Merda! Durante todo o trajeto até a minha casa, pensei mil coisas. Em que momento deixei me envolver por Millicent? Até hoje, eu nunca havia sentido nada por ela. Mesmo sendo muito bonita, sua forma angelical é algo que nunca me atraiu. Sempre gostei de mulheres ousadas, que sabem o que querem quando se trata de sexo. Millicent também sabe o que quer, mas ninguém sabe bem o que é.
Assim que entro em casa, coloco os capacetes sobre o sofá e me sirvo de uma dose de uísque. Preciso relaxar e esquecer, apagar de vez o que aconteceu minutos atrás. Um beijo. Um maldito beijo. O beijo mais doce e inocente que já dei em toda a minha maldita vida! Aqueles lábios... Ah, inferno! Algo lá embaixo despertou, o que fez com que eu me sentisse um monstro. Eu não posso ter desejos carnais por essa garota. Ela simplesmente não faz o meu tipo.
Acendo um cigarro e caminho até a janela da sala. Como sempre, fico olhando para fora. O sol ainda não raiou e não há qualquer movimento lá fora. A única coisa que escuto é a minha respiração ofegante.
Em um momento estranho, o qual eu não poderia descrever, acabo indo até o quarto e pegando meu notebook. Penso duas vezes antes de digitar algo sobre como compreender pessoas mudas no buscador. Há centenas de sites que explicam como fazer e a importância disso. Procuro por algum vídeo ou algo mais rápido. Não posso perder muito tempo fazendo isso.
Conforme leio sobre o assunto, vou me envolvendo e acabo nem percebendo as horas passarem. Noto que, quebrando todos os preconceitos que eu tinha, assisto alguns vídeos para praticar como ler os lábios de uma pessoa. Há alguns momentos em que me pergunto por que estou fazendo isso e a verdade é que não sei. Pode ser que eu realmente queira ajudar essa pobre garota ou talvez seja por pena.
***
Acordo assustado. Tive alguns pesadelos com Millicent; aquele maldito trepando violentamente com ela, e eu amarrado, sem poder fazer nada. Os dentes amarelos do homem sorriam debochadamente de mim, e ele insistia em dizer o quanto os seios dela eram macios. Eu não conseguia acordar e parece que essa tortura durou horas. E realmente durou. Pego meu celular sobre o criado-mudo e vejo que passa de uma hora da tarde. Dormi bastante, mesmo levando em conta que quando fui me deitar eram quase seis da manhã, pois não costumo dormir tantas horas seguidas.
Assim que consigo me organizar e comer algo, decido encontrar Evan. Preciso falar com alguém, ele é o único disponível e também único amigo.
Não se trata de desabafar sobre sentimentos, mas apenas de tentar tirar esse peso de minha cabeça. Evan sempre esteve presente em situações como essa em que estive um tanto perdido, e ele nunca me julgou, simplesmente franzia a testa e ria como um louco. É disso que preciso.
Depois de mandar uma mensagem para Evan dizendo que irei até o apartamento em que ele está, pego minha jaqueta e desço para a garagem. No elevador encontro uma mulher de meia-idade junto de uma menina que provavelmente é sua filha e não deve ter mais que seis anos. Fico parado próximo à porta, mas mesmo assim posso ouvir um cochicho. Imagino que a criança deva estar perguntando à mãe o que diabos eu sou. Tenho vontade de rir, porque, mesmo morando há um bom tempo aqui neste prédio, as duas provavelmente nunca me viram. Devem estar chocadas.
Quando a porta do elevador abre, eu pulo para fora, caminhando rapidamente até minha moto, que fica estacionada ao fundo da garagem. Faço um singelo carinho em Melody e depois coloco meu capacete, pronto para ir ao encontro de Evan.
***
Porra! Evan está morando no mesmo bairro que Millicent!
Solto alguns palavrões enquanto subo as escadas para o apartamento de Evan, porque, por conveniência, não há elevadores no prédio. Este bairro fica em uma área mais afastada do centro de Seattle e eu não imaginava que haveria essa estranha coincidência. Por que, inferno?! Estou tentando fugir disso tudo e acabo, por ironia, voltando para o mesmo lugar.
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Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.
Roman d'amourESSE LIVRO ESTÁ COMPLETO! Boa leitura! *** SINOPSE: Sócio do mais famoso bar de motoqueiros de Seattle, Savi Underwood leva a vida seguindo as próprias regras. A principal delas é sempre manter o controle, jamais voltar a cometer seu grande erro do...