Capítulo Quatorze

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— Sei que deveria ser algo melhor, mas foi a única coisa que consegui — explico ao sentar ao lado de Millicent na grama, enquanto lhe entrego um pacote de Oreo.

Como sempre, ela sorri. Parece que está constantemente feliz e isso me surpreende. Nunca convivi com uma pessoa que sorrisse tanto quanto Millicent e isso me agrada.

Ela abre o pacote e retira um biscoito, que oferece a mim. Eu aceito.

— Podemos comer imaginando que estamos em algum restaurante caro. —Mordo um pedaço do biscoito e depois o levo aos lábios dela. — Imagine que está comendo um salmão ou qualquer outra coisa que deseje.

Millicent mastiga de olhos fechados e por um momento tenho quase certeza de que está sendo bem-sucedida em minha ideia. Então ela abre os olhos e empurra um biscoito em minha boca.

— Isso foi golpe baixo — resmungo enquanto devoro o Oreo.

Ela come mais dois biscoitos e fica de pé, limpando os farelos que caíram em sua roupa. Quando nota que a estou olhando, Millicent bufa, fingindo estar irritada.

— Está exatamente igual a uma cuidadora de cães, falta só o cão — comento, mostrando uma mulher que está passando do outro lado do gramado. Ela também está usando moletom e tênis, enquanto passeia com um cachorro preto.

Millicent me olha ceticamente e depois me mostra a língua.

Eu rio perplexo com sua capacidade de me surpreender.

Fico olhando para Millicent e por um momento lembro-me da minha mãe. As duas são parecidas. Não fisicamente, é claro, mas sim no talento que têm de me fazer sorrir, de me fazer sentir bem. Minha mãe iria gostar dela.

Não, não estou pensando em apresentá-las. Não há nada entre Millicent e eu e, por mais que eu a queira, não pretendo apressar as coisas. Tê-la aqui comigo hoje é uma forma de aproximação. Ela é diferente das outras mulheres com que já me envolvi. Nunca antes precisei de mais de dois dias para conseguir levá-las para a cama. Não tinha paciência suficiente para tanto. Mas agora, com Millicent, é diferente, sinto-me na obrigação de não avançar acima de sua inocência.

Posso ser educado e compreensivo quando desejo.

Millicent aponta para a frente, onde há uma pequena feira, com algumas barracas de lona.

— Quer ir até lá?

Ela balança a cabeça confirmando e quase a vejo bater palmas de alegria.

Levanto e, sorrindo, indico o caminho. Caminhamos lado a lado, e algumas pessoas passam por

nós. Imagino o que elas devem pensar. Um cara todo tatuado e estranho com uma garota tão delicada? Eu mesmo me faço essa pergunta. Mas, ora, quem diria?

Millicent fica empolgada quando chegamos à primeira barraca. Há vários objetos, colares, pingentes e mandalas feitas de penas e pedras. O vendedor tem cabelos compridos, que chegam à cintura, usa uma fita de couro na testa e está com uma cara pior que a minha, de quem não dorme há vários dias.

Por segurança, puxo Millicent para a próxima barraca. Quando ela vê do que se trata, seus olhos se arregalam. É uma barraca onde uma mulher oriental faz tatuagens de hena. Expostos em um cavalete de madeira, há vários desenhos para inspiração dos clientes. Millicent examina os desenhos atentamente, interessada em cada um deles.

— Gostaria de fazer uma tatuagem dessas? — pergunto ao lado dela.

Ela para o que está fazendo e abre a boca, sem acreditar. Vejo seus lábios se moverem e formarem a palavra "sim".

Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.Onde histórias criam vida. Descubra agora