enquanto digita no computador e, mesmo com pressa, sou obrigado a me apresentar, como todos os dias, e dizer que sou visitante.

— Obrigado — agradeço quando ela me estrega o crachá e permite minha entrada. Normalmente não me fixo em boas maneiras e gentileza, mas pouco percebi o gesto, tamanha minha alegria.

Percorro a sala de espera do hospital rapidamente, encontrando os pais de Millicent sentados nas últimas cadeiras no final do corredor. Assim que me veem eles ficam de pé, e a mãe da minha garota caminha até mim. Ela está emocionada, eu consigo perceber pela forma como aperta o lenço contra o peito, seus ombros chacoalhando. É estranho, mas eu quero abraçá-la, porque sei que ela também se sente como eu. Pouco a conheço, porém, e não sei como seria sua reação, então apenas enfio as mãos nos bolsos e fico esperando que ela diga algo.

Ficamos parados, olhando um para o outro em silêncio, mas eu consigo notar quantas coisas ela quer me dizer. A mãe de Millicent olha para trás, para o marido, depois para mim novamente e sorri.

— Eu queria poder dizer algo, mas eu... — ela gagueja, apertando o lenço entre os dedos.

— Eu preciso vê-la — é a única coisa em que consigo pensar e tudo que consigo dizer.

— O médico virá em alguns minutos. Estávamos esperando quando você chegou.

Faço um gesto concordando e meu olhar vai para seu marido, que está me encarando com uma expressão de poucos amigos. Ignoro seu gesto, porque não me importo com o que ele ainda pensa de mim. Sei que lhe prometi que cuidaria de Millicent e não cumpri. Sei disso e me sinto terrivelmente mal, mas não posso, simplesmente não consigo ser honrado o suficiente para me afastar dela. Já ouvi muitas pessoas dizendo que nessa coisa de amor verdadeiro, às vezes, é necessário fazer uma escolha unilateral, que talvez signifique se afastar de quem se ama. Mas acontece que não sou tão nobre assim e não tenho a mínima intenção de me tornar agora. Sempre deixarei bem claro a todos que se colocarem em meu caminho; minha garota é somente minha e de ninguém mais. Eu a terei ao meu lado e dessa vez a protegerei com minha vida.

Nunca fui bom com juramentos, porque sempre os achei inúteis quando uma pessoa é tempestuosa como eu, mas estou certo de que a promessa que faço a mim, agora mesmo, será cumprida. Eu encontrarei o homem que fez aquilo com Millicent e Deus será testemunha do que eu farei a ele. Não terei dó e nem pena, porque quando colocar as mãos em seu pescoço a única imagem que virá em minha cabeça será a do corpo de Millie caindo contra o chão e do sangue espalhando-se ao lado de sua cabeça. Tal cena jamais sairá da minha mente e de certa forma isso é bom, porque me ajudará a manter o foco para encontrar o tal homem.