Barganha;

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A barganha é uma tentativa de adiamento, a pessoa se torna dócil e pacífica em troca de que esqueçam o que aconteceu. Em alguns casos, é capaz de fazer trocas para que lhe deixem em paz.

Uma semana havia se passado desde todos os acontecimentos do hospital, e agora depois de sete dias com tanta pessoas grudadas em seu pé como se ela fosse uma criança tudo que Manoela sentia era a mais profunda exaustão.

Mensagens, ligações, visitas.

Sempre tinha alguém ao seu lado não importasse o horário do dia, sempre teria uma pessoa dentro de seu quarto fazendo-a companhia como se ela fosse uma doente ou pior alguém que estava extremamente debilitado fisicamente. Manoela não estava debilitada, pelo menos não fisicamente.

Mesmo irritando-se com a constante falta de privacidade, Manu aceitava tudo e todos completamente quieta, sem reclamar ou estipular horários para o fim de tais visitas. O que estava funcionando, assim Catarina parava de perguntar a cada cinco minutos se ela estava bem.

Mas essa mudança repentina estava sendo estranhada por sua irmã, Manu podia ver nos olhos dela, a mais nova sempre lhe encarava procurando algo de errado.

E não tardaria em encontrar.

Bianca, Gizelly, Mari, Thelma e Rafa criaram um cronograma para que sempre uma das cinco estivesse no apartamento das irmãs Gavassi, o grupo de mulheres tinha até códigos secretos e um grupo de mensagens no celular para quem estivesse no apartamento sempre deixasse as outras informadas em tempo real do que estava acontecendo.

Manu achava aquilo um exagero, completamente fora da realidade, sabia que havia sumido por meses e causado uma grande preocupação para todas mas não era motivo para que manuseassem a cantora como se fosse uma granada que explodiria em qualquer movimento mais brusco.

Tentar fingir ao máximo que estava tudo como era antes se tornava cada vez mais cansativo, suas desculpas para chorar ou recusar comida estavam começando a se esgotar.

Estava deitada na cama, depois do turno de Thelma, a médica passou a manhã inteira tentando fazê-la levantar para tomar banho ou pelo menos escovar os dentes, mas Manoela continuava imóvel encarando a parede do quarto e sentindo as mãos da médica fazerem pequenas tranças em seu cabelo.

Poderia ter inventado algo para tirar Thelma do seu pé, mas não tinha vontade nem de abrir a boca, porém precisava fazer algo, Catarina estava chegando para o almoço e o próximo turno era o de Rafa, a médica já deveria ter contado sobre o episódio um tanto depressivo para as duas e não tardaria para que elas voltassem com a ideia de psicólogo.

Lutando contra a vontade de continuar na cama, levantou-se cambaleante e seguiu para o banheiro, seu corpo parecia no automático ao tirar a roupa e quando ligou o chuveiro na água fria ficou alguns segundos vendo a água escorrer até criar coragem o suficiente para entrar debaixo.

Notou que estava chorando, suas lágrimas se misturavam com a água fria sem muita dificuldade, mas nem ao menos sabia o motivo do choro, apenas deixou que as lágrimas lavassem sua alma da mesma maneira que a água lavava seu corpo esguio.

Só saiu quando sua boca começou a bater de frio e sua pele arrepiar, novamente entrando no modo automático vestiu-se e penteou o cabelo de qualquer jeito desmanchando as tranças que Thelma tinha dedicado tanta atenção.

Em outra ocasião teria se sentindo mal por desmanchar o penteado, mas não agora, não quando seu corpo parecia ter entrado em um estado de completa inércia. Desejou levar um soco para saber se doeria, ou se só ficaria encarando o agressor como agora encarava a parede.

Sentada na beirada da cama com os pés mal tocando o chão por conta de sua altura, as mãos apertava o edredom azul temático que Rafa havia comprado para que ela lembrasse do quarto céu e do quando se sentia bem lá.

Quarto Branco [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora