— Por favor, não tenha medo de mim — imploro, num fio de voz.
Millicent passa as mãos no rosto, limpando as lágrimas. Aproximo-me de sua pequena cama e sento-me nos pés, com cautela, com medo de sua reação. Mas ela não se afasta. Continua parada no mesmo lugar, com os olhos inchados e vermelhos.
— Ethan me contou tudo, eu... — Respiro fundo. Millicent fecha os olhos e aperta o travesseiro até os nós dos dedos ficarem brancos. — Não fique nervosa, eu o obriguei a fazer isso.
Ela suspira frustrada e me lança um olhar duro. Com certeza está me amaldiçoando por ter obrigado Ethan a me contar toda a verdade sobre ela.
— Admito que mil ideias passaram por minha cabeça. De quem você era, qual era o seu passado, porque vivia vestida com roupas de mangas longas... Mas juro que jamais imaginei que seria tão... cruel. — Seus olhos se tornam vazios, sem emoção.
Então me aproximo mais e, com muita cautela, afasto o travesseiro que ela segura em seu colo. Millicent continua imóvel, com a respiração pesada e tremendo. Ergo as mangas de sua blusa e ela resiste tentando tirar os braços de minhas mãos. Eu a detenho, pois preciso que saiba que estou aqui para ajudá-la a superar.
— Não fuja de mim, Millie. Seu passado não interfere em nada. Nada mudou... Eu te quero mais do que nunca. — Beijo a palma de suas mãos e deslizo a ponta dos dedos na extensão de seus braços finos e marcados.
Olhar suas cicatrizes me entristece. Sinto-me impotente diante de sua fragilidade. Quero saber mais dela, mais sobre sua história.
— Foi ele que fez isso? — Só de imaginar que, além de molestá-la, ele também a feriu, sinto uma raiva animal crescer dentro de mim.
Millicent balança a cabeça negativamente e puxa os braços para junto do corpo. Ela vira o seu rosto para o lado, parece estar envergonhada de si mesma e não quer me olhar nos olhos. Mas eu não quero e nem deixarei que se sinta assim. Porra! Ela não tem culpa de nada, era apenas uma criança.
— Você sabe que não tem culpa de nada, não sabe? O filho da puta que fez isso com você é o verdadeiro culpado. E eu juro, juro por tudo que há de mais sagrado, um dia encontrarei esse maldito e ele pagará por ter calado a sua voz.
Ela volta a me encarar. Agora seus olhos estão chorosos e isso aperta meu coração.
— Vem aqui... — Abro os braços, chamando-a para um abraço, mesmo correndo o risco de ser ignorado, mas ela faz o contrário; aproxima-se e enrosca seus braços em meu pescoço, apoiando a cabeça em meu ombro.
Ficamos assim durante algum tempo. Inalei o cheiro de seus cabelos umas mil vezes. Millicent tem um cheiro diferente, um cheiro próprio. Aos poucos, vai relaxando, sinto seu corpo ficando mais suave e isso me faz sentir um pouco melhor. Não quero que se torture assim. Não como eu fazia até alguns dias atrás. Talvez seja por isso que me sinto tão ligado a ela, pois sei como são os monstros que vivem dentro de nós. Eles nos ferem e nos levam à beira da loucura.
— Eu quero e vou cuidar de você, Millie. Então tente me mostrar o que posso fazer para te ajudar. O que eu posso fazer por você?
Millicent levanta a cabeça e me olha por alguns segundos. Ela abre a boca, solta uma respiração pesada e passa uma das mãos em meu rosto. Aproxima sua boca da minha, surpreendendo-me. Juro que não esperava tal atitude, não depois de tudo. O que passa em sua cabeça?
Seus lábios pouco experientes estão molhados e trêmulos. Sua língua, como sempre doce, invade a minha boca e me deixa em estado de alerta. Metade de mim quer interromper e lhe dar um tempo deixar que ela veja se é isso mesmo o que quer. Mas o meu lado mais primitivo e selvagem quer aprofundar o beijo e possuí-la em sua cama pequena.
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Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.
RomanceESSE LIVRO ESTÁ COMPLETO! Boa leitura! *** SINOPSE: Sócio do mais famoso bar de motoqueiros de Seattle, Savi Underwood leva a vida seguindo as próprias regras. A principal delas é sempre manter o controle, jamais voltar a cometer seu grande erro do...