Capítulo Vinte e Um

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Enquanto caminho pelo corredor, com Millicent ao meu lado, até o escritório do bar, sinto-me exatamente como na época do colegial, quando eu fazia algo errado, do tipo ingerir bebida alcóolica nas dependências da escola, e era levado até a sala do diretor. Foram inúmeras vezes, tantas que já nem me recordo direito. Mas a sensação de caminhar para algo ruim disso eu me lembro muito bem. A única diferença é que Ethan é meu irmão e que quando eu chegar a minha casa não serei punido por meu pai.

— Foi bom Ethan nos chamar. Há muitas coisas que quero dizer a ele — falo para Millie, ao abrir a porta do escritório e espiar lá dentro.

Meu irmão mais novo está em sua mesa, a cabeça abaixada, como sempre concentrado em algum papel importante. Entro com Millicent na sala e, ao nos ver, ele endurece a expressão. Ethan joga a caneta sobre a mesa e se inclina na cadeira para nos ver melhor.

Isso é ridículo. A cena toda é ridícula. Solto a mão de Millicent e vou até Ethan, minhas mãos apertadas na lateral do corpo; eu estou pronto para enfrentá-lo se assim ele quiser.

— Nada de briga, Savi. — Ele ergue a mão, parando-me. — Você percebe o quanto tudo isso é estranho e errado?

— Ethan, eu não vou...

— Eu não estou falando disso — interrompe-me ficando em minha frente. — Millie, você pode nos deixar sozinhos por alguns minutos?

Agarro o pulso de Millicent e olho furioso para Ethan.

— Ela fica — rosno furioso.

Meu irmão sorri desconcertado.

Millie se desvencilha de mim e, depois de um gesto de cabeça e um sorriso sutil, ela sai da sala, deixando-nos sozinhos. Meu coração se aperta quando a porta se fecha e vejo que ela se foi. É o inferno, mas sua presença me deixava mais seguro, e eu realmente queria que Millicent ouvisse tudo isso.

— Provavelmente você deve estar me achando o cara mau da história — Ethan começa ao dirigir-se para o sofá do outro lado da sala. Eu o sigo e sento ao seu lado. — Também deve ter pensado que eu o chamei aqui para dizer coisas ruins — acrescenta e eu não respondo, porque ele sabe que é verdade. — Sabe, Savi, nossa relação sempre foi difícil e parte disso é culpa minha.

— Do que você está falando? — pergunto, encarando-o sem entender.

Ethan encosta a cabeça ao sofá e respira fundo, seus olhos fixos em um ponto a sua frente.

— Eu sempre me senti como se fosse seu irmão maior, Savi. Mesmo na adolescência, quando eu estava descobrindo as coisas e você não estava lá para me ajudar — ele diz sem emoção, e isso me faz sentir um golpe no estômago. Sim, eu não estive lá para meu irmão. Estava muito bem, perdido em festas e mulheres. — Não o estou culpando de nada, eu só quero que entenda que naquele tempo comecei a imaginar que eu deveria ser mais responsável. Nosso pai dizia isso também e, de certa forma, eu acreditei.

O que ele está tentando me dizer?

— Eu fiz muitas coisas erradas, irmão — digo, sentindo-me muito mal por ter que admitir.

Ethan ri baixinho, desiludido.

— Nós dois fizemos, Savi. Sei que posso parecer um completo babaca nessas roupas, preso nesse escritório, mas também fiz coisas que gostaria de remediar, o que é impossível.

— Não é um babaca, Ethan — minha voz trava em minha garganta. Nunca diria isso a ele. Nunca. — Nossa mãe tem orgulho de você. E eu também — confesso inesperadamente.

Ethan me olha com o cenho franzido e então sorri novamente, envergonhado. Por um momento me recordo de quando éramos menores e ele era tímido com as garotas. Esse é meu irmão.

Dissoluto (livro 1) - Série The Underwood's.Onde histórias criam vida. Descubra agora