Capítulo Três

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O lugar em que preciso ir fica fora da cidade e o percurso até lá dura quase uma hora. É o tempo necessário para que eu seja consumido por pensamentos os quais gostaria de evitar.

Durante a noite, antes que eu pudesse finalmente dormir, considerei o quanto Ethan está agindo errado. Sempre o considerei um idiota, sim, mas contratar aquela garota que mal compreende o que é dito o situa um nível acima em meus conceitos de idiotice.

Não, não tenho nada contra a pobre garota. Porém é óbvio que não é uma boa ideia mantê-la em um lugar cheio de homens desesperados para foder qualquer mulher que estiver pela frente, bêbados que mal sabem o caminho de casa. Filhos da puta!

Ela será uma presa vulnerável para eles, e nem mesmo Ethan será capaz de protegê-la.

Percebi ontem, enquanto meu irmão me dizia que ficaria tudo bem, que a garota era uma bomba-relógio jogada em nossos braços. É apenas uma questão de tempo até que algo inevitável aconteça. O problema é que já vi isso antes, já presenciei o quão terrível é.

O vento frio bate de encontro a meu peito e, mesmo com a grossa jaqueta de couro, sinto minha pele arder. Mas não é uma sensação ruim. É a pura liberdade.

Ultrapasso dois carros e acelero mais um pouco, passando pela ponte nos limites da cidade. À minha direita, em um conversível preto, uma morena de óculos escuros e seios enormes sorri para mim. Mesmo com o capacete, sorrio para ela, que se agita ao volante. Nossa breve interação acaba logo, assim que ela entra em um desvio à direita.

Eu continuo meu caminho, agora com as mãos congelando pelo frio cortante, que me castiga mesmo através das luvas.

***

Estaciono minha moto em frente a uma construção de pedras vermelhas. Tiro o capacete, as luvas, a jaqueta e deixo tudo junto de Melody.

Encaro o símbolo encrustado na entrada da casa, uma pena grande e branca, ao lado da palavra Angel, gravada em letras cursivas, exatamente como escolhi.

Sinto a velha sensação de aperto em meu peito. Sempre acontece quando venho aqui. Mas é preciso. É minha obrigação, eu devo estar aqui. Encontro minha mãe sentada em uma poltrona na recepção. Ela me vê, sorri e corre para meus braços.

— Você demorou — reclama ao se separar de mim. Suas mãos acariciam meu rosto e ajeitam meu cabelo. — Savi, você está com olheiras!

Sorrio, beijando seu rosto.

— Também senti saudades de você, mãe.

Caminho ao lado dela pelos corredores, enquanto várias crianças passam por nós correndo e rindo umas atrás das outras. Uma delas, uma menina de cabelos cacheados, para ao meu lado e arregala seus olhinhos para mim.

— Você é um gigante? — ela pergunta de boca aberta.

Ergo as sobrancelhas, divertindo-me.

— Na verdade, acho que você é uma anã — digo contendo um sorriso.

Ela franze a testa e nega com a cabeça.

— Não sou uma anã. Você é um gigante. Eu queria ser como você — ela diz, fazendo beicinho.

Olho para minha mãe, procurando consentimento e ela sorri concordando.

— Você gostaria de ser gigante também? — pergunto à menina.

Seus olhos se iluminam de repente.

— Eu posso?

— É claro. — Ajoelho-me em sua frente e minha mãe a coloca em meus ombros. — Me dê suas mãos — indico quando vejo que ela está tentando se segurar em meus cabelos. — Pronta?

Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.Onde histórias criam vida. Descubra agora