Quando Gina Rivera e Jonas Flyn entraram na Lowen's, Alice abaixou a aba do seu boné para que eles não percebessem o quão corada ela ficou. Os dois a viram, lógico, ela trabalha no caixa.
- Podemos conversar? - Jonas indaga batucando a esteira à direita.
- Não posso ficar conversando. - Disse Alice meio grossa. - Vão ter que esperar, se quiserem.
Para a surpresa dela, os dois jovens sentaram em uma mesa perto da janela com a faixada da lanchonete. Jonas ficou no celular enquanto Gina desenhava em seu caderno e assim ficaram até que Alice terminasse de atender a maioria dos alunos - Que também falaram com os dois que estavam sentados.
Alice fez tudo o mais rápido que pôde, mas sua cabeça ainda rodava em duas coisas muito sérias: seu pai e Taylor. Três, se ela considerasse que está com um casaco de alguém que nem conhece. O cheiro lhe era familiar, mas era apenas isso.
Às 16:32, Alice estava livre do trabalho.
Sagan a ajudou. E também sentou-se à mesa junto os três não-amigos. Todos se encaram por um longo momento constrangedor porque se todos pensassem, nenhum deles tinha algo em comum a não ser aquela fatídica noite naquele dormitório. Jonas gostava de tênis, mas odiava o treinador e sentia-se uma farsa a maior parte do tempo. Gina gosta de moda, sempre anda bem vestida e faz sucesso em seu canal no YouTube apesar do bullying que sofre por consequência dos seus pais que ainda não mandaram nenhuma notícia. Alice era atlética, quase não se sentava e tem conhecimento (mais do que gostaria) sobre viciados e até os dez anos acreditou que toda sua vida teria uma reviravolta digna de um livro de contos-de-fadas, mas ela não imaginou que seria o oposto. Sagan sempre teve que trabalhar duro por tudo, sempre foi inseguro: sua sexualidade, sua decisão de estudar e trabalhar, sustentar um relacionamento, etc.
Eles não tinham nada em comum.
A não ser o nome que pairava em suas testas.
- Estão investigando tudo. - Gina comenta de repente.
Todos já sabiam disso.
- Tabita não se lembra de nada. - Jonas comenta em outro momento.
- A diretora - Começa Sagan, olhando para os lados. - Ela disse que se alguém soubesse de alguma coisa poderíamos contar.
- E o que sabemos?
- Que ele iria fumar no telhado! Já não é alguma coisa?
Gina olha para Sagan como se nunca o tivesse visto. A mente de Alice procurava acompanhar a conversa, mas a sensação de estar sendo observada a incomodava e não deixava sua perna parar quieta por debaixo da mesa.
- Sabíamos que ele iria fumar no telhado, certo - Gina começa franzindo a testa e sussurrando - Mas só a gente diria isso e em que local ele morreu? Isso mesmo garçom, no telhado. Seriamos suspeitos.
Todos se calaram.
Havia uma raiva fria na voz da moça que nenhum deles fazia ideia do porque seria. Ou talvez fizessem, só não queria tocar na ferida.
Os quatro tomaram um susto ao ouvir um de seus telefones tocarem. Era o de Alice.
- Tenho que sair para atender. - Disse e saiu apressadamente da mesa.
Quando saio foi para o beco ao lado do trabalho, o beco tinha sacos de lixos que fediam a peixe podre e leite azedo, estava se acumulando e subindo nas paredes acinzentadas. Alice atendeu a ligação do seu pai.
- Pai!
Seu pai deu uma resposta grogue. Parecia-se com um rugido ou um espirro travado.
- Você está melhor? Carly contou o que aconteceu? Eu achei...
- Carly é uma fofoqueira. - Ele responde. Depois espirra. - Eu... Filha... Alice... Foi só uma...
- Você prometeu.
As lágrimas já ameaçavam abandonar seus olhos, como sempre acontecia quando falava com seu pai e ele estava com o que ela chamava de Voz de Monstro. Voz de Monstro, ela sabia, só acontecia quando seu pai tinha uma recaída para a heroína novamente, e depois melhorava e falava com uma voz normal, a voz que ela amava e podiam fazer piadas. Alice sabia que o processo para se livrar de uma droga do organismo era demorada e destrutiva, como câncer. Mas ela já não aguentava mais tanto.
- Quer... Uma piada? Ei... Carly não é o que eu falei... Ela é legal.
- Estou trabalhando. - A moça o cortou. - Mais tarde, eu prometo ligar.
- Estarei esperando.
A ligação termina.
Alice limpa suas lágrimas com a palma da mão depois de guardar o telefone no bolso. Olhou pela janela e viu aquele estranho grupo sentado, ela pensou em voltar para lá, mas o viu.
O mesmo garoto que lhe viu chorar e xingar em uma sala que ela supos estar vazia e agora a mente de Alice lembrava. O casaco, a pessoa que a amparou para logo depois evaporar. Foi ele. Ela o viu se aproximar e deu passos na direção dele também, mas apenas o garoto estava sorrindo.
- Tudo bem? - Pergunta.
- Você me deixou com o casaco.
- Ah! Eu sei. Era apenas para você... Vir falar comigo depois, mas você nem me olhou então pensei que não se lembrava e não sei qual era o meu plano, acho que só chegaria aqui e diria que o casaco estranho era meu e que ele foi lavado. Não se preocupe.
Alice permitiu-se sorrir. Saulo tinha covinhas fundas nas bochechas.
- Você é amiga de Jonas Flyn? - Saulo pergunta olhando pela janela.
- Não. Definitivamente não. Apenas... Estamos estudando. Ele e Sagan, o garoto que trabalha comigo, estão com algumas dúvidas. Gina é uma amiga. Um pouco.
Saulo não parava de sorrir para Alice. O sorriso dele contagiava, era brilhante, era puro apesar de nenhuma razão óbvia para a garota.
- Podem me incluir em seu grupo de estudos... Quem sabe, depois?
- Ah? Ah! Claro, depois, sim.
- Espero que goste de casacos com manchas de tintas. É a última moda.
O garoto foi embora sem deixar Alice responder. Seu celular apitou.
"Chegamos a uma conclusão" - Gina.
Bufando, Alice girou seus calcanhares e entrou de novo no estabelecimento e foi em direção ao grupo.
- Vamos contar amanhã, após a aula. A diretora vai estar na sala dela com certeza.
- Certo. Quem vai contar?
Silêncio.
- Todos. - Jonas diz. - Acho melhor.
Ninguém se opôs.
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The Perfectionists
General FictionUm assassinato foi cometido. Alguém com o codinome de Professor, sabe de tudo. Quatro jovens precisam descobrir o que aconteceu naquela noite se quiserem ter suas vidas em liberdade, sendo que não sabem ao certo o preço disso.