Capítulo Sete

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Hoje é domingo, o que para mim, normalmente, não é nada muito significativo, porque é sempre a mesma coisa. Não sei explicar o porquê de hoje eu me sentir diferente. Estranhamente, dormi bem, não tive pesadelos. Uma daquelas noites raras em que, ao acordar, tenho vontade de gritar para o mundo que estou bem.

Eu estou bem.

Uma das poucas coisas ruins em morar sozinho é o fato de que, em algum momento, você precisa organizar sua própria bagunça. Para minha sorte, sou extremamente organizado, então gasto pouco tempo nas tarefas domésticas. Aproveito o resto da tarde para cuidar de Melody, o que requer um tempo extra. Enquanto estou sentado na garagem, verificando algumas peças da moto e ouvindo uma rádio qualquer no celular, alguém aparece em minha frente.

— Existe uma porta — digo, erguendo o olhar para o homem.

— Ah, sim. Ela estava aberta, aliás. — Evan sorri debochado.

Eu fico de pé, limpo as mãos sujas de óleo na calça e o cumprimento.

— Achei que estivesse no México. — Aponto para seu rosto e rio. — Envelheceu o suficiente para ser meu pai, Evan.

Ele bufa e soca meu ombro. Rio mais ainda, satisfeito por voltar a vê-lo. Evan é o mais próximo que tenho de um amigo. Na verdade, nós nos conhecemos há vários anos, ainda adolescentes. Na ocasião ele levava uns socos de um cara mais velho. Não, eu não entrei na briga para defendê-lo; apenas assisti e o ajudei a ficar de pé quando tudo terminou.

Desde então nos tornamos algo bem próximo de amigos. Evan é uma boa pessoa, apesar de já ter estado na prisão por duas vezes simplesmente por desacatar autoridades.

Ele estava ao meu lado quando tudo aconteceu, anos atrás. Eu esperava que fosse me julgar ou dizer que eu era um cara fodido, mas Evan me deixou sozinho, permitiu que eu convivesse com meus próprios erros e, somente depois, voltou.

— Eu estava. Mas as coisas começaram a ficar chatas. — Ele me olha e levanta as sobrancelhas.

— Na última vez que o vi, você não estava tão... há quantos anos você não faz a barba, Savi?

— Também senti sua falta, Evan. — Dou as costas a ele e volto a me concentrar em Melody.

— Eu ainda não citei seu cabelo, cara. — Evan fica de frente para mim e, pela primeira vez, percebo o quanto ele está diferente. É uma sensação estranha, sinto-a em minha garganta.

— Savi, o que houve com você? — ele pergunta e reconheço a velha preocupação em sua voz.

— Apenas conversamos algumas palavras, mas, mesmo assim, não posso reconhecê-lo. É Morgan?

— Que tal uma cerveja? — ofereço.

Evan revira os olhos como se ainda fosse aquele adolescente que conheci há anos.

— Também estou com fome. E, por favor, nada de tacos — diz, irritado, ao começar a subir as escadas para o apartamento.

***

— Denise era legal. Sabia o que fazer com a boca, e eu me refiro exatamente a isso que você está pensando, cara. — A risada de Evan me faz rir também; é bom poder tê-lo novamente aqui. — É, foi realmente uma pena ela ter sido deportada.

— Você podia ter ido atrás dela — sugiro, após um gole em minha cerveja.

— Não, Savi. Era só diversão, cara. Sempre foi. E você? — Ah, ele quer saber sobre mim.

— Sou gay.

Evan arregala os olhos para mim e se afasta para o outro lado do sofá.

Não consigo evitar o sorriso que se estende em meus lábios e, ao perceber meu jogo, Evan solta uma exclamação:

Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.Onde histórias criam vida. Descubra agora