Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.

Capítulo Trinta e Quatro

Marta, a mãe de Millicent, acaba me mandando para casa, quando percebe o quanto eu estou cansado. Tento argumentar dizendo que estou bem e que ficarei até que possa ver Millie, mas na verdade estou realmente exausto, e uma das poucas coisas em que consigo pensar é em minha cama.

— Você precisa dormir e descansar, Savi. Só assim estará bem o suficiente para dar a atenção que Millie precisa.

No final, acabo concordando com ela. Abusar de mim mesmo, até que eu fique doente, não ajudará em nada.

Eu passei o dia vagando pelo hospital, que agora conheço como a palma da minha mão, de tanto perambular feito um louco, tentando arejar a cabeça até que o tempo passasse. Praticamente, marquei uma mesa na lanchonete, perto da janela, onde eu passei pelo menos duas horas do meu dia consumindo café suficiente para que aguentasse firme. A sala de espera era quase minha segunda casa.

Estou aqui todos os dias e, mesmo sabendo que não sou de muita ajuda, não há nada que me tire deste lugar, a não ser a mãe de Millicent, é claro.

É noite quando chego ao meu apartamento. Não me surpreendo ao ver alguns potes de comida sobre a bancada ao entrar, é óbvio que minha mãe passou aqui à tarde e deixou alguma coisa pronta e fácil para que eu possa comer. Ela sabe da minha limitada desenvoltura na cozinha e que vivo à base de comida pronta, o que garante que faz muito mal à minha saúde.

Vasculho os potes e encontro, além de frango e macarrão, um pouco de batatas e legumes; típico dela esperar que eu coma esse tipo de comida mesmo morando sozinho. Sorrio diante de sua atenção e carinho. É engraçado, porque antes não percebia o quanto minha mãe era prestativa comigo. Eu realmente devo estar mudando ou, quem sabe, apenas abrindo os olhos para algo que sempre esteve diante de mim.

Preciso tomar um banho demorado para me sentir melhor. Deixo que a água quente relaxe meu corpo endurecido enquanto lavo meu cabelo. Eu deveria cortá-lo, nunca esteve tão comprido e não sei se gosto dessa maneira. Minha barba também. Sim, eu posso mudar.

Com uma toalha enrolada em minha cintura e o cabelo úmido nos meus ombros, saio do banheiro direto para a cozinha. Estou morto de fome e tenho certeza de que seria capaz de comer um animal com o dobro do meu peso. É algo comum para mim comer sozinho, mas esta noite simplesmente não quero estar só. É claro que desejo minha garota aqui comigo... Eu a alimentaria e depois a levaria para minha cama, onde finalmente a envolveria em meus braços e a faria se perder. Porém isso ainda não é possível. Falta pouco para Millicent estar de volta. Eu já consigo imaginar como será tê-la morando comigo, ela sorrindo enquanto se movimenta pelo apartamento, sempre tímida e curiosa a respeito de tudo. Sei que rejeitará no começo, mas serei vitorioso ao seduzi-la e lhe mostrar as vantagens de estar comigo.

Não quero Millicent junto de mim somente por sexo. Claro, por parte é, sim, já que ela me enlouquece terrivelmente apenas com seus gestos inocentes e gemidos contidos. Só que há também este sentimento horrível me consumindo dia após dia, o pensamento que martela em minha cabeça dizendo que ela só estará segura comigo, ao meu lado. É provável que parte do meu medo seja apenas algo da minha mente, que, na verdade, não seja necessário tudo isso. Sempre me orgulhei de ser um homem racional, que nunca, absolutamente nunca, deixou se levar por sentimentos, já que os considerava como uma lenda. O problema é que (sim, admito isso) eu não sou mais o mesmo homem de meses atrás e não sei até que ponto isso é bom; nem se realmente é algo bom.

Misturo um pouco de cada coisa em um prato e esquento no micro-ondas enquanto reflito se devo ou não ligar para Ethan. Preciso conversar com alguém.

Mais cedo, Evan deixou uma mensagem dizendo que estava saindo da cidade. Eva me ouviria, mas eu não estaria confortável com ela em meu apartamento enquanto minha garota estivesse longe de mim, apesar de que minha amiga diz apoiar meu envolvimento com Millicent. Mesmo tendo um passado amistoso com Eva, e de depois de tudo ainda sermos bons amigos, não é ela quem preciso que esteja aqui.