Capítulo Trinta e Dois

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Nunca imaginei que temeria o futuro como temo agora. Sempre pensei que a única coisa com o que eu deveria me preocupar fosse o presente, o que eu estava vivendo. Agia e pensava assim, vivendo cada dia como se fosse o único, porque não havia ninguém comigo e, portanto, nada do que viesse acontecer importaria. Mas agora as coisas são tão diferentes. Eu me importo com o futuro, porque há alguém, uma pessoa tão especial, que foi capaz de mudar minha mente e que agora me faz querer um futuro. Não sou mais apenas Savi. Não estou mais sozinho, desde que Millicent entrou em minha vida, e sou capaz de jurar que farei tudo por conta dela.

Vê-la daquela forma, presa naquela maldita cama, faz com que eu sinta o quanto realmente sou mais fraco do que imaginava. Sou vulnerável por Millicent. Os últimos cinco dias têm sido um verdadeiro inferno e a maior parte deles passo no hospital, sentado perto da minha garota, definhando ao seu lado, enquanto me apego a um fio de esperança de que ela volte para mim a qualquer momento. Depois, fico algumas poucas horas em casa, e este é o momento em que sinto que as paredes vão desabar sobre mim. Ethan insiste que eu descanse, enquanto ele próprio está enterrado no trabalho, curiosamente ajudado por Eva, que parece interessada em contribuir para a reparação do bar. Quando ela me contou, no dia em que veio ao hospital visitar Millie, junto de Ethan, fiquei surpreso, mas ao mesmo tempo aliviado, porque sei o quanto minha velha amiga é capaz de nos ajudar. O único problema será meu irmão junto dela, porque ainda consigo perceber o desconforto que ele sente ao seu lado.

Há dois dias, minha mãe foi visitar Millicent no hospital e, como eu esperava, Morgan não estava junto. É claro que eu não deveria imaginar que meu pai iria, mas em certo momento me rendi à esperança de que ele estaria lá. Minha mãe, adorável como sempre, tentou fazer amizade com os pais de Millie, o que no começo me deixou nervoso, com medo da reação deles, porque é óbvio que, por mim, que sou o namorado da filha deles, não há qualquer tipo de aprovação. Mas, ao contrário do que cheguei imaginar, eles ficaram muito felizes com a visita dela e com suas palavras doces cheias de confiança de que Millie sairia daquele hospital em breve.

No final da visita, minha mãe foi até onde eu estava, na já tão conhecida sala de espera, e me abraçou emocionada, dizendo que estava ao meu lado e que me apoiaria.

— Obrigado, mãe — agradeci com a voz embargada, segurando-a em meus braços.

Desde o dia do acidente, quando vi diante de mim Millicent ser atropelada, vivo em um estado emocional que nunca sequer imaginei estar. A vontade de chorar, gritar e pedir a Deus que me ajude é constante, mas me controlo, porque sei que não sou digno da piedade de Deus nem posso demonstrar minha fraqueza diante de todos, não neste momento quando todos esperam que eu seja forte.

— Seu pai... — minha mãe começou a dizer, seus olhos vermelhos de chorar, mas eu a silenciei, trazendo-a novamente para meus braços e a apertando contra meu peito. Seu calor me confortava.

— Tudo bem, mãe. Eu estou bem — garanti, evitando falar sobre ele, sobre ele não ter aparecido.

Falar sobre Morgan ainda é um assunto que me desestabiliza e, agora, já tenho coragem suficiente para dizer o quanto sinto a falta dele. Eu realmente queria tê-lo ao meu lado neste momento. Somente eu, ninguém mais, sei o quanto dói ter que admitir isso, dar-se conta do quanto todos aqueles anos sem sua presença fizeram-me falta. Começo a sentir que, talvez, em algum momento, eu devesse considerar a possibilidade de procurá-lo, de tentar apenas conversar com ele.

Forcei para dentro o sentimento que se abatia sobre mim e continuei a conversar com minha mãe, respondendo suas perguntas sobre Millicent. Ela ficou comigo até o final da tarde e depois pegou um táxi de volta para casa.

Agora continuo aqui, mais uma vez sentado ao lado de Millie, com sua mão tão pálida sobre a minha, contando-lhe cada detalhe sobre o bar e o quanto Ethan está trabalhando duro. Eu fico mudo, de repente, nenhuma palavra sai da minha boca, perguntando-me se realmente ela pode me ouvir. Ela pode? Millicent sabe que eu estou aqui ao seu lado? Quero acreditar que sim, que todas as minhas palavras não foram vãs e que de certa forma eu a estou ajudando.

Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.Onde histórias criam vida. Descubra agora