Capítulo Seis

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Termino de limpar a bagunça que fiz no depósito e agora me sinto mais calmo. Levo a vassoura até o "quartinho da bagunça" e, antes de sair, vejo um frasco de remédio de tarja preta em cima do balcão. Eu nunca fui curioso, muito menos me interesso pela vida dos outros, mas dessa vez a vontade de saber para que serve a medicação, e principalmente de quem é, toma conta de mim. Alguém a esqueceu aqui, e eu quero saber quem foi.

Pego o frasco e vejo escrito na bula que o medicamento é usado no tratamento de estresse e depressão. Quem aqui desse bar está depressivo ou algo assim? Ninguém parece ser louco. O único que tem sérios problemas internos e pessoais sou eu, mas nunca precisei de um psicólogo e tratamentos à base de medicação controlada.

Quando penso em colocar o frasco novamente em cima do balcão, sinto a presença de alguém entrando no quartinho; logo vejo que se trata de Millicent. Ela franze a testa, ao ver o frasco em minhas mãos, e o toma de mim rapidamente. Então chego à conclusão de que o remédio lhe pertence e de que ela não gostou de saber que eu sei disso.

— Desculpe, estava aqui em cima e eu só queria... —Millicent dá as costas para mim e segue até o armário dos funcionários. Antes de guardar o frasco em sua bolsa, pega dois comprimidos e os toma. Somente então percebo que ela carregava consigo uma garrafa com água.

— Então esse remédio é seu... — Eu não pergunto, apenas confirmo o que acabo de ver.

Millicent fica de frente para mim e sua expressão não é nada amigável. Ela apenas balança a cabeça lentamente confirmando que o remédio é seu. Antes de sair do quartinho, caminho rapidamente e seguro seu braço. A garota precisa saber que isso não interfere em nada, porque, apesar de tudo, quero o bem de todos os funcionários do bar.

— Não se preocupe. Se quiser, seu segredo será muito bem guardado — digo na tentativa de fazer sumir a tensão que se formou aqui.

Ela concorda, com um sorriso fraco, e, por um segundo, imagino ter visto seus olhos brilharem com lágrimas contidas. Então Millicent tira o braço de minha mão e sai, praticamente correndo, deixando-me ainda mais confuso ao seu respeito.

Afinal de contas, quem é Millicent?

***

Como sempre, o sábado é muito movimentado e os ganhos do bar vão às alturas. Isso é bom, na verdade é muito bom, pois, se vou vendê-lo, é preciso que seja bem-visto no mercado. Só assim conseguirei um preço justo e satisfatório pela minha parte.

Pelo resto da noite, não conversei com Ethan. Achei que ele fosse vir falar comigo, encher o meu saco e torrar a pouca paciência que tenho, mas não. Meu irmão simplesmente se trancou dentro daquele escritório e quase não saiu de lá. Eu o vi apenas duas vezes, circulando pelo bar, mas, em nenhuma dessas ocasiões, dirigiu-se a mim. Parece que realmente está bravo, pude sentir toda a raiva e mágoa em sua voz. Ele nunca havia gritado com Morgan, nunca. Admito que me surpreendi ao presenciar sua atitude. Mas também reconheço que passamos do ponto, Ethan teve toda razão ao se estressar conosco.

¿Qué estás pensando, muchacho? — Teresa se aproxima e me serve um pouco de uísque.

Teresa é bonita e sensual. No auge de seus quarenta anos, não deixa a desejar em nada; corpo e disposição de vinte, cabeça e responsabilidade de quarenta anos. Há quem diga que ela é uma mulher perfeita. Eu mesmo já provei de seus encantos.

— Nada que seja importante — respondo mentindo sobre meus reais tormentos.

No me engañas, Savi. — Aproxima-se e passa a mão em meu rosto.

— Quando você fala em espanhol, eu fico louco — digo, desviando o assunto.

Teresa sorri maliciosamente e sua mão desce em minhas coxas. Em seguida, percorre minha virilha e, mesmo que seja por cima da calça jeans, sinto algo lá embaixo latejar.

Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.Onde histórias criam vida. Descubra agora