Alice No País das Armadilhas

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Alice Sloan entregou o casaco a Saulo e o garoto, como sempre, sorriu. 

- Vai fazer o quê depois? - Ele pergunta a ela depois de guardar o casaco (que estava lavado) na bolsa. 

- Nada. 

- Podemos andar de bicicleta. Já foi ao píer? 

- Hãã...

É claro que ela já havia ido. William Laerce deu uma festa lá, muito dos alunos foram, houve cerveja e drogas, as meninas nadaram sem roupa e logo depois os meninos tiraram as sungas para se juntarem a ela, mas Alice só soube disso, no dia seguinte, pois saiu da festa assim que lhe ofereceram drogas. O coração dela bateu acelerado pela pergunta tão descarada do garoto que com clareza, queria deixá-la chapada. Alice correu para o dormitório e aproveitou que Anne não estava lá e ligou para o pai, mas Carly a tranquilizou e disse que ele já dormia. O que não era totalmente verdade, mas Alice não saberia disso, pois estava a mais de cinquenta quilômetros de distância da casa do pai. 

- Não. - Mentiu a menina. - Não fui ainda. 

- Então está marcado... Você... Tem alguma coisa com aquele garoto que trabalha com você?

- Ele é gay. 

Saulo coçou a nuca, encabulado. Alice gostava de ver ele ajeitando o cabelo que parecia ser mais macio do que pelo olhar. Ela queria tocar e deixar seus dedos tocarem o couro cabeludo, queria fazer transas ou puxar, cheirar também. Mas ela não sabia em qual ordem necessariamente. 

- Posso passar no seu quarto?

- Não, acho melhor eu ir sozinha. Minha colega de quarto, Anne, vai ficar me perturbando se você aparecer lá. Eu vou. 

- Então tá. 

Em um misto de ousadia, Saulo aproximou seus lábios da bochecha rosada de Alice e deixou ali um beijo firme e molhado. A garota não quis limpar quando ele partiu. 

Ela começou a andar pelo campus, de longe viu Dana Booker conversando com outros alunos. Ela estava usando o mesmo sobretudo, estava com o mesmo bloco de anotações e a mesma cor de batom que usou quando interrogou ela. Mas Alice não havia dito que desejou Taylor morto, nem que o xingou horas antes. Parecia suspeito demais, ela engoliu a verdade a todo custo e deixou um peso em seu estômago. Alice andou por entre as árvores e saiu do outro lado do campus, longe do prédio onde tinha acabado de ter aula de geografia, onde ficou encarando uma cadeira vazia que outrora era de Taylor. Ela sentiu uma sensação esquisita naquela aula: não havia tumulto, não havia piadas sem graças de Taylor e um vazio silencioso ocupou tudo, só era cortado com a voz do professor de vez e quando.  

Alice sentou-se perto de uma árvore. Pensou em abrir um livro para conseguir distrair sua mente, que não só pensava em Taylor MacKenzie como em Saulo. Ela não fazia ideia do que esperar do futuro passeio, que, minutos depois, pensou que não conhecia tão bem assim. Saulo a viu chorar e falar palavrões, a viu quase desmaiar e entregou um casaco surrado com cheiro de tinta a ela. Fora isso, seus encontros não resultaram em nada menos que um acenar de cabeça discreto. 

O celular dela apitou no bolso esquerdo; Alice ignorou e abriu seu livro, ela não queria ler nenhuma mensagem de Anne agora. 

Naquele entardecer dourado

O rio descemos

No barco desequilibrado,

Vão frouxos os remos.

A ternura é de mais... mas cuidado:

A direção é de menos.

Ah! Três cruéis, naquela hora

The PerfectionistsOnde histórias criam vida. Descubra agora