Capítulo Treze

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Quando acordei, há algumas horas, achei que tudo não passava de um sonho estranho. Mas, depois de um banho e uma xícara de café, consegui perceber que era tudo verdade, que a noite passada realmente tinha acontecido. Precisei ficar algum tempo jogado no sofá, olhando pela janela, para Seattle em seu constante movimento, assimilando aos poucos o que Eva tinha dito.

Ainda estou chocado, sem rumo.

Se Evangeline estiver certa, se ela descobriu mesmo o que me contou, eu vivi os últimos anos em um inferno simplesmente por uma farsa. Deus! Se ela estiver certa, eu sou inocente, não houve crime algum!

Sim, estou perturbado. Assim que Eva terminou de me contar os detalhes do que tinha descoberto, a única coisa que consegui fazer foi sair daquele restaurante. Não hesitei em deixá-la sozinha e nem em impedi-la de me seguir. Eu precisava ficar sozinho para absorver toda aquela merda. Percorri dezenas de quilômetros sem saber para onde ir. Na verdade, em certo momento, tive uma vontade grande de ir até Millicent. Imaginei, sem saber o motivo, que, ao vê-la, ao tê-la perto de mim, mesmo que não pudéssemos conversar, eu iria me sentir melhor. Mas meu bom senso me impediu de ir até ela. Era madrugada, o bar já havia fechado e ela já estava em casa. Eu sabia disso, mas, mesmo assim, desviei e voltei para casa.

Tive uma péssima noite de sono. Fiquei incontáveis horas deitado olhando para o nada. Senti raiva de mim mesmo por isso, mas no fundo senti também um pouco de esperança.

É claro que desejo que tudo isso seja verdadeiro. Seria o fim de meu sofrimento. Finalmente eu poderia voltar a viver. Não quero ser um completo babaca e me alimentar de falsas esperanças, mas, porra! Eu preciso de algo para acreditar!

Mandei uma mensagem para Eva, dizendo que precisávamos nos encontrar novamente. Ela respondeu dizendo que ficará fora da cidade por alguns dias e que, logo que estiver de volta, virá atrás de mim. Preciso usar esse tempo para pensar no que farei. Preciso de um plano. E preciso também falar com alguém.

Tentei falar com Evan, mas não obtive resposta, o que me leva a crer que provavelmente ele tenha encontrado alguma mulher e transado a noite inteira. Sortudo!

O tão conhecido sentimento que aperta meu peito está de volta essa manhã. Preciso manter minha mente ocupada, desviar os pensamentos que quase me deixam louco.

Tenho uma ideia. Vou até o banheiro e me olho no espelho. Encaro meu reflexo, inspecionando cada detalhe. Há quantos anos não faço isso, realmente me ver e não simplesmente olhar? Reviro o armário e encontro uma tesoura. É claro que tenho certeza do que farei, não posso aceitar o que vejo no espelho.

Respiro fundo antes de começar a cortar minha barba. Não a corto completamente, apenas a deixo mais curta. Quando termino, olho-me novamente no espelho. Melhor. Esse sou eu, esse é Savi Underwood.

Termino de organizar o banheiro e volto para a sala.

Velho Savi de volta e, por um momento, a velha imprudência de volta também. É por isso que não penso muito quando resolvo pegar as chaves da moto e descer para a garagem e nem mesmo hesito em conduzir diretamente para o bairro de Evan.

Mas é óbvio que não é Evan que quero ver.

É Millicent.

Eu poderia ter me negado, compreendido que não seria certo vê-la, que ela é extremamente inocente para mim e que logo irei corrompê-la, mas há alguma parte em meu cérebro que não entende tais coisas. E, céus, agradeço tanto a essa pequena parte. Não quero deixar de ver Millicent, e não vou.

Estaciono Melody em frente à pequena casa de apenas uma janela. Não há sinal da presença de alguém, tudo está fechado. Paro na porta e vacilo, pensando se vou mesmo fazer isso.

Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.Onde histórias criam vida. Descubra agora