Capítulo Cinco

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Aos sábados o The Underwood's está sempre mais movimentado. Normalmente, nesse dia, abrimos mais cedo, para poder preparar tudo para a noite. Apesar de ser frequentado por uma classe de homens que anda, de certa forma, à margem do que é considerado correto, eu e Ethan concordamos que o bar precisa de regras. Quando ele estava nas mãos de Morgan, as coisas eram um pouco diferentes, já que a maioria dos clientes ainda estava fora das grades. Com o esforço e a dedicação de Ethan, o lugar manteve sua essência, mas agora não precisamos nos preocupar se seremos presos por algo.

Admito que meu irmão seja bom nisso. Sua inteligência, apesar de me irritar um pouco, levou-o a um caminho brilhante, principalmente pelo fato de ele ter se formado em uma das maiores universidades do estado. Em primeiro lugar. Enquanto eu, é claro, estava pelo mundo. Nós nos encontrávamos no feriado de Ação de Graças, quando eu era arrastado para casa por minha mãe. Não havia conversas, apenas comíamos e, na manhã seguinte, eu me despedia deles e voltava para o mundo.

— Savi, você pode ajudar a Millie com aquelas mesas? — Enrico aparece ao meu lado, apontando para a garota, que está se esforçando para arrastar uma mesa de madeira.

Eu gostaria de perguntar a Enrico por que ele mesmo não a ajuda, mas desisto, porque não quero que todos pensem que estou de mau humor. Não que eu realmente me importe com tal coisa, apenas estou tentando me manter na linha.

Quando chego perto de Millicent, ela para o que está fazendo e dá um passo para trás, esperando por algo.

— Vim ajudá-la — digo sem olhá-la, já me abaixando para erguer a mesa.

Sinto um pequeno toque em meu ombro e paro o que estou fazendo. É a garota quem está me tocando e, antes que eu possa perguntar qualquer coisa, ela tira minhas mãos da mesa, fazendo gestos confusos de cujo significado não faço a mínima ideia.— O que foi? — pergunto e então me dou conta de que ela não irá me responder.

Merda!

Bufo irritado.

Ao perceber minha exasperação, Millicent franze a testa e revira os olhos. Acabo achando engraçado, porque parece que ela sabe exatamente o que estou pensando.

Ora, seu idiota, ela é muda, não burra — repreendo-me mentalmente.

Ela se aproxima de mim e, com um gesto de desdém, chuta a perna da mesa, que estranhamente se inclina para a direita. Então eu percebo o que está tentando me dizer.

— Está quebrada — digo ceticamente, feito um completo idiota.

Millicent dirige-me um olhar superior o qual me deixa curioso e um tanto constrangido.

Empurro a mesa para um lado, para que possa ser consertada mais tarde. Grito por Teresa, que aparece correndo, limpando as mãos no avental.

— Diga a Lorenzo que leve esta mesa para os fundos, cuidarei dela amanhã. — Olho para Millicent. — E quanto a ela, precisa de um novo uniforme, de preferência sem camisas de mangas longas.

Caminho de volta para o centro do bar, mas, ao passar por uma mesa de bebidas, deparo com alguém que não vejo há muito tempo.

— Você não é bom em dar ordens, Savi — Morgan diz ao levar aos lábios um copo de tequila, o qual entorna em um único gole.

Todos os meus músculos se contraem em alerta, e minha cabeça lateja terrivelmente. Depois de tanto tempo, ali está ele; parado em minha frente, com seu costumeiro sorriso zombador, o mesmo que foi, várias vezes, motivo de dor para mim. Evitei este momento o máximo que pude, fugi como um garoto medroso, abdiquei de momentos com minha mãe para simplesmente não o encontrar, mas eis que o destino agiu colocando-o ante mim.

Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.Onde histórias criam vida. Descubra agora