Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.

Capítulo Onze

Quinta-feira. Esta semana está se arrastando, tudo para me ferrar mais ainda. Sim, para me torturar, já que quero que os dias passem rapidamente esperando que, com o tempo, eu pare de pensar em Millicent. Mais uma vez, fui atrás dos encantos de Teresa e ela realmente é talentosa, porém ainda não estou saciado. Algo está faltando, e eu não sei o que é.

Durante o dia, nada de novo aconteceu. Apenas liguei para a minha mãe e lhe contei a novidade; o inesperado e incrível gesto de Ethan. Minha mãe, claro, ficou radiante. Pude sentir a emoção em sua voz e sei que ela chorou, mas dessa vez de felicidade. Ainda continuo convicto de que preciso achar outra pessoa para cuidar do abrigo e tirar esse peso das costas dela, mas dessa vez nada falei, eu não quis estragar o momento. Senti-la tão feliz, como se fosse uma menina, deixou-me um pouco mais tranquilo.

Após desligarmos, vários questionamentos invadiram minha cabeça. Por que Ethan fez isso? Foi por mim ou pelo abrigo? Será que ele não queria que eu vendesse a minha parte do bar, para que eu não sumisse do mapa mais uma vez? Ou será que simplesmente não queria um estranho em meu lugar tomando conta do bar com ele? Gostaria de saber as respostas para essas perguntas. Ethan sempre foi um bom irmão, e acho que está na hora de eu começar a recompensar seus esforços comigo.

***

Estaciono a Melody no lugar de sempre — ao lado do bar — e, antes de entrar, fumo um cigarro. Caminho alguns passos em direção à entrada e vejo Enrico chegar com Teresa. Às vezes ele lhe dá carona, tanto para vir, como para ir embora do trabalho. Eles moram longe um do outro, mas, mesmo assim, Enrico é gentil e lhe presta esse favor. No fundo, acho que ele gosta dela. Gosta como um homem gosta de uma mulher. Ela é muito bela, qualquer um se apaixonaria fácil, e creio que foi isso o que aconteceu com ele. Mas acho que mexicana não percebeu ou finge que não, porque, assim como eu, quer viver livre, sem compromisso. Temos muitas feridas abertas para nos envolvermos emocionalmente com alguém.

— Savi! — Enrico cumprimenta assim que descem do carro e caminham até mim. Jogo o cigarro em um cinzeiro grande que há fora do bar e aperto sua mão.

— Chefinho... — Teresa enrola a língua, daquele jeito que deixa qualquer homem duro, mas hoje isso não me causa efeito algum. Estranhamente.

— Olá, Teresa — cumprimento, sem muita emoção, e logo a vejo franzir a testa levemente; provavelmente percebeu que não estou disponível para nossas brincadeiras hoje.

De repente, um carro preto entra no estacionamento do bar, com música no último volume. Odeio batidas eletrônicas, meus ouvidos doem terrivelmente com esse som. Nós três olhamos em direção ao carro e, para a nossa surpresa, ou não, Lorenzo sai de dentro dele e acena animadamente para nós. Ele fecha a porta, liga o alarme e em seguida desfila até onde estamos.

— Que porra é essa? — pergunto apontando para o carro.

— Lindo, não é? — diz emocionado. — Com as gorjetas que ganhei na festa do senhor Collin, consegui finalmente juntar o valor que eu precisava para comprar essa belezura. Demorou, mas consegui.

— Belezura? — pergunto ironicamente.

— Está nervosinho, é? — Lorenzo pergunta com as sobrancelhas erguidas.

— Óbvio que não. Você não me viu nervoso ainda, garoto — respondo e bato em seu ombro.

— Na verdade, já vi, sim. Quando você salvou a Millie daquele canalha.

Millicent. Lorenzo tinha que tocar no nome dessa garota que está fodendo com a minha cabeça — penso ironicamente. Por mais que eu a veja no bar, quero evitar falar ou ouvir o seu nome.

— Na verdade, fico feliz que tenha conseguido comprar o que queria, Lorenzo. Você merece — digo e entro no bar, deixando-os para trás, tentando não imaginar a reação deles com o que eu acabo de dizer.