Quarto Branco [Ranu]

Cecília.

Te vi escapar das minhas mãos

A primeira coisa que Manoela sentiu foi o colchão macio embaixo do seu corpo, em seguida o lençol fino que a cobria, o tecido sequer impedia o frio de entrar em contato com sua pele fazendo com que a cantora se arrepiasse. Sua cabeça latejou antes mesmo de tentar abrir os olhos e Manu quase desistiu da ideia de abri-los, voltar a inconsciência era uma escolha tentadora.

Mas antes que conseguisse voltar a escuridão completa sentiu uma mão apertar a sua, e ouviu um fungado, a pessoa que segurava sua mão estava chorando, Manu não tinha dúvidas disso. Ter aquela informação fez com que a cantora ficasse receosa, não lembrava do que tinha acontecido antes de dormir, para ela estava apenas deitada em sua cama tirando um cochilo.

Mas porque alguém estaria chorando segurando sua mão?

Como se fossem flashes as memórias de Manoela voltaram, a tarde com as garotas, a ligação de seu pai e por fim sua crise após isso tudo, as lembranças repentinas fizeram Manu abrir os olhos assustada procurando alguém conhecido por perto, por sorte a pessoa que segurava sua mão era Catarina, a mais nova tinha o rosto inchado pelo choro e encarou a irmã aliviada.

— Finalmente! Eu já estava quase surtando. — Catarina exclamou puxando Manoela para um abraço apertado.

Enquanto ainda era abraçada por Catarina, Manu olhou em volta e percebeu que o ambiente em que estava passava longe de ser seu quarto. As paredes completamente brancas e sem vida no quarto mal iluminado davam uma aparência apática para o cômodo.

Seus olhos logo encontraram Mari e Gizelly cochilando uma em cima da outra em um pequeno sofá no canto do quarto. As expressões cansadas e os olhos inchados denunciavam que elas também haviam chorado como Catarina.

— Onde estamos? — perguntou afastando o corpo de Catarina do seu e percebendo o fio do soro que estava conectado em seu braço, a percepção só aumentou ainda mais a confusão transparente no rosto da cantora.

— Em um hospital. — Catarina respondeu vendo a irmã cutucar o acesso do soro no braço, a mais nova logo tratou de afastar a mão de Manoela dali. — Não mexe, criança!

— Por que estamos aqui? — perguntou novamente encolhendo os ombros com a repressão sofrida, ajeitou o corpo na cama e apontou para as duas amigas que ainda dormiam no canto do quarto. — Por que elas estão dormindo?

— Você não lembra? — foi a vez de Catarina perguntar, Manu apenas deu de ombros em resposta, esperando que a irmã lhe explicasse o que estavam fazendo ali. — Você desmaiou depois daquela... Crise.... Eu me desesperei e elas duas nos trouxeram pra cá.

— Quanto tempo eu dormir?

— Umas duas horas no máximo. — Catarina respondeu. — As duas horas mais longas da minha vida.

— Me desculpa? — Manu pediu analisando a expressão cansada da mais nova, Catarina respirou fundo deitando a cabeça no peito de Manoela e fechando os olhos.

— Eu é quem que devo pedir desculpa. — Catarina murmurou e Manoela deixou as mãos pousarem no rosto da mais nova fazendo um carinho reconfortante. — Eu me desesperei quando você caiu desmaiada em mim, se não fosse por elas acho que teria tido um ataque cardíaco.

— Você está bem agora? — Manu perguntou demonstrando tanto sua preocupação com a mais nova como também sua culpa por ter colocado a irmã  naquela situação.

— Me deram um calmante assim que cheguei, quiseram me colocar pra dormir mas eu fiz um escândalo. — respondeu fazendo Manu rir baixo. — Até parece que eu ia deixar alguém me dopar sem eu saber o que aconteceu com você.